Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, sobrinho do ex-presidente Jair Bolsonaro e uma das pessoas mais próximas do vereador Carlos Bolsonaro, pode ser o primeiro membro da família do ex-presidente a ir para a prisão pela tentativa de golpe de Estado deflagrada no Brasil entre o final de 2022 e início de 2023.
Isso porque a Procuradoria-Geral da República (PGR) ofereceu denúncia contra o bolsonarista ao Supremo Tribunal Federal (STF), abrindo caminho para que ele se torne oficialmente réu e seja alvo de uma ação penal da Corte, cujo desfecho deve ser sua condenação à cadeia.
Nesta quarta-feira (22), após a denúncia da PGR ser tornada pública, Léo Índio reagiu em entrevista ao site de extrema direita "Revista Oeste", negando as acusações de que participou da depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Segundo o procurador-geral da República, Paulo Gonet, Léo Índio, além de ter incitado atos golpistas, "destruiu e concorreu para a destruição, inutilização e deterioração de patrimônio da União, ao avançar contra a sede do Congresso Nacional, fazendo-o com violência à pessoa e grave ameaça, emprego de substância inflamável e gerando prejuízo considerável para a União".
O sobrinho de Jair Bolsonaro confirma que esteve no ato golpista de 8 de janeiro de 2023, mas nega que tenha participado de qualquer depredação.
"Não fiz isso; estive em mais uma manifestação, como estive em diversas. Era apenas mais uma manifestação, que infelizmente teve esse desfecho muito ruim. Assim que começou aquele caos, retirei-me do local", disse Léo Índio.
Na denúncia, entretanto, a PGR sustenta que há provas suficientes de que o extremista participou do levante golpista e praticou atos de vandalismo. Ele foi denunciado por 5 crimes: associação criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado.
Em 2023, o sobrinho de Bolsonaro foi um dos alvos da 19ª fase da Operação Lesa Pátria, da Polícia Federal, e teve apreendidos pela PF seu celular, passaporte e um pendrive. Ao site de extrema direita, Léo Índio afirma questiona a utilização de imagens em que ele aparece no levante golpista como prova.
“A imagem que eles têm é a imagem minha ali naquela parte mais elevada do palácio, onde a gente se abrigou, porque começou a ter lançamento de gás lacrimogêneo e bomba de efeito moral”, declarou.
Quem é Léo Índio
Sem curso superior e profissão definida, Léo Índio disse em depoimento ao STF que era vendedor. Ele realmente vendia caças jeans antes da ascensão do clã na política, quando passou a orbitar principalmente a esfera do primo, Carlos Bolsonaro, de quem chegou a ser assessor.
No início do governo Bolsonaro, ele atuava como uma espécie de olheiro do primo Carlos frequentando o Palácio do Planalto sem ter sido nomeado para cargo algum.
Flho de Rosemeire Nantes Braga Rodrigues, irmã de Rogéria Nantes, ex-mulher de Jair Bolsonaro e mãe dos três filhos mais velhos do ex-presidente, Léo Índio foi nomeado em abril de 2019 como assessor no gabinete do do vice-líder no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR), com salário de R$ 22 mil.
Ele deixou o cargo em outubro de 2020 quando o senador foi pego em flagrante pela PF (Polícia Federal) com dinheiro nas nádegas. Após a demissão, ele passou a pedir emprego, mas seguiu ajudando o tio presidente.
Em agosto de 2021, ele atuou na arrecadação de dinheiro para viabilizar o ato de 7 de Setembro na Avenida Paulista, em que Bolsonaro chamou Alexandre de Moraes de "canalha".
Juntamente com o atual deputado Marcos Gomes, o Zé Trovão, Léo Índio foi articulador do movimento que tinha como "pauta principal" retirar os 11 ministros do Supremo. Um mês depois, ele passou a ser investigado pela atuação.
Léo Índio também atuou como assessor da liderança do PL no Senado, mas foi exonerado por não trabalhar. Ele tentou se eleger deputado distrital em 2022 com a alcunha de Léo Bolsonaro, mas não obteve sucesso, terminando a eleição com 1.801 votos.
Bolsonaro é o próximo?
A denúncia oferecida pela PGR contra Léo Índio, um membro da família Bolsonaro, marca a finalização da investigação e sinaliza que o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, bem como militares envolvidos na trama golpista, podem ser os próximos a serem denunciados.
A expectativa é que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresente denúncia contra Bolsonaro e outros indiciados pela tentativa de golpe de Estado até o final de janeiro ou início de fevereiro, abrindo caminho para que o ex-presidente vá a julgamento e seja preso.