Um dia após o primeiro turno das eleições de 2022, a Polícia Federal (PF), sob gestão de Jair Bolsonaro (PL), pediu acesso ao prontuário de avaliação da saúde mental de Adélio Bispo, autor da facada ao ex-presidente em 2018.
O pedido de acesso partiu de uma delegacia de Cascavel, no Paraná, no dia 3 de outubro. A solicitação, porém, foi negada pelo juiz responsável pela análise em Campo Grande (MS), onde Adélio está preso há mais de quatro anos. O juiz argumentou, ao negar o pedido um dia depois da solicitação, que o delegado não apresentou justificativas contundentes. As informações foram divulgadas pelo Metrópoles.
Além disso, ele afirmou que o documento não apresentava informações que poderiam ser “pertinentes” sobre um possível envolvimento de terceiros ou o financiamento do crime cometido por Adélio.
A Justiça chegou a notificar o delegado de Cascavel para apresentar de forma “concreta e específica” o motivo do interesse no laudo, que está sob sigilo. O investigador, porém, não respondeu.
Os relatórios concluídos pela PF apontam que Adélio agiu sozinho, apesar do vínculo de seu advogado com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Adélio agiu sozinho e advogado é alvo de ação por ligação com PCC
Após diversas tentativas de Jair Bolsonaro (PL) de direcionar as investigações, a Polícia Federal (PF) concluiu o mais recente inquérito sobre a facada no ex-presidente durante a campanha em 2018 e reiterou que Adélio Bispo dos Santos, autor do atentado, agiu sozinho. A informação foi divulgada pelo diretor da PF, Andrei Rodrigues, em junho de 2024.
"Adélio agiu sozinho é a conclusão do inquérito", afirmou. "Após retomada de investigações para identificar possíveis envolvidos no atentado contra o então candidato à Presidência da República Jair Messias Bolsonaro em 2018, a Polícia Federal concluiu que houve apenas um responsável pelo ataque, já condenado e preso", reiterou a PF em nota.
No entanto, Rodrigues afirmou que agentes da PF realizam um operação na manhã desta terça contra o advogado Fernando Costa Oliveira Magalhães, que integreou a defesa de Adélio, por ligação com o Primeiro Comando da Capital, o PCC.
"O advogado é ligado ao crime organizado. Mas [não há] nenhuma vinculação desse advogado com a tentativa de assassinato do ex-presidente. Nós informamos ao Judiciário, sugerindo o arquivamento dessa parte do inquérito", disse Andrei.
Na nota, a PF diz que "durante as diligências, foram cumpridos mandados de busca e apreensão para nova análise de equipamentos eletrônicos e documentos".
"Outros possíveis delitos foram descobertos, relacionados a um dos advogados de defesa do envolvido no ataque, mas sem qualquer ligação com os fatos investigados", ressalta a corporação.
Com o fim das investigações, a PF vai pedir o arquivamento do inquérito, já que Adélio está internado no presídio federal de Campo Grande desde 2018.
"O relatório final foi apresentado, atendendo a novas solicitações do Ministério Público Federal, e agora aguarda a manifestação do Juízo. A Polícia Federal manifestou-se pelo arquivamento do Inquérito Policial", diz a PF.
PCC
Dois inquéritos já haviam revelado que Adélio agiu sozinho e que ele não tem pleno domínio das faculdades mentais.
No novo inquérito, aberto após insistência de Bolsonaro, a Diretoria de Inteligência (DIP) da PF constatou por repetidos laudos psiquiátricos a insanidade mental de Adélio.
Responsável pelo inquérito, o delegado Martin Bottaro é um dos principais especialistas em PCC da Polícia Federal e identificou os indícios que apontam pagamentos da facção criminosa a Oliveira Magalhães.
Entre eles, há o pagamento fracionado de $ 315 mil realizados em 2020, dois anos após a facada, por pessoas supostamente ligadas ao PCC para uma empresa no nome Magalhães. O registro foi obtido por meio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf.