A deputada federal Rosangela Moro (União-PR) decidiu atacar a primeira-dama Rosangela Lula da Silva, a Janja, pelo fato da esposa do presidente Lula ter utilizado um casaco palestino durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York (EUA).
Através do Instagram, a parlamentar, esposa do senador Sergio Moro (União-PR), disse que o fato de Janja utilizar a vestimenta de origem palestina é uma "provocação" à população de Israel. Ignorando completamente o massacre de palestinos promovido pelo governo israelense, Rosangela Moro limitou sua "solidariedade" ao "povo judeu".
"O casaco palestino usado pela primeira-dama na Assembleia Geral da ONU deixa claro que Janja prefere ignorar a dor da comunidade judaica, mesmo depois do ataque covarde do grupo terrorista Hamas a Israel. Esse tipo de provocação é inaceitável e só promove mais divisão, ao invés de promover a paz. Minha solidariedade ao povo judeu que, mais uma vez, vê sua história e sofrimento desrespeitados por este governo!", escreveu a deputada nesta quarta-feira (25).
Inúmeros internautas vêm detonando Rosangela Moro no espaço de comentários da publicação.
"O seu post ignora a dor dos libaneses, dos palestinos? Eles não tem direitos? Familia Moro é contra a comunidade árabe no Brasil?", questionou, por exemplo, um usuário da rede social. "Israel já matou milhares crianças, mas isso não tem importância né..." escreveu outro. "Gosto de você, mas a Palestina é o povo árabe também está sofrendo demais com os assassinatos desproporcionais. Vamos falar de um estado palestino também?", comentou outra pessoa, em meio a várias reações do tipo.
Uma outra internauta não só criticou Rosangela Moro, como elogiou a atitude de Janja de vestir um casaco palestino na Assembleia Geral da ONU.
"Maravilhosa Primeira Dama. Está certíssima em representar e considerar o povo palestino na própria veste! Representa a arte de um povo que tem suas terras roubadas há 76 anos. Israel ocupante não respeita os contratos, invade as propriedades privadas dos palestinos! Mata também os inocentes palestinos que merecem viver ASSIM COMO OS JUDEUS merecem viver. Não aos sionistas assassinos".
Veja:
Casaco palestino de Janja; entenda
A roupa escolhida pela primeira-dama Janja Lula da Silva durante a abertura da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York (EUA), nesta terça-feira (24), manda um recado ao mundo: apoio ao povo palestino.
A jaqueta vermelha com bordado tradicional Tatreez usada por Janja foi um presente da Embaixada da Palestina no Brasil. Essa aplicação é feita com técnicas intrincadas e carrega significados profundos. É um emblema da resiliência, identidade e cultura palestinas.
Cada peça de Tatreez conta uma história e conecta o passado ao presente e simboliza a luta de um povo por preservação cultural e reconhecimento.
A escolha do traje por Janja manda um recado ao mundo de que ela e Lula apoiam a Causa Palestina. Tanto que durante seu 9º discurso como chefe de Estado no evento nesta terça, o presidente brasileiro reafirmou seu compromisso com a questão palestina ao fazer uma saudação à delegação do país presente na ONU.
"Dirijo-me, em particular, à Delegação Palestina, que integra pela primeira vez essa sessão de abertura, mesmo que ainda na condição de membros observadores, e quero saudar a presença do presidente Mahmoud Abbas, aqui presente", disse Lula.
O genocídio israelense em Gaza, conforme dados divulgados até segunda-feira (23) pela emissora Al Jazeera, já resultou em 42.171 mortos do lado palestino e 1.139 do lado israelense.
Bordado feito por mulheres
O bordado palestino aplicado na jaqueta usada por Janja, o Tatreez, é uma antiga forma de arte que representa a rica herança cultural e histórica da Palestina. Este tipo de bordado é tradicionalmente feito à mão por mulheres palestinas e é usado para decorar roupas, como os famosos vestidos chamados Thob, além de acessórios e itens domésticos.
No Instagram tem vários perfis dedicados a difundir o bordado palestino. Um deles é o de Wafa Ghnaim, historiadora, pesquisadora, escritora, curadora e educadora especializada em trajes tradicionais palestinos.
Ela é fundadora de iniciativas dedicadas à preservação da herança cultural palestina, especialmente focadas no bordado Tatreez. Wafa se dedica a documentar e promover o conhecimento sobre os significados culturais, históricos e políticos do vestuário palestino, além de compartilhar essa rica tradição através de palestras, workshops e publicações.
Sua atuação é reconhecida por conectar gerações ao patrimônio palestino, ajudando a manter vivas as tradições artísticas e culturais de seu povo.
Bordado ancestral
O bordado palestino Tatreez remonta a séculos, com suas raízes profundamente ligadas às comunidades rurais da Palestina. Inicialmente, ele era passado de geração em geração, de mãe para filha, como parte da vida cotidiana das mulheres palestinas.
Cada vila tinha seus próprios padrões e cores exclusivos, o que permitia que os bordados servissem como uma forma de identificação regional. O estilo, as cores e os motivos usados no bordado indicavam não apenas a origem geográfica da pessoa, mas também seu status social, sua condição de vida (se solteira ou casada) e sua situação econômica.
Bordado palestino vai além da arte
O Tatreez é muito mais do que uma expressão de arte; ele carrega um profundo significado cultural, político e social. Durante o século 20, especialmente após a criação do Estado de Israel em 1948 e a dispersão de palestinos em diferentes partes do mundo, o bordado tornou-se um símbolo de identidade e resistência.
Para as mulheres palestinas que viviam no exílio, o Tatreez oferecia uma conexão emocional com sua terra natal, servindo como uma forma de preservar suas tradições e cultura.
Os padrões geométricos e as cores também possuem simbolismos próprios. Por exemplo:
Triângulos podem representar montanhas ou árvores.
Motivos de pássaros são associados à liberdade.
Estrelas e flores simbolizam fertilidade e vida.
Os tons vermelhos e pretos são bastante comuns e tradicionais, mas com o tempo, outras cores passaram a ser utilizadas, dependendo da região e do propósito da peça bordada.
Símbolo de resistência e orgulho
Hoje, o bordado palestino continua a ser um elemento vital da identidade cultural palestina. Ele não apenas preserva as tradições, mas também ganhou destaque internacional como símbolo de resistência política e orgulho nacional. Organizações e cooperativas palestinas têm promovido a arte do bordado como forma de gerar renda para mulheres palestinas, especialmente aquelas vivendo sob ocupação ou em campos de refugiados.
Com o passar do tempo, o bordado palestino também foi incorporado à moda contemporânea, com designers utilizando o Tatreez em peças modernas, como bolsas, cachecóis e até vestidos de noiva, demonstrando como essa arte ancestral continua viva e se adaptando ao mundo moderno.