Os afagos de Carlos Bolsonaro (PL-RJ) após ter sido chamado de "retardado mental" e o morde e assopra de Jair Bolsonaro (PL) no ex-coach Pablo Marçal (PRTB) causou irritação em Ricardo Nunes (MDB) e no comando do PL, ligado ao presidente da sigla, Valmdemar da Costa Neto.
Costa Neto foi o fiador do apoio de Bolsonaro à candidatura de Nunes à reeleição em São Paulo. No entanto, a entrada de Marçal na disputa rachou o eleitorado bolsonarista, que ficou ainda mais perdido com a posição oscilante do ex-presidente.
Bolsonaro só aceitou entrar na negociata sobre Nunes após poder indicar o vice: o coronel Ricardo Mello Araújo, ex-presidente do Ceagesp.
Mas, Marçal arrebanhou a ala mais radical do dos apoiadores e colocou Bolsonaro em xeque, ficando em um morde e assopra com o ex-coach.
O ex-presidente chegou a conceder a medalha de imbrochável e posou ao lado do ex-coach. Cobrado a se posicionar a favor de Nunes após o estrago no debate na Band, Bolsonaro foi pra cima do ex-coach, que rebateu em conjunto com os extremistas fazendo o capitão recuar.
Bolsonaro ainda mandou o filho Carlos reatar com o coach mesmo sendo chamado por "retardado mental".
Depois dos dois fatos, Nunes comemorou nesta quinta-feira (29) um telefonema de Bolsonaro. Mas, o ex-presidente logo se retratou dizendo que ligou para Mello Araújo e que o prefeito paulista estava apenas ao lado.
"Para reestabelecer a verdade: fiz uma videochamada para o Mello Araújo, e o prefeito estava do lado. Isso que aconteceu. Eu dei um bom dia para todo mundo e tudo certo. Vida segue, ok?", explicou a Igor Gadelha, do Metrópoles.
A exposição foi a gota d'água e concretizou a nova crise instalada na campanha do atual prefeito, que não consegue estancar a fuga de eleitores rumo ao ex-coach.
Erro estratégico
Na cúpula do PL a avaliação é que Bolsonaro erra duplamente ao apoiar Marçal que, segundo as pesquisas, é derrotado por Guilherme Boulos (PSOL) na simulação de segundo turno - enquanto Nunes venceria o candidato de Lula.
Além da possível derrota eleitoral na maior cidade do país, tida como essencial para 2026, Bolsonaro estaria alimentando um adversário dentro da próprio ultradireita, que pode engoli-lo em 2026.
Os questionamentos também atingem pessoas muito próximas ao ex-presidente, como o filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que tem se mantido distante da eleição paulistana.
A avaliação de aliados próximos é que Marçal colocou Bolsonaro - e o bolsonarismo em xeque - ao disputar o eleitorado radical da ultradireita e arregimentar, mesmo à mercê do capitão, tropas que até então eram consideradas fiéis ao ex-presidente.
O PL já teria sinalizado Bolsonaro que a posição dúbia tem causado uma debandada na campanha de Nunes de aliados do ex-presidente.
O perigo, segundo esses aliados, é que uma parcela desses aliados de primeiro e segundo escalão sejam fidelizados por Marçal, com a abertura de uma dissidência na ultradireita neofascista.
A desconfiança paira ainda em relação a 2026. Embora Marçal tenha se comprometido a não se lançar candidato à Presidência e ao Senado, para não atrapalhar os planos de Bolsonaro e do filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP), há dúvidas sobre a confiabilidade no coach.
Além disso, Marçal pode se lançar candidato ao governo paulista, atrapalhando também os planos de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), que pretende buscar a reeleição.