Vicky Richter, militante de extrema direita alemã que se autodenomina “jornalista independente”, insinuou, em vídeo divulgado nas redes sociais, que a Fórum teria produzido uma reportagem para difamá-la em articulação com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em setembro do ano passado, Richter esteve no Brasil para produzir um documentário sobre a “liberdade de expressão” no país, que, segundo ela, vive uma ditadura comandada por Moraes. Em 2021, a alemã também visitou o Brasil e se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A reportagem da Fórum contestada pela negacionista, investigada em seu país por "hostilidade à democracia e/ou deslegitimação do Estado com riscos à segurança", relatava sua presença na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara em setembro de 2024. A sessão discutia uma proposta articulada por bolsonaristas para anistiar os golpistas do 8 de janeiro.
O texto da Fórum se limitou, além de traçar um perfil da alemã, a informar que Richter estava no Brasil para produzir o documentário e que compareceu à Câmara, possivelmente a convite de deputados de extrema direita, para colher depoimentos.
No último sábado (11), Vicky Richter publicou um vídeo nas redes sociais acusando a Fórum de promover uma “campanha de difamação”. Ela sugeriu que a reportagem teria sido encomendada por Moraes e associou o fato de supostamente ter sido detida pela Polícia Federal no Aeroporto de Brasília, sob a acusação de entrada ilegal no Brasil, à matéria da Fórum.
Richter afirmou que tentou entrevistar Moraes por telefone e, cerca de 40 minutos após enviar um e-mail à equipe do ministro, recebeu um contato da Revista Fórum, insinuando uma conexão entre os fatos.
“A resposta... uhm... Não foi exatamente surpreendente. Ele não respondeu, mas 40 minutos depois recebi um pedido de um jornalista da Revista Fórum que queria saber por que estou fazendo um documentário sobre a supressão à liberdade de expressão no Brasil. E ele não fez nada de bom, escreveu um artigo difamatório contra mim, dizendo que eu sou uma bolsonarista. Eu sou alemã, então, eu não posso ser bolsonarista, eu não voto no Brasil”, declarou.
No entanto, em nenhum momento a reportagem da Fórum a classifica como “bolsonarista”. O termo sequer é usado para se referir à alemã.
Richter também afirmou que o repórter não conversou com ela para elaborar a matéria. Essa afirmação é falsa. Marcelo Hailer, autor da reportagem, entrou em contato com Richter via Instagram. Ele perguntou se ela estava no Brasil para produzir um documentário sobre liberdade de expressão. Richter confirmou, mas parou de responder ao ser questionada sobre a atmosfera encontrada no Congresso Nacional e sua opinião sobre a liberdade de expressão no Brasil. Esse diálogo está documentado em um print divulgado na matéria.
Confira:
Richter ainda sugeriu que a detenção pela Polícia Federal teria relação com a matéria da Fórum, apesar de o texto não abordar sua entrada ou situação legal no Brasil.
Site de extrema direita questiona a Fórum
Na terça-feira (14), uma jornalista do site "Gazeta do Povo" entrou em contato com a Fórum para questionar se a reportagem teve algum tipo de contato com Richter, indicando que pretende repercutir as acusações da alemã.
“Estou apurando informações referentes a uma jornalista independente alemã que estaria realizando um documentário aqui no Brasil a respeito do STF e teve contato com a equipe de vocês. Pode confirmar essa informação, por gentileza, e citar como foi esse contato?”, dizia a mensagem.
A Fórum respondeu esclarecendo como se deu o contato e enviou o link da reportagem que comprova a inexistência de qualquer relação entre a matéria e os supostos problemas de Richter com a Polícia Federal ou a negativa de Moraes em atendê-la.
Quem é Vicky Richter
Vicky Richter ganhou notoriedade entre 2020 e 2021 ao espalhar teorias da conspiração e organizar protestos contra medidas sanitárias de combate à Covid-19, que estava em seu auge na época.
Por sua postura, Richter passou a ser vigiada e investigada por promover "hostilidade à democracia e/ou deslegitimação do Estado com riscos à segurança", conforme noticiado pela DW em 2021.
A alemã é vinculada ao grupo "Querdenken" (Pensamento Lateral, em português), que mantém relação com neonazistas e seguidores do conspiracionista QAnon. O grupo é acusado pelas autoridades alemãs de questionar a legitimidade da democracia e do Estado.
Em 2021, Richter entrevistou Jair Bolsonaro, Damares Alves e outras figuras do bolsonarismo. Nessas conversas, promoveu teses negacionistas sobre a Covid-19 e as vacinas.