FASCISMO NEOLIBERAL

Elenira Vilela: governo Lula é nosso "escudo" contra o fascismo; assista à entrevista

Segundo Elenira há uma esquerda sectária disfarçada de radical que busca crescer dentro do campo progressista usando a mesma estratégia de "lacração" dos bolsonaristas com ataques ao governo

Elenira Vilela: governo Lula é nosso "escudo" contra o fascismo.Créditos: Facebook / Elenira Vilela
Escrito en POLÍTICA el

Em entrevista ao Fórum Onze e Meia nesta quinta-feira (2), a sindicalista e professora do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) Elenira Vilela afirmou que, mesmo diante de uma esquerda sectária, que muitas vezes busca crescer dentro da base petista com a mesma "lacração" bolsonarista nas redes, o governo Lula hoje atua como um "escudo" contra o fascismo, que segue à espreita para retomar o poder por meio das eleições ou um novo golpe.

Segundo Elenira há uma parcela da esquerda que busca crescer dentro do próprio campo progressista com ataques ao governo, criando um "caldo de cultura" que é usado pela ultradireita neofascista para fomentar os ataques a Lula.

"Essas organizações criam um caldo de cultura de que tudo é culpa do governo e isso é muito perigoso. Porque há o que é culpa do governo e há o que não é. E boa parte das coisas é de responsabilidade de um sistema capitalista. E, se você culpa o governo por tudo, você cria um caldo de cultura que vai dificultar a gente reeleger o Lula em 2026, o que é absolutamente necessário para a gente continuar vivo – eu, pelo menos, que recebi mais uma ameaça de morte em 31 de dezembro", disse a matemática, que é alvo frequente de ameaças da ultradireita neofascista.

"Então a gente precisa desse escudo para todos os militantes, para todas as pessoas que lutam por direitos continuarem vivos. E para as pessoas que enfrentam a fome, também. Uma das melhores coisas que o governo Lula fez foi tirar 95% das crianças de 0 a 6 anos da fome em um ano e meio. Estamos falando de 10 milhões de crianças que saíram da fome no governo Lula", emenda.

Elenira lembra que passou dez anos fora do PT justamente pelas críticas que tem ao partido, mas resolveu voltar justamente pela luta política mais ampla que existe na sociedade. E que recrudesceu com a ascensão do neofascismo no mundo e de Jair Bolsonaro (PL) no Brasil.

"Eu passei dez anos fora do PT. Eu tenho várias críticas, sou comunista, e acho que a gente precisa de várias coisas que não tem no PT e não tem no Brasil. Mas, quando voltei para a política partidária, por causa do golpe, meu raciocínio para voltar ao PT foi que o partido disputa politicamente a base social do país com a direita, a política grande do país", conta.

Esquerda radical ou sectária?

Elenira diz que há espaço no Brasil para uma esquerda verdadeiramente radical, que atue na raiz da questão e no enfrentamento do fascismo neoliberal. Mas ressalta que o que se apresenta como uma esquerda radical é apenas um movimento sectarista, que quer cooptar uma parcela do campo progressista usando o mesmo método dos bolsonaristas.

"Eu defendo que a gente precisa de uma esquerda radical [no Brasil]. Radical no sentido de procurar a raiz dos problemas. E quem procura a raiz do problema sabe que o problema está na estrutura do capital e não simplesmente em um governo. E não há. Não vejo essa esquerda radical. O PT certamente não é, por certos motivos, e essa esquerda que se autodeclara radical tem conseguido é ser sectária, no meu entendimento, por dois elementos", diz.

Em seguida, ela explica quais seriam esses dois elementos. "Um é esse, que existem alguns que só querem ganhar dinheiro, e você tem um nicho de mercado para isso", diz, referindo-se a personagens que buscam atrair esquerdistas descontentes com o governo por meio da lacração.

"Mas tem um outro, que acho que acaba sendo mais grave, que é o seguinte: existem organizações que entendem que a forma de crescer é tirando a base do PT. Porque hoje – e é verdade – todo mundo que você perguntar na esquina o que se chama de esquerda, 90% vão dizer que é o PT. Os outros, então, olham e pensam: para eu crescer eu não vou disputar com a direita, com a base bolsonarista, com a igreja; eu vou disputar com a base do PT. E isso para mim é um desserviço", diz a professora e sindicalista.

Elenira revela que o método é semelhante ao da horda bolsonarista, que atua com achaques a pessoas que simplesmente não compactuem com as mesmas teses defendidas por esses grupos. Por meio da lacração, buscam avançar sobre uma parcela da população que já se encontra na esquerda.

"Essa esquerda sectária copia mesmo a estratégia bolsonarista porque tem uma lógica. O algoritmo vai funcionar bem para pessoas que agem assim. Outro dia fui chamada de negacionista por não chamar o governo Lula de neoliberal", diz, ressaltando que "a gente precisa pensar que é muito além da lacração, porque a gente está construindo um caldo de cultura que é muito sério e não pode ficar brincando com isso".

Para Elenira, a estratégia mais importante no campo progressista está relacionada a construir a luta com o povo: "não é ficar xingando o governo, é brigar contra o capital".

"A grande questão é fazer a luta do povo que enfrenta o capital. E fazer a defesa do governo pressionando ele pela esquerda com organização, não com xingamento. E superar essa visão de que você vai crescer esse escudo tirando gente que já está na esquerda por outro lugar", diz.

Ela cita, como exemplo propositivo, o que vem sendo feito pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que propagou o Movimento Vida Além do Trabalho – que defende o fim da escala de trabalho 6x1 –, criado pelo ativista Rick Azevedo, que se filiou ao PSOL e foi eleito vereador no Rio de Janeiro com mais de 29 mil votos.

"A Erika Hilton, fazendo a jornada da escala 6x1, está levando o PSOL para além de disputar a base com o PT, por exemplo. E isso precisa ser feito porque você está disputando uma base social ampla, tirando da direita ou da falta de posição política pessoas para a esquerda, para a consciência de classes. Isso é necessário", afirma Elenira. 

Assista à entrevista de Elenira Vilela ao Fórum Onze e Meia

 

Temas

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar