NÚCLEO 2 DO GOLPE

VÍDEO – Advogado compara Filipe Martins a Jesus Cristo em julgamento no STF: "Crucificação"

Sebastião Coelho, que chegou a ser preso por desacato durante sessão do STF que tornou Bolsonaro réu, apelou para a religião durante sustentação oral na Primeira Turma

O advogado Sebastião Coelho em julgamento no STF e Filipe Martins em audiência de custódia.Créditos: Antonio Augusto/STF/Reprodução
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O desembargador aposentado Sebastião Coelho da Silva, advogado de Filipe Martins, ex-assessor de Assuntos Internacionais de Jair Bolsonaro, apelou para a religião durante julgamento realizado nesta terça-feira (22) pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) das denúncias contra os integrantes do "Núcleo 2" da trama golpista e chegou a comparar seu cliente a Jesus Cristo

Filipe Martins foi preso preventivamente em 8 de fevereiro de 2024 durante a Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal. Ele é acusado de integrar o grupo responsável por operacionalizar a tentativa de golpe e, segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), foi o responsável por elaborar a chamada "minuta do golpe", documento que previa medidas para reverter o resultado das urnas e manter Bolsonaro no poder, e apresentar a minuta ao ex-presidente. 

Após quase seis meses detido, o ex-assessor foi colocado em prisão domiciliar em agosto de 2024, por decisão do ministro Alexandre de Moraes. Entre as restrições impostas estão o uso de tornozeleira eletrônica, proibição de usar redes sociais e de manter contato com outros investigados.

Durante o julgamento desta terça-feira, que definirá se Martins se torna ou não réu por participação na trama golpista, o advogado Sebastião Coelho procurou desqualificar a delação do tenente-coronel Mauro Cid, que baseou parte das investigações sobre a tentativa de golpe. 

Em dado momento, comparou Filipe Martins ao diplomata Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores, atual assessor para Assuntos Internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um dos nomes mais respeitados da diplomacia mundial. 

"Filipe Martins é um garoto brilhante, que aos 31 anos de idade exercia o cargo de assessor internacional do presidente, o mesmo cargo que hoje é exercido pelo ministro Celso Amorim, de 82 anos, dada sua capacidade, seu grande conhecimento", declarou Sebastião Coelho. 

Na sequência, Coelho foi além e comparou Filipe Martins a Jesus Cristo, apelando para a religião com o intuito de livrar seu cliente de uma eventual condenação. 

"Nós tivemos neste fim de semana a celebração da Páscoa. Filipe Martins aguarda que esse tribunal dê ouvidos à sua defesa. Aquele processo de crucificação que Jesus sofreu, Filipe Martins está sofrendo desde 8 de fevereiro de 2024, mas ele tem que acabar hoje", disparou. 

Assista ao trecho: 

Sebastião Coelho ainda pregou a "paz" ao argumentar que "não importam como as guerras começam, mas chega uma hora que elas têm que acabar". "Senão, não há vencidos e nem vencedores", disse. 

Ao final de sua sustentação oral, o advogado ainda prestou "homenagens" a Jair Bolsonaro e aos ex-ministros Walter Braga Netto e Anderson Torres – todos réus por tentativa de golpe que, segundo as investigações, integrariam o "Núcleo 1" da trama golpista. 

Assista ao julgamento ao vivo: 

Quem é Sebastião Coelho

Sebastião Coelho da Silva, detido por desacato a ministros do STF durante o julgamento da denúncia contra o "Núcleo 1" da tentativa de golpe na Primeira Turma do STF, é um advogado e desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), conhecido por seu alinhamento com o bolsonarismo e por seus ataques ao Supremo. 

Ele ingressou na magistratura em 1991, atuando em varas criminais e na Auditoria Militar do DF antes de se tornar desembargador em 2013.

Em novembro de 2022, já aposentado, participou de protestos golpistas em frente ao QG do Exército, onde defendeu a prisão do ministro Alexandre de Moraes e chegou a pedir intervenção militar: "Resta ao presidente da República convocar as Forças Armadas para prender Alexandre de Moraes".

Ele é investigado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) desde 2024 por suposto financiamento dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.

Coelho ainda ficou conhecido por defender Aécio Lúcio Costa Pereira, primeiro réu julgado pelo STF por envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Entenda o julgamento do "Núcleo 2" do golpe

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) inicia, nesta terça-feira (22), o julgamento da denúncia do chamado "Núcleo 2" da tentativa de golpe de Estado deflagrada no país entre o final de 2022 e início de 2023 que visava impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e manter Jair Bolsonaro no poder. 

Em março, o colegiado da Corte já havia aceitado a denúncia contra o "Núcleo 1", composto por Bolsonaro e mais 7 pessoas, entre elas quatro ministros. Todos eles tornaram-se réus. Agora, os ministros da Primeira Turma analisarão a denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra um grupo acusado de dar apoio jurídico e operacional à tentativa de golpe. 

Segundo o Procurador-Geral da República Paulo Gonet, os membros do "Núcleo 2" tinham "posições profissionais relevantes" e "gerenciaram as ações elaboradas pela organização".

Fazem parte do grupo, por exemplo, o general da reserva Mario Fernandes, acusado de envolvimento em um plano para assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do inquérito do golpe. Fernandes está preso preventivamente desde novembro de 2024 e, sob sua posse, a Polícia Federal (PF) encontrou a minuta do “Plano Punhal Verde e Amarelo”, no qual estava previsto o assassinato nas autoridades. 

Outro membro do "Núcleo 2", cuja denúncia será analisada pela Primeira Turma do STF, é Filipe Martins, ex-assessor para assuntos internacionais de Bolsonaro que, segundo a PGR, "apresentou e sustentou" a chamada "minuta do golpe", o "projeto de decreto que implementaria medidas excepcionais no país". O texto do documento, de acordo com Paulo Gonet, teria sofrido alterações a pedido de Bolsonaro, sendo depois apresentado aos comandantes das Forças Armadas. 

Quem são os membros do "Núcleo 2" do golpe

  • Fernando de Sousa Oliveira, delegado da Polícia Federal (PF) e ex-secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF)
  • Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva e ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro;
  • Filipe Garcia Martins Pereira, ex-assessor especial de Assuntos Internacionais de Bolsonaro;
  • Marília Ferreira de Alencar, ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça na gestão de Anderson Torres;
  • Mário Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência, general da reserva e homem de confiança de Bolsonaro;
  • Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Como será o julgamento 

A Primeira Turma do STF reservou 3 sessões para julgar as denúncias da PGR contra os 6 integrantes do chamado "núcleo 2" da tentativa de golpe. A primeira terá início nesta terça-feira (22) às 9h30 e será aberta pelo presidente do colegiado, ministro Cristiano Zanin. 

Na sequência, o ministro relator do caso, Alexandre de Moraes, fará a leitura de seu relatório sobre a investigação. O PGR Paulo Gonet, então, apresentará seus argumentos relacionados às denúncias e os advogados dos acusados, na sequência, farão suas sustentações orais. 

Por fim, os ministros da Primeira Turma votam se aceitam ou não as denúncias da PGR contra os acusados, sendo o primeiro a votar o relator Alexandre de Moraes. Compõem a Primeira Turma, além de Moraes, os ministros Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, que preside o colegiado. 

Caso as denúncias sejam aceitas, os acusados tornam-se oficialmente réus e passam a responder a uma ação penal, que culminará em um julgamento do STF que decidirá se eles são culpados ou inocentes na participação da trama golpistas. 

Os crimes atribuídos aos acusados

  • Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  • Golpe de Estado;
  • Organização criminosa;
  • Dano qualificado;
  • Deterioração de patrimônio tombado.

Caso condenados, os acusados podem pegar até 36 anos de prisão

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