Faltavam alguns minutos para as 6h desta quarta-feira (12) quando uma pequena explosão, semelhante à de uma bombinha de festa junina, ocorreu numa das plataformas do Terminal Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. Pouco antes, por volta das 5h30, um homem deixou duas sacolas no chão e saiu do local. Com a pífia explosão, os operadores da empresa que administra o terminal acionaram a PM, já que o outro pacote permanecia intacto lá.
Começa então uma cena digna de filme. Policiais Militares do esquadrão antibombas do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais) chegam ao ponto onde estavam as sacolas e, devidamente paramentados com roupas e equipamentos blindados, desmontam a “bomba”. Tratava-se de um explosivo caseiro inexpressivo, de baixíssima potência, junto a um maço de panfletos onde se lia uma mensagem “de teor político”, assinada pelo “P.C.B. (Partido Comunista do Brasil)”.
Antes de qualquer coisa, PCB é a sigla do “Partido Comunista Brasileiro”, uma agremiação oficial que não tem nem um parlamentar eleito no Brasil, ao passo que “Partido Comunista do Brasil”, uma outra legenda, essa sim com mais representação e candidatos eleitos, atende pela sigla PCdoB. Ou seja, quem escreveu aquilo não tem qualquer relação com nenhum dos dois partidos, porque jamais cometeria o erro primário de se embananar com a própria sigla ou nome da entidade política à qual é filiado.
É preciso salientar que o rocambolesco “atentado”, numa área destinada à integração do transporte público e com grande circulação de trabalhadores, ocorreu a apenas quatro dias de uma tão esperada e divulgada manifestação da extrema direita bolsonarista, que pretender marchar com seus seguidores em nível nacional. As franjas ultrarreacionárias que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estão inflamadas nos últimos dias por conta do evento, no qual pedirão anistia aos golpistas do 8 de Janeiro de 2023 e também liberdade e elegibilidade para o líder máximo da facção, que está inelegível por oito anos, por decisão do TSE, e prestes a ser condenado no STF por uma tentativa de golpe de Estado, o que o colocará atrás das grades. Os gritos contra o comunismo imaginário, sempre entoados, certamente não faltarão e um “ataque terrorista” dos comunistas imaginários cairia como uma luva na já incandescente expectativa para o “16/3”.
Algumas outras atitudes colaboram ainda mais para se desconfiar de uma operação chamada no jargão militar de “false flag”, ou seja, de “bandeira falsa”, que tem por finalidade culpar algum grupo rival. O local escolhido, um terminal de ônibus, onde a maioria dos usuários é de trabalhadores e gente mais humilde, jamais seria usado por qualquer grupo de “extrema esquerda” que supostamente advoga em nome do Marxismo.
As expressões “Morte aos Fascistas”, “Guerra Popular” e “Revolução Democrática” não são parte do vocabulário de partidos como o PCdoB e o PCB, o que as faz parecer saídas de um esquete cômico teatral em que a intenção é reproduzir algo caricato. Para piorar, historicamente o martelo usado na imagem que representa a classe trabalhadora, junto com uma foice, é uma ferramenta usada pelos ferreiros, bem diferente do martelo aparentemente de borracheiro usado pelo autor do “manifesto” que saiu voando pelos ares no “atentado”.
Nas redes sociais, a esmagadora maioria dos internautas saiu fazendo piada com o ocorrido e procurou comparar o fato à mais conhecida operação “false flag” da História do Brasil: o atentado do Riocentro, em abril de 1981. Na ocasião, militares do Exército Brasileiro tentaram forjar um “ataque terrorista de esquerda” explodindo um carro na saída de um grande evento musical, no Rio de Janeiro. O problema é que, por um erro, a bomba detonou com os oficiais ainda dentro do automóvel, matando um deles e ferindo o outro. O que era para ser uma ação espetacular para colocar a culpa na esquerda, e jogá-la em desgraça na opinião pública, acabou se convertendo num dos maiores fiascos da história das Forças Armadas, reforçando ainda mais a pecha “burros” e “incompetentes” dos fardados do período da Ditadura Militar (1964-1985).