O candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, foi o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira (26). Na primeira parte do programa, foi mais questionado sobre posicionamentos do passado, sua participação no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e até sobre a Venezuela, com pouco espaço destinado pelos jornalistas para propostas para a capital paulista, que foram mais comentadas na parte final.
No primeiro bloco, foi questionado sobre sua fala dizendo que Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB) eram duas faces do bolsonarismo, sendo perguntado se estaria "normalizando" Marçal. "Eles têm perfis e trajetórias diferentes, mas não se pode também normalizar o Ricardo Nunes. Quando se faz um abismo absoluto, você normaliza um cidadão que diz que o 8 de janeiro não foi tentativa de golpe, como Nunes disse", respondeu.
Na mesma resposta, não poupou críticas ao candidato do PRTB. "O Marçal é um criminoso, com relações do círculo próximo ligados ao crime organizado. Ele foi condenado por golpes bancários. Não partirá de mim a normalização desse sujeito."
Trajetória no MTST
A sua participação no movimento social como líder do MTST também foi tema do programa. "A gente precisa dizer que o movimento dos sem-teto foi alvo de muita mentira e fake news. Desafio a dizer uma casa que o movimento tenha invadido", falou, antes de explicar as ocupações.
"O que movimento fez foi, ao longo do tempo, identificar imóveis em situação ilegal, com mais divida de impostos do que o valor de imóvel. Fez a ocupação de maneira simbólica, e assim conseguiu moradia", disse. "Nós conseguimos dar moradia pra 15 mil pessoas. Sem a caneta na mão. Foram os primeiros apartamentos da história do Minha Casa Minha Vida (da faixa 1) com elevador e três quartos. O movimento deu oportunidade, esperança e dignidade pra milhares de famílias."
Boulos ainda foi questionado sobre protestos como o realizado em frente à casa do então presidente Michel Temer em 2016. "Quando você está num movimento social, representando pessoas que muitas vezes nunca foram escutadas na vida, o seu dever é defender aquelas pessoas com unhas e dentes. Garantir que aquelas pessoas tenham voz e sejam respeitadas", disse, lembrando que o ato se devia à tramitação da PEC do Teto de Gastos, que tirou recursos destinados às políticas de habitação.
Ele também foi perguntado sobre como reagiria, como prefeito, em casos de ocupação. "O meu governo vai ser o governo com menos ocupações da história de São Paulo. O movimento social não faz ocupação por divertimento, faz por necessidade. Se tem diálogo e política habitacional, você muda essa relação totalmente", pontuou. "Se [a ocupação] for em área pública, é dever de ofício. Mas vou dialogar com as pessoas e lidar com um passivo histórico de São Paulo."
O candidato do PSOL aproveitou o tema para questionar a gestão Nunes. "Existe loteamento clandestino feito pelo crime na periferia. Foram feitos nessa gestão sob vista grossa do atual prefeito. É muito fácil falar grosso com quem está na ocupação e falar fino com o crime organizado", apontou.
Venezuela, taxas e Marçal
Outra questão recorrente foi o cenário político venezuelano. "Temos indícios bastante suficientes pra dizer que houve fraude na eleição da Venezuela tanto que o Itamaraty não reconheceu o governo", disse Boulos, que ainda assim seguiu sendo questionado sobre o tema.
"O que me estranha é que sempre me posiciono de forma clara. Acho que tem uma forçação de barra que não precisa", afirmou, se referindo à temática. "A eleição pra São Paulo, impacta para o Brasil, mas impacta alguma coisa pra Venezuela?"
Sobre criação de taxas, Boulos foi assertivo. "Nós não vamos criar nenhuma nova taxa na cidade de São Paulo", se comprometeu. "O problema não é falta de dinheiro, falta prefeito hoje em São Paulo." Também reafirmou que vai acabar com o confisco de 14% em relação aos aposentados da administração municipal.
O candidato foi questionado sobre a administração dos cemitérios, que foram concedidos à iniciativa privada em 2023. "Eu vou trabalhar para revogar a privatização dos cemitérios. O serviço, que já não era bom, conseguiu ficar ainda pior. Criou-se uma indústria da morte em São Paulo", disse.
Quase no fim do programa, Boulos foi perguntado sobre uma declaração de Pablo Marçal a uma sabatina realizada pela CNN, na qual o candidato do PRTB afirmou que a filha de Boulos iria "chorar duas vezes", fazendo referência ao fato do candidato do PSOL ter contado que ela sofreu bullying na escola em função das acusações mentirosas de Marçal.
"Eu desafio o Pablo Marçal, ele diz que tem provas, apresente. Ele não vai apresentar porque é uma mentira abjeta que ele criou." Boulos contou que em 2018 pensou em desistir de sua carreira política porque suas filhas, que tinham à época 7 e 8 anos, ouviram na escola que o pai dela "tomava a casa dos outros". Ele se emocionou ao relembrar a história, mas reafirmou sua impressão sobre o candidato do PRTB. "Já percebi que estamos lidando com um bandido, um criminoso."