FASCISMO BOLSONARISTA

Bolsonaro dá bolo em live e aprofunda racha da trupe de Zambelli e Adrilles com Malafaia

Em meio à implosão causada por Pablo Marçal, Bolsonaro cancelou entrevista com Adrilles Jorge após vazamento de conversa de Carla Zambelli, que diz que "PR falou aquele monte de coisa horrível"

Marco Antônio Costa, Adrilles, Carla Zambelli, Marçal e o racha com Bolsonaro e Malafaia.Créditos: Reprodução de vídeo / Instagram e youtube
Escrito en POLÍTICA el

Além do efeito Pablo Marçal (PRTB), que implodiu a base neofascista em São Paulo, Jair Bolsonaro (PL) terá que lidar com um racha entre dois grupos de aliados que se engalfinham desde o início dos atos que pedem o impeachment de Alexandre de Moraes, em 10 de junho.

LEIA TAMBÉM:
"Vai ter que engolir": Malafaia apanha ao xingar Marçal, que lança desafio ao guru de Bolsonaro

Liderado por Carla Zambelli (PL-SP), Adrilles Jorge e Marco Antônio Costa, o grupo que deu início aos atos contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) entrou em franca disputa com Silas Malafaia, guru "espiritual" do ex-presidente, que comandou a manifestação do último sábado, 7 de Setembro.

Após atrito entre os dois grupos, o de Carla Zambelli e Adrilles resolveu colocar um caminhão para discursos de sua trupe, barrada no trio elétrico de Malafaia.

Bolsonaro prometeu que na manhã desta segunda-feira (9) daria entrevista ao programa no Youtube de Costa - que tem Adrilles como comentarista -, mas cancelou a participação após o vazamento de supostos mensagens em que Carla Zambelli e Zé Trovão (PL-SC) atacam Malafaia.

"Falei com o Bolsonaro agora de manhã por telefone. Ele ia entrar pra uma entrevista, ai apareceu um compromisso urgente para ele, então não conseguiu. Acabou de falar para mim, isso daí. Então estou falando em primeira mão para vocês. Ele está com o Zucco [deputado federal] e ainda falei: Zucco, se conseguir entrar por algum motivo, trazer para a gente o que achou do dia 7, a perspectiva a respeito disso", justificou Costa, sob protestos no chat pela ausência do ex-presidente e sem convencer o deputado a entrar na live.

Costa anunciou no dia anterior a entrevista com Bolsonaro, que estava marcada para as 10h desta segunda. No entanto, horas antes uma conversa em um grupo de WhatsApp foi vazada com críticas a Silas Malafaia.

"Monte de coisa horrível"

Na troca de mensagens, Zé Trovão reclama, a partir de uma justificativa de Sóstenes Cavalvante - deputado que é o "poste" de Malafaia no Congresso - que o pastor assumiu o comando do ato.

"A verdade é uma só gente, o evento era do Silas, não nosso. Por isso, estava lá [em cima do trio elétrico] quem ele queria. A única saída para isso é quando for ser feito algo seja organizado por nós e pronto", reclamou. "E alguns que ele por algum motivo tem que engolir, a meu exemplo", emendou.

Em seguida, Carla Zambelli comentou criticando a postura de Bolsonaro, que horas depois divulgou uma nota atacando Pablo Marçal, que foi impedido de subir no caminhão.

A deputada mantém uma live com Marçal fixada em seu perfil no Instagram, em franca afronta a Bolsonaro, que apoia oficialmente Ricardo Nunes (MDB) na disputa à prefeitura de São Paulo.

"Só uma correção. O caminhão era do Silas. O evento era do Marco Antônio [Costa] que chamou primeiro e que permitiu que o Silas fizesse em respeito ao PR. E agora está sendo atacado por bolsonaristas depois que o PR falou aquele monte de coisa horrível", disse Carla Zambelli no trecho divulgado por Guga Noblat nas redes.

Marçal

Enquanto promove um embate com o grupo de Carla Zambelli, Silas Malafaia ainda mira Pablo Marçal, que no sábado, após ser barrado no evento, decretou uma "guerra espiritual" e atacou o guru do ex-presidente.

Em tom messiânico no ato de celebração dos 25 anos da Igreja Videira no Estádio Serra Dourada, em Goiânia, Marçal  convocou aliados "de todo o Brasil" para uma "guerra espiritual" e se colocou como um enviado de Deus para repetir com Jair Bolsonaro a história bíblica de Davi que sucedeu Saul, o primeiro rei de Israel.

Após a pregação, Marçal abriu uma caixa de perguntas em seu novo perfil no Instagram. Indagado por que "torce" para Bolsonaro voltar, "se no momento ele não torce por você", o ex-coach usou a narrativa bíblica para se colocar como ungido por Deus para suceder o ex-presidente.

"Quem conhece a Bíblia sabe que minha relação com o Bolsonaro é a mesma de Saul e Davi. O Davi precisa ter paciência para o reinado de Saul chegar ao fim. Enquanto ele tiver chance eu vou apoiá-lo porque sei que foi Deus que o levantou. Não é sobre Pablo e Bolsonaro e sim a libertação e a prosperidade de um povo", escreveu.

Diante de um seguidor que disse que "o protesto [de 7 de Setembro] era a favor da liberdade de expressão e você foi barrado pelo Bolsonaro", o ex-coach evitou polemizar e afirmou que "quem barrou foi o Malafaia".

O ex-coach ainda ironizou o pastor, conselheiro "espiritual" de Bolsonaro, que prometeu um novo vídeo para explicar o motivo de não ter permitido que Marçal subisse no trio elétrico na avenida Paulista.

"Peçam para o Silas ajudar o Ramage no Rio", fez chacota ao comentar a publicação de Malafaia.

Ainda nos stories, incitado por seguidor que diz que "está na nora de para cima de Bolsonaro que já te vê como ameaça", Marçal respondeu fazendo o não, que ainda não está na hora de atacar o ex-presidente.

Entenda

A briga de egos entre o pastor Silas Malafaia, seu conselheiro "espiritual", e a tropa comandada pelo ex-Jovem Pan Adrilles Jorge e Carla Zambelli começou antes do 7 de Setembro, quando Bolsonaro tentava barganhar o esvaziamento do ato pelo arquivamento de um dos processos na corte.

Em live ao lado de Adrilles Jorge, o influenciador neofascista Marco Antônio Costa, um dos organizadores dos atos anteriores, contou que foi escanteado por Malafaia na manifestação marcada para o próximo dia 7.

"Eu liguei para o Silas esse final de semana e ele é bem objetivo com relação a isso: 'não vai falar, você sobe no caminhão mas não fala'. E eu fico numa situação chata porque eu tendo a concordar com muita coisa que o Silas já falou inclusive, mas acho que tem lideranças... E aqui não é o meu caso, não quero o protagonismo...", disse Costa, interrompido prontamente por um indignado Adrilles.

"É o seu caso, sim, Marco Antônio, sabe porque? Você fica com falsa modéstia, mas quem objetivou, convocou essa manifestação, essas duas primeiras manifestações, foi você, com apoio de todo mundo aqui do fio diário", disse o ex-Jovem Pan, ressaltando que "nós estamos alimentando esse movimento há dois anos, pauta única e objetiva: impeachment de Alexandre de Moraes e agora a gente não pode falar".

Adrilles segue confirmando o racha na ultradireita. "Aí vão falar: a direita está sendo dividida? Eu não estou dividindo a direita, a gente está sendo alijado em nome de outras pessoas que são do círculo do PL", diz, em um recado direto a Carlos Bolsonaro.

Bolsonarismo rachado

O chilique de Adrilles com a posição de Malafaia foi direcionado a Carlos Bolsonaro (PL-RJ), que no dia 10 de junho - um dia após o ato esvaziado na Paulista pelo impeachment de Moraes - partiu para cima dos organizadores, especialmente Marcel Van Hattem (Novo) e Carla Zambelli (PL-SP).

O filho "02" de Bolsonaro expôs o racha na extrema direita fascista ao criticar "um movimento que quer substituir o outro pisando na cabeça dos que se doaram e se doam para que inclusive eles chegassem até aqui".

Após atacar os aliados que flertam com a "direita sensata" - como ironizou -, o vereador partiu pra cima dos aliados mais radicais.

"É cristalino e triste. Todos poderiam crescer e o Brasil agradeceria, entretanto essa estratégia suja não é digna de quem tem caráter para substituir. Trata-se somente de se colocar no jogo e ser aceito pelo sistema. Simples e baixo", alfinetou, gerando ira em parte da horda bolsonarista mais radical.

Allan dos Santos, no entanto, não deixou barato e mandou Carlos Bolsonaro ficar calado.

"O Carlos Bolsonaro deveria ficar calado. Falar merda do Sebastião Coelho e do Marco Antônio Costa na altura do campeonato é atestado clínico de problema mental. Estamos todos em uma tirania, ele inclusive. Cresça, Carlos Bolsonaro", disparou o blogueiro em seu perfil dos EUA, que não é visível aos usuários do X no Brasil.

"Não é de hoje que fala merda de quem quer ajudar o país e ajudar o pai dele, inclusive", emendou.

Dias depois, foi a vez do influenciador Paulo Figueiredo, neto do último presidente da Ditadura, João Baptista Figueiredo, que partiu para cima de Carlos Bolsonaro.

O ataque aconteceu após o vereador defender a soltura de Filipe Martins, olavista, ex-assessor especial de Bolsonaro, que foi preso por participação na organização criminosa que tentou o golpe no Brasil.

"Soltem Filipe G. Martins. Parem com essa desumanidade", exclamou Carlos.

"Que tal apoiar uma manifestação contra o bandido que o colocou na prisão? Ah não, espere...", ironizou Figueiredo, em comentário na publicação.

Cobrado por apoiadores de Carlos sobre sua posição, que expõe o racha na ultradireita fascista, Figueiredo foi sucinto: "Caguei".

"Caguei. Se falar o que é certo e ter indiferença àcrítica dos puxa-sacos alheios é visto como soberba, que seja", emendou.

Zambelli chora com Damares

Acusada de rachar a ultradireita fascista e alvo de fogo-amigo comandado por Carlos Bolsonaro, Carla Zambelli respondeu com um vídeo em que chora ao ser defendida pela senadora Damares Alves (PL-DF) após saraivada de ataques comandada por um influenciador de direita.

"E aí, Kim Paim? Vai falar mal da Damares Alves  também? Pare com isso. Você pode não estar sendo afetado, mas quem está no Brasil, é afetado pelo fato do lula estar no poder", escreveu na publicação em que compartilha um vídeo em que Damares faz sua defesa.

No vídeo, intitulado "Damares leva Zambelli ás lágrimas", a senadora bolsonarista diz que a colega está sendo "injustiçada" - veja aqui.