MINISTÉRIO PÚBLICO

Delegado-chefe de Tarcísio deu palestra em empresa investigada por lavar dinheiro do PCC

SSP diz que presença na fintech 2GO Bank foi para "compartilhar experiências da Polícia Civil no combate aos delitos virtuais”

Delegado-geral de Tarcísio em evento da 2GO Bank.Créditos: Reprodução Youtube /@sdaeventos
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A fintech 2GO Bank, investigada por suspeita de envolvimento em lavagem de dinheiro do crime organizado, promoveu em outubro de 2023 um evento sobre segurança cibernética que teve como palestrante o delegado-geral do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), Artur Dian. A programação também teve a participação do delegado Carlos Afonso, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), e do promotor Richard Encinas

A empresa é alvo de uma operação do Ministério Público Federal (MPF). Registros mostram que o evento foi realizado em um hotel de luxo em São Paulo e teve como anfitrião Cyllas Elia, dono da 2GO Bank e ex-delegado do Deic, preso na operação desta terça-feira. Segundo promotores do Gaeco, ele teria fornecido serviços financeiros para encobrir a origem ilícita de dinheiro e bens ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A Polícia Federal também integra as investigações.

Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em dez endereços nas cidades de São Paulo, Santo André e São Bernardo do Campo. A Secretaria da Segurança Pública informou que os delegados presentes no evento participaram para "compartilhar as experiências da Polícia Civil de São Paulo no combate aos crimes cometidos no ambiente digital". 

Segundo a pasta, o encontro reuniu diversas autoridades do setor, como gestores de compliance, policiais e membros do Ministério Público. Já o MP afirmou que a participação do promotor Richard Encinas foi de caráter institucional e que, na época, não havia qualquer indício de irregularidade envolvendo a empresa patrocinadora. "A participação ocorreu de forma gratuita e sem qualquer subvenção ou ajuda", esclareceu o órgão. Até o momento, as empresas 2GO Bank e Invbank não se manifestaram publicamente sobre o caso.

A operação realizada nesta terça-feira decorre das investigações que tiveram início a partir da delação de Antônio Vinicius Gritzbach ao Ministério Público. Gritzbach foi morto a tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em novembro de 2024. Segundo o Gaeco, a fintech 2GO teria sido responsável por lavar aproximadamente R$ 6 bilhões, movimentando recursos no Brasil e no exterior através da compra e venda de imóveis. 

O esquema funcionava com as fintechs depositando valores oriundos do PCC em contas de laranjas, que eram posteriormente utilizados na aquisição de imóveis para disfarçar a origem ilícita do dinheiro. Além da 2GO, a Invbank também está sob investigação por ter recebido R$ 11 milhões de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, considerado uma das lideranças do PCC. Em sua delação, Gritzbach apresentou documentos que indicavam que Cara Preta era sócio oculto da Invbank e mantinha uma parceria com a fintech voltada especificamente para operações imobiliárias, com o objetivo de lavar dinheiro. Cara Preta foi assassinado em 2021, e Gritzbach chegou a ser apontado como mandante do crime, algo que ele negava.

Tarcísio tentou associar Boulos ao PCC

Uma declaração foi feita pelo então candidato Tarcísio Gomes de Freitas no dia 27 de outubro sobre um suposto "salve" da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).  Tarcísio apareceu ao lado de Nunes, seu aliado, afirmando que integrantes do PCC teriam orientado familiares a “votarem” em Boulos.  A declaração foi dada a jornalistas no colégio Miguel Cervantes, na zona sul, no local onde Tarcísio vota. E não foi desmentida pela mídia tradicional.

Tratou-se de uma clara tentativa de intervenção do governador, em pleno exercício do seu cargo, de interferir no processo eleitoral. Tarcísio comentou sobre um comunicado emitido pela Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo, que teria interceptado mensagens de membros do PCC orientando votos em algumas cidades do estado.

"A gente vem alertando isso há muito tempo. Nós fizemos um trabalho grande de inteligência, temos trocado informações com o Tribunal Regional Eleitoral para que providências sejam tomadas", disse à época. Perguntado sobre qual era o candidato no qual o PCC estaria orientando voto, ele respondeu: "Boulos”.

Boulos classificou a declaração de Tarcísio como "inacreditável" e "extremamente grave", ressaltando que o governador não apresentou qualquer tipo de prova e que ventilou o assunto em uma tentativa de interferir nos resultados da votação que ocorreu à época.

"É inacreditável, uma declaração extremamente grave, sem nenhum tipo de prova. Olha o nível! Eles devem estar fazendo pesquisas que devem estar mostrando a onda de mudança, a onda de virada, e partiram pro desespero absoluto. É inacreditável o que está acontecendo para tentar influenciar as eleições, tentar botar medo nas pessoas", declarou o candidato do PSOL.

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