Jair Bolsonaro se desesperou com uma declaração feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quinta-feira (20), em entrevista à Rádio Tupi.
Questionado sobre a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, Lula defendeu o direito à presunção de inocência, mas disse que, se for provado que o ex-mandatário teve envolvimento com a trama golpista, a "única saída" para ele será a prisão.
Em outro momento na mesma entrevista, Lula expôs Bolsonaro a humilhação ao afirmar que o ex-presidente se acovardou em seu plano de dar um golpe de Estado.
"Quando o ex-presidente fica pedindo anistia, ele está provando que é culpado, que cometeu crime (...) Ou seja, ele está dizendo: 'gente, eu sou culpado, eu tentei bolar um plano para matar o Lula, tentei bolar um plano para matar o Alckmin, tentei bolar um plano para matar o Alexandre de Moraes e não deu certo porque tive uma diarreia no dia e fiquei com medo, e tive que voar antecipadamente para os EUA pois tava com medo de ficar para a posse do meu adversário'", ironizou Lula.
Minutos depois da declaração de Lula, Bolsonaro fez uma publicação no X (antigo Twitter) demonstrando desespero. O ex-mandário cita nominalmente o presidente e sugere que ele teria algum tipo de envolvimento com a denúncia apresentada pela PGR. O extremista chega a afirmar que "Lula está nas cordas" – sendo que, na verdade, é ele próprio quem corre o risco de ser preso e está inelegível.
"Toda vez que Lula está nas cordas (sem picanha, sem cervejinha, sem chicória, sem café, sem ovos, monitoramento do Pix, escândalos com ministros, gastos estratosféricos sem responsabilidade e o povo pagando aumentos exorbitantes de impostos sem o mínimo retorno), coincidentemente muitas coisas acontecem, sempre mirando o outro lado!", escreveu Bolsonaro após ser humilhado.
Lula: pedir anistia é confissão de culpa
Em entrevista à Rádio Tupi na manhã desta quinta-feira (20), o presidente Lula afirmou que "só há uma saída" para Jair Bolsonaro caso sejam comprovadas as denúncias feitas pelo Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, com base na investigação da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Lula se referiu especialmente à operação Punhal Verde e Amarelo, tramada pelo general e candidato a vice, Walter Braga Netto, com a anuência de Bolsonaro, segundo a PGR, que tinha como objetivo matar ele, o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"Se for provada a denuncia feita pelo procurador-geral de tentativa de golpe, da participação do ex-presidente, do primeiro escalão dele, da tentativa de morte de um ministro da Suprema Corte Eleitoral, do assassinato de um Presidente da República e do vice-presidente, é uma coisa extremamente grave. E eu tenho certeza que se for provado, ele só tem uma saída: ser preso", afirmou.
Lula comparou a ação da organização criminosa à perseguição pela Ditadura do Partido Comunista Brasileiro, o PCB.
"O Partido Comunista Brasileiro foi perseguido por 50 anos sem ter feito o que a equipe do ex-presidente tentou fazer nesse país", disse.
O presidente ainda classificou como "quadrilha" o grupo de Bolsonaro que, segundo ele, tentou transformar o país em "propriedade privada".
"Ele que participou dessa quadrilha que não estava tentando governar, mas tomar conta do país como se fosse propriedade privada. Obviamente, eu acho que eles terão o direito de se defender. Mas, se for provado, não tem outra solução se não ser condenado", afirmou.
Em seguida, Lula foi indagado sobre o PL da Anistia, principal bandeira de Jair Bolsonaro junto aos aliados no Congresso Nacional. A aprovação do PL pode livrar antecipadamente o ex-presidente de uma condenação.
Segundo Lula, o PL é uma confissão de culpa dos bolsonaristas, que estariam se "autocondenando" ao propor a anistia a golpistas.
"O que é engraçado é que essas pessoas estão se autocondenando ao pedir anistia antes de serem julgados", disse.
O presidente afirmou que "a primeira coisa que eles têm que fazer é provar a inocência deles".
"Eles nem foram julgados e já estão pedindo anistia. Ou seja, eles estão dizendo que são culpados. Só pelo fato de pedirem anistia antes de serem julgados eles já devem ser condenados. Se o cidadão tá sendo julgado, ele não pode pedir perdão antes de ser julgado. Ele tem que primeiro provar que é inocente".
Lula ainda afirmou que o PL mostra o medo que os bolsonaristas têm de ser julgados.
"Ora, eles estão com medo de serem condenados porque querem pedir anistia antes de serem julgados. Isso não existe. Eles terão que ser julgados, julgados podem ser condenados. E depois de condenados, pode-se discutir o que fazer com eles. Uma boa cela e um tratamento com respeito é o que eles merecem se forem considerados culpados. É isso. Não existe outra discussão", disse.
Em seguida, Lula ironizou as narrativas de Bolsonaro, que em reunião com aliados pedindo um levante para pressionar Hugo Motta (Republicanos-PB) a colocar em pauta o projeto de lei.
"Quando o ex-presidente fica pedindo anistia, ele está provando que é culpado, que cometeu crime. Ele dizia estar falando: eu vou provar minha inocência. Mas, como ele é um mentiroso contumaz - mentia 11 vezes por dia quando era presidente - [...] ele deveria estar dizendo que sou inocente. Mas, não. Ele está pedindo anistia. Ou seja, ele está dizendo: 'gente, eu sou culpado, eu tentei bolar um plano para matar o Lula, tentei bolar um plano para matar o Alckmin, tentei bolar um plano para matar o Alexandre de Moraes e não deu certo porque tive uma diarreia no dia e fiquei com medo e tive que voar antecipadamente para os EUA pois tava com medo de ficar para a posse do meu adversário'", ironizou Lula.
"Então, pedir anistia antes de ser condenado, não. Você vai conhecer que nesse país a lei verdadeiramente é para todos. Se você cometeu um crime em que está sendo acusado, será preso. É isso", concluiu o presidente.