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Vaias a Lula no Chile partiram de grupo bolsonarista

Não foram os chilenos que vaiaram o presidente, mas sim brasileiros que estavam em Santiago; mandatário também recebeu aplausos

Lula e Gabriel Boric em Santiago, Chile.Créditos: Ricardo Stuckert
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Circulam nas redes sociais vídeos que mostram vaias ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante sua visita a Santiago, capital do Chile, onde participou de agendas com o mandatário chileno Gabriel Boric e outras autoridades do país. As cenas têm repercutido especialmente entre perfis de bolsonaristas nas redes sociais, sugerindo que Lula teria sido vaiado pela população chilena.

De fato, houve um momento na cerimônia oficial de oferenda de flores no Palácio de La Moneda e durante a chegada de Lula à sede da presidência chilena em que vaias ao presidente brasileiro foram registradas. É possível ouvir pessoas gritando quando o nome do mandatário é citado pelo mestre de cerimônias, e essa manifestação foi captada pela transmissão oficial da TV Brasil.

A reportagem da Fórum apurou, entretanto, que as vaias não partiram de chilenos, mas sim de brasileiros bolsonaristas que estavam em Santiago. Um vídeo, por exemplo, mostra um grupo cantando em português "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão" – um slogan típico de bolsonaristas. Em outro, um brasileiro xinga o presidente de "vagabundo" e puxa uma vaia ao mandatário junto aos seus colegas.

Apesar das vaias dos bolsonaristas, brasileiros apoiadores de Lula também estavam presentes em Santiago, aplaudindo o mandatário e entoando gritos de "olê, olê, olê, olá. Lula, Lula".

Lula no Chile

O Brasil e o Chile, no contexto da visita de Lula, assinaram 19 acordos e outros atos bilaterais em áreas que vão do turismo, ciência e tecnologia, defesa, agropecuária e direitos humanos até as relações comerciais e de investimentos.

Os dois países têm mais de 90 acordos bilaterais em vigor e um comércio equilibrado, mas ainda pouco diversificado. Os acordos assinados vão em busca dessa diversificação.

Em discurso, Lula destacou as colaborações pactuadas para a integração real entre os países, especialmente nas áreas de mudanças climáticas e turismo.

“A integração sul-americana é uma realidade que faz a diferença na vida das pessoas, como demonstra o acordo de isenção de cobrança de roaming que firmamos no ano passado e o acordo de reconhecimento recíproco de carteiras de habilitação que assinamos hoje”, disse Lula.

“Além disso, os desafios representados pelas catástrofes naturais e pelo crime organizado atravessam países. Os incêndios de 2023 no Chile e as enchentes deste ano no Sul do Brasil põem em xeque o negacionismo climático e reforçam a necessidade de cooperação. A proposta chilena de estabelecer um mecanismo regional de resposta a desastres conta com nosso respaldo e nosso apoio”, acrescentou o presidente brasileiro.

Gabriel Boric também reforçou a importância de atos que devem ampliar o fluxo comercial e turístico entre os dois países e ações conjuntas de combate crime organizado e ao tráfico de drogas. Durante o encontro foi assinado um tratado sobre extradição.

Pelas redes sociais, Lula comentou que os governos do Brasil e do Chile atuam pela defesa da democracia e que convidou Boric para a reunião de líderes democráticos contra o extremismo, que Pedro Sánchez e ele organizarão em Nova York (EUA), no contexto da Assembleia Geral da ONU.

Lula chegou ao Chile na noite de domingo (4), e a visita oficial começou, nesta manhã, com a oferenda floral no monumento do general Bernardo O’Higgins, na Praça da Cidadania, em Santiago, capital chinela, um gesto tradicional de líderes que fazem visita de Estado ao país. O general foi o criador do Exército chileno e é considerado o pai da pátria do Chile por sua participação no processo de independência do império espanhol, que se consolidou em 1818.

Esta é a segunda visita oficial de Lula ao Chile, a primeira foi em agosto de 2004, em seu primeiro mandato. Esta viagem estava marcada para o mês de maio, mas foi adiada em razão da crise climática no Rio Grande do Sul. Já Boric esteve duas vezes no Brasil, na posse do presidente Lula, em janeiro de 2023, e na reunião de presidentes da América do Sul, em maio do ano passado.

Após o encontro com Boric e almoço oferecido pelo chileno à comitiva brasileira, Lula foi recebido pelos chefes dos poderes Judiciário e Legislativo do Chile e deve se encontrar com representantes da Latam e da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

No final do dia, o presidente participou do encerramento do Fórum Empresarial Chile-Brasil, que deverá reunir cerca de 500 lideranças dos setores público e privado para discutir assuntos envolvendo o comércio entre os dois países.

Para esta terça-feira (6), estão previstos encontro com a prefeita de Santiago, Irací Hassler, e com o ex-presidente chileno Ricardo Lagos. A volta do presidente Lula para o Brasil está prevista para o início da tarde.