VIOLÊNCIA POLÍTICA

Como a primeira vereadora muçulmana do Brasil teve seu nome "roubado" por adversário político

Anice Gazzaoui, de Foz do Iguaçu, teve os domínios de dois sites com seu nome comprados por membro da campanha de outro vereador; Justiça intervém

A vereadora Anice Gazzaoui.Créditos: Christian Rizzi/Câmara de Foz do Iguaçu
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A vereadora Anice Gazzaoui (PP), de Foz do Iguaçu (PR), teve seu nome "roubado" na internet por um adversário político. Em julho deste ano, um ex-assessor e atual integrante da equipe de campanha de Adnan El Sayed (PSD), também vereador na Câmara Municipal, comprou dois domínios de sites utilizando o nome da parlamentar: "http://vereadoraanice.com.br/" e "http://www.anicegazzaoui.com.br/".

Esses sites eram usados por Anice para promover sua campanha de reeleição. Ela, que é uma importante liderança muçulmana, é reconhecida como a primeira vereadora de origem islâmica na América Latina. Foz do Iguaçu, cidade de Anice, abriga a segunda maior colônia árabe do Brasil.

Na última sexta-feira (13), o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) decidiu em favor da vereadora, determinando o congelamento dos domínios em questão, o que impede a equipe de campanha de Adnan El Sayed de continuar utilizando-os.

Ao proferir a sentença, a juíza eleitoral Claudia de Campos Mello Cestarolli destacou que, embora a compra de domínios na internet não seja ilegal, já que o registro é concedido a quem o faz primeiro, "a aquisição claramente foi uma tentativa de impedir a vereadora de usar as redes sociais para promover legitimamente sua propaganda, o que deve ser coibido pela Justiça Eleitoral, já que se trata de conduta predatória".

"Observo que, apesar de a aquisição não ser uma conduta criminosa, a 'artimanha' utilizada resultou em constrangimento desnecessário, além de causar espanto, uma vez que é uma manobra rasteira para impedir que uma candidata divulgue sua campanha aos eleitores", escreveu a magistrada.

A defesa de Anice Gazzaoui alega que a vereadora foi alvo de violência política de gênero, argumentando que a compra dos domínios com seu nome visava prejudicar sua campanha eleitoral.

“Não é de hoje que a vereadora Anice Gazzaoui é perseguida por ser uma importante liderança muçulmana no Brasil. A compra de domínios com seu nome foi mais uma tentativa de intimidá-la por parte daqueles que não aceitam ver mulheres na política”, afirmou a advogada Priscilla Bartolomeu, do escritório Peccinin & Alessi Advocacia.

Qual o interesse?

Em entrevista à Fórum, Anice Gazzaoui reiterou que foi alvo de violência política e classificou a situação como "muito triste". Ela revelou que a compra dos domínios por adversários políticos tem causado inúmeros transtornos.

"Eu fico muito chateada com toda essa situação porque isso está me prejudicando de forma muito direta. Quando se fala em criação de dois domínios, existem várias opções de nomes no mundo, e eles escolheram justamente o meu nome pessoal. Isso tem me deixado bastante abalada", declarou a vereadora.

"Isso tem me cansado demais, tem tornado nossa campanha mais difícil, além de me provocar uma violência psicológica que vem junto, além da violência política. Isso nos abala, pois estamos em período eleitoral, e eu deveria estar nas ruas pedindo votos e conversando com as pessoas. No entanto, acabo tendo que me defender de algo tão óbvio... É meu nome, apenas isso. Qual o interesse em usurpar meu nome?", questiona.

"Qual é o interesse de alguém em fazer isso comigo? Eu realmente não sei. Vivemos em uma democracia, há espaço para todos, não há necessidade de agir assim. Eu queria entender por que fizeram isso. Só consegui congelar os domínios através da Justiça, porque em nenhum momento eles se dispuseram a devolver o meu nome, a restabelecer o que é meu direito", concluiu.