JUSTIÇA

Sete anos após assassinato de Marielle, acusados são presos e caso segue sem desfecho

PF apontou irmãos Brazão como mandantes do crime, mas ambos seguem sem julgamento e mantêm seus cargos

Sete anos após assassinato de Marielle, acusados são presos, mas caso segue sem desfecho.Créditos: Flickr Marcelo Freixo
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Sete anos após o assassinato de Marielle e Anderson, os acusados estão presos, mas caso segue sem desfecho. O assassinato brutal contra a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes completa sete anos nesta sexta-feira (14), com a investigação "concluída". 

Enquanto os executores Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz confessaram o crime e já foram condenados, os mandantes – os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa – seguem promovendo uma campanha pública para contestar as acusações que os mantêm presos há quase um ano.

Segundo a Procuradoria-Geral da República, Domingos e Chiquinho Brazão decidiram executar a vereadora para impedir que ela continuasse atrapalhando os interesses da família em esquemas de grilagem de terras.

O crime teria sido o desfecho de conflitos entre os Brazão e membros do PSOL. Antes do assassinato, Rivaldo Barbosa teria sido consultado e recomendado que o homicídio não ocorresse em trajetos ligados à Câmara Municipal. A Polícia Federal identificou os irmãos Brazão como mandantes do crime, porém, ambos ainda não foram julgados e continuam exercendo seus cargos na Câmara dos Deputados e no Tribunal de Contas.

Quem mandou matar Marielle Franco? E por quê? Pela primeira vez desde 2018, essas perguntas começam a ser respondidas – mas o caso ainda não está totalmente encerrado. Nesta sexta (14), Mônica Benício, viúva de Marielle, convocou um protesto no Buraco do Lume, no Centro do Rio, com as companheiras e companheiros que construíam o PSOL junto com Marielle. 

“Um crime que ainda não foi totalmente elucidado e que precisa de justiça sendo feita, com a devida responsabilização dos mandantes. Defenderemos sempre seu legado. Honraremos sempre sua memória”, disse a parlamentar.

A ministra e irmã da vereadora assassinada, Anielle Franco, afirmou que "nenhuma gota do sangue de Marielle será em vão". Para marcar a data, ela participa hoje de atos no Rio de Janeiro, incluindo uma missa e uma caminhada no centro da cidade. A família também organiza, por meio do Instituto Marielle Franco, o Festival Justiça por Marielle e Anderson, que acontece no fim da tarde na Praça da Pira Olímpica.

Uma sessão solene em homenagem à Marielle aconteceu no Congresso nesta quinta (13). “Nossa democracia precisa, cada vez mais de mobilização em sua defesa. Num lugar onde tanto se fala de “anistia”, nós reafirmamos a importância da JUSTIÇA. Por Marielle, por Anderson, por cada defensora e defensor de direitos humanos. Por cada pessoa que defendeu e defende a democracia brasileira”, declarou a vereadora Mônica Benício.

“Perdemos uma grande líder, uma mulher que poderia estar aqui hoje à frente de um partido, como eu estou, aqui no Congresso Nacional, no centro da política brasileira, que sem dúvidas estaria aqui, estaria no Senado, nos representando em muitos lugares, na presidência da República, um dia”, destacou Taliria Petrone, líder do PSol da Câmara.

Legado de Marielle

Marinete Silva, mãe de Marielle e a advogada e integrante da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio de Janeiro, destacou em entrevista à Fórum que Marielle se tornou uma referência dentro da política, estimulando a participação de mais mulheres, especialmente as mulheres negras.

"No ano em que a Marielle ganhou as eleições, ela fez um seminário, Mais Mulheres na Política, aqui no Rio de Janeiro, que marcou toda a história política das mulheres. Então, ela hoje é seta, é referência, é história, tem sido semente no Brasil inteiro, com mais mulheres aderindo a esse processo", aponta. "Cada vez mais a gente vê mulheres aderindo a esse processo político-partidário, que é importante, e não só partidário, acho que em todos os lugares."

Sobre o cenário dos direitos humanos no Brasil, a advogada e integrante da Comissão dos Direitos Humanos da OAB falou sobre a importância do julgamento, que será retomado em 26 de março no Supremo Tribunal Federal (STF), da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como ADPF das Favelas, considerada fundamental para frear a letalidade policial no Rio de Janeiro.

LEIA MAIS: Marielle é 'semente no Brasil inteiro' para mais mulheres na política, diz mãe da vereadora

"A ADPF é descumprida constantemente. Por isso que nós estamos a defendendo; eu estive na primeira defesa [no julgamento do STF], não na segunda, mas estive na primeira em novembro, e vimos o quanto se tem lutado para que isso mude, para que as autoridades tenham em mente que a vida do outro é tão significativa como a sua", pontua. "Dezenas de crianças com as vidas ceifadas injustamente, ou mesmo sem ter o direito de ir e vir dentro dos seus municípios, dos seus territórios, o que é fundamental, parando as aulas, os postos de saúde, enfim, parando a vida das pessoas que constroem esse país."

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