SERÁ?

Gusttavo Lima presidente: Entenda a estratégia (boa) da bizarra candidatura

Brasileiros foram surpreendidos com anúncio inusitado de que sertanejo concorrerá ao Planalto em 2026. Só que a notícia esdrúxula tem uma explicação engenhosa

Créditos: Divulgação
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Uma notícia bizarra surpreendeu o Brasil nesta quinta-feira, 2 de janeiro de 2025. O cantor Gusttavo Lima, que até pouco tempo atrás estava enrolado numa investigação sobre lavagem de dinheiro e envolvimento com empresas de apostas digitais ilegais, lançou seu nome como candidato à Presidência da República em 2026.

Os primeiros minutos após o anúncio foram de piadas intermináveis. Na sequência, vieram a incredulidade e as críticas, já que boa parte do eleitorado minimamente consciente sabe da “capacidade” que o brasileiro tem de eleger figuras patéticas e toscas para cargos públicos, como o próprio Jair Bolsonaro (PL), um irrelevante deputado federal que ganhou a vida falando impropérios e coisas repugnantes e que foi parar no Palácio do Planalto após uma superexposição na mídia e nas redes por conta de sua personalidade patética e risível.

Só que a tal ambição de Gusttavo Lima não é exatamente mais uma dessas bizarrices. Pelo contrário, é uma manobra muito bem articulada e calculada que integra uma estratégia maior vinda do cerne da política profissional.

A chave para o lançamento de seu nome como candidato a presidente está num outro político, esse sim acostumado ao poder e extremamente experiente: o governador goiano Ronaldo Caiado (União Brasil).

Caiado tem como sonho máximo ser presidente da República, já disse isso abertamente e até lançou seu nome de antemão, no fim do ano passado, mesmo faltando ainda dois anos para o pleito. O chefe do Executivo de Goiás mantém uma relação de intimidade e fidelidade com o sertanejo que é sucesso em todo Brasil, e para comprovar isso é só relembrarmos que o político tomou um voo e atravessou meio mundo para ir comemorar o aniversário de Lima num iate bilionário nas águas azuis do Mar Mediterrâneo, na costa da Grécia, no último verão europeu, sem esconder a agenda e posando com o artista, todo sorridente.

Ao saber do anúncio de que Gusttavo Lima seria candidato ao Planalto, feito nesta tarde, Caiado, que por uma questão lógica seria seu adversário, disse apenas “vejo com normalidade”. Parte da imprensa interpretou, no calor da coisa, como uma atitude de desdém, ou ainda de indiferença. Mas é preciso entender que, na verdade, os dois estão no mesmo barco, e não é o iate de bilhões que navegou pelas ilhas gregas.

Para boa parte dos analistas e de quem convive com os intestinos da política nacional, há aí um claríssimo plano, em que pese a dificuldade em saber exatamente como seriam os pormenores dessa empreitada. Três possibilidades reais são analisadas e esperadas dessa “união”.

Caiado, que de fato quer ser presidente, tem hoje um problema que quase todos os caciques estaduais de fora do eixo Rio-São Paulo enfrentam: nacionalizar seu nome e se tornar competitivo, sendo reconhecido e angariando eleitores por todo o imenso Brasil. Ele não seria o primeiro a sofrer com isso na ambição de se lançar candidato à Presidência.

Na primeira hipótese, Gusttavo Lima manteria sua candidatura, arranjando uma legenda que o abrigue, e fazendo “campanha” de maneira informal durante todo o ano, nos shows e nas redes. O cantor tem uma grande penetração em todo o país e nas mais diversas camadas sociais, sobretudo nas mais populares. Facilmente conseguiria atrair muitos simpatizantes e tornaria seu nome relativamente competitivo. Aí, com a aproximação da eleição, ele começaria a mostrar-se relutante e sutilmente traria Caiado como uma opção viável, como o homem que representa os seus valores e suas ideias, mas com uma grande bagagem no universo político, substituindo-o.

A segunda opção seria de fato manter uma “campanha”, arranjar muitos votos e seguir espalhando seu nome para todo o Brasil, aproveitando-se de sua grande fama. Mais próximo da eleição, Caiado surgiria como o candidato cabeça de chapa e o sertanejo seria seu vice, trazendo muitos votos.

Por último, uma outra possibilidade seria a de carregar o nome de Goiás na política pelos quatro cantos do Brasil, e deixar Caiado sempre aparecendo em sua “campanha”, como um aliado, dando muita visibilidade ao governador goiano, para depois sair de fininho e permitir que o próprio candidato real tire proveito da exposição gerada pelo artista.

Para quem acha que Gusttavo Lima, como um bolsonarista-raiz, não trairia o “capitão”, há um ledo engano. Assim que lançou seu nome, figuras graúdas do entorno de Bolsonaro já começaram a atacar o cantor, que seria alguém muito mais fiel a Caiado do que ao ex-presidente, a quem sempre deu apoio por afinidade e por apreciar a retórica reacionária e incendiária, embora nunca tenha se colocado como um servo.

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