FÓRUM ONZE E MEIA

Amanda Paschoal: Extrema direita faz sociedade acreditar que pessoas trans são inimigas

Vereadora de São Paulo fala sobre seu primeiro mandato e resistência ao ódio promovido pela extrema direita

Amanda Paschoal, vereadora de São Paulo.Créditos: Matheus Alves
Escrito en POLÍTICA el

Amanda Paschoal (PSOL), vereadora mais votada de esquerda em São Paulo, participou do Fórum Onze e Meia desta terça-feira (11) e comentou sobre sua trajetória de luta pela comunidade trans até a sua primeira candidatura política. Ativista pelos direitos humanos, Amanda chegou na vida pública através da atual deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) na época em que a parlamentar também foi vereadora da capital paulista. 

Amanda começou a trabalhar na assessoria de Erika em 2021 e só deixou o cargo para se candidatar a vereadora no ano passado. Ela afirma que foi ao lado de Erika que foi construindo sua carreira política. "Aprendendo lado a lado com a Erika, com a relação que a gente desenvolveu de aprendizado, troca, suporte, porque é um caminho realmente muito difícil você encampar as lutas pela resistência, a construção política, ainda mais com um cenário tão conservador que a gente tem visto nas casas legislativas e ao redor do mundo", afirma a vereadora.

A parlamentar acredita que o ponto fundamental para seu resultado tão expressivo nas urnas foi a verdade durante o processo de construção de sua candidatura, das pautas e bandeiras que ela levanta em sua luta política. "Acho que a partir daí foi que a gente conseguiu chegar nesse resultado tão promissor, e agora estou aqui no começo dos trabalhos na Casa, entendendo a dinâmica, sendo a pessoa que está à frente, o que é um novo desafio que eu recebo com muita honra, muita alegria e muita coragem para seguir em frente, revolucionar e transformar essa cidade", declara. 

A extrema direita e o ódio a pessoas LGBTQIAPN+

Amanda também falou sobre as campanhas de ódio que a extrema direita promove contra a comunidade LGBTQIAPN+, principalmente pessoas trans. A vereadora chegou a ser alvo de transfobia durante sessão no plenário na última terça-feira (4) pelo vereador Lucas Pavanato (PL), que insistiu em dizer que Amanda era "biologicamente homem". A vereadora acionou o Ministério Público e aguarda a condenação de Pavanato pelo crime de transfobia. 

Questionada sobre por que a extrema direita é tão focada em promover transfobia, a vereadora afirmou que o ódio contra pessoas trans gera engajamento, que é o que os extremistas desejam. "O ódio contra pessoas trans, a transfobia, engaja muito, é uma coisa que a sociedade 'pega' com muita facilidade. E eles [extrema direita] têm que escolher um inimigo em comum para a sociedade. Então, está todo mundo passando por um monte de problemas e aí eles se apegam ao moralismo, a esse possível mal que as pessoas trans e a comunidade LGBTQIAPN+ podem oferecer para as famílias", afirma.

"Assim como a extrema direita ao redor do mundo também elege para além dos LGBTs, outros inimigos, como os imigrantes, a farsa do comunismo", acrescenta. "Todas essas ferramentas que eles usam acabam colocando um pânico moral na sociedade, que acaba acreditando que nós, que não representamos nem 1% da população mundial, somos as pessoas responsáveis pela falta de saúde, de segurança pública, de emprego digno, de possibilidade de viver com mais qualidade de vida e dignidade nas nossas sociedades", explica.

"Esse é o principal motivo que eles escolhem, porque engaja muito. As pessoas 'pegam'. Tem o conservadorismo, tem o fundamentalismo religioso, as pessoas acreditam que estão nas pessoas trans os principais inimigos, o maior risco oferecido para uma sociedade mais equânime e justa. Infelizmente, as pessoas acreditam nessa narrativa", finaliza a vereadora.

Perspectivas do seu mandato

A vereadora também falou sobre as suas principais lutas enquanto vereadora de São Paulo. Amanda afirma que tem como principal pauta a defesa dos trabalhadores. Junto com Erika Hilton, que se tornou referência na Câmara pelo fim da escala 6x1 - movimento criado pelo também eleito vereador, pelo Rio de Janeiro, Rick Azevedo - Amanda pretende levantar essa bandeira na Câmara Municipal de São Paulo. 

"Esse é um debate que eu também trago para São Paulo, inclusive protocolei um PL para que os serviços contratados pela prefeitura, as terceirizadas, eliminem essa escala e consigam colocar uma mais decente", conta Amanda. 

A parlamentar também explica que outras duas pautas principais são a valorização da cultura e a defesa dos direitos humanos, como continuidade do mandato de Erika enquanto vereadora. Além disso, Amanda cita o combate à fome e a defesa do clima

Em relação à possibilidade de diálogo e construção de políticas públicas com a prefeitura de São Paulo, sob gestão de Ricardo Nunes (MDB), Amanda diz que espera que seja possível criar um "senso comum" para atender às necessidades da capital paulista. 

"Eu estou aprendendo sobre essa dinâmica com a nova legislatura, com meus pares, entendendo como que vai ser construído esse trabalho nos bastidores para ver se a gente não consegue entrar em um senso comum de defesa do que a cidade precisa em investimento, saúde, educação, garantia de direitos", afirma Amanda.

A vereadora acrescenta que acredita ser possível, com alguns setores menos racionais, "conseguir dialogar para construir um caminho que seja benéfico para a cidade, não pensando só no viés político, se é base ou se é oposição". "Todos aqui temos a função de fiscalizar o prefeito, de cobrar da prefeitura um trabalho de qualidade, e a partir desse diálogo acredito que seja possível, tanto em projetos que venham do lado de lá, quanto projetos que sejam pautados por mim e pela minha bancada", pontua.

Confira a entrevista completa da vereadora Amanda Paschoal ao Fórum Onze e Meia 

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