Custou mas chegou lá. Quando a Folha publicou ontem, em parceria com Glenn Greenwald, uma reportagem de ataque ao ministro Alexandre de Moraes, feita a partir de um vazamento de ligações no WhatsApp, as perguntas que logo vieram às mentes foram: quem vazou e com que objetivos?
Os vazamentos tinham período demarcado e poucos e constantes personagens, um deles o perito Eduardo de Oliveira Tagliaferro, que trabalhava para o ministro Alexandre de Moraes.
A reportagem trouxe uma pista fundamental para se chegar à origem do vazamento: as datas de início e término delas, como destaca imagem acima.
Agosto de 2022, quando Tagliaferro começou a trabalhar para o ministro Alexandre de Moraes, e maio de 2023, data de sua saída, exonerado por ter sido preso por agressão à mulher, na madrugada de 8 para 9 de maior de 2023.
Na ocasião, seu celular foi apreendido pela polícia paulista do governador bolsonarista Tarcísio de Freitas, como mostra este registro oficial.
Curiosamente, algumas poucas horas após a prisão de Tagliaferro, a deputada bolsonarista Carla Zambeli publicava em seu perfil na rede X, às 7h30:
Duas horas depois, a mesma deputada publicava nova postagem na mesma rede, até com imagem de Tagliaferro na caçapa do camburão da polícia:
Quem a informou? Quem forneceu a ela a imagem?
Provavelmente a polícia bolsonarista de Tarcísio. Que também ficou de posse do celular do perito que trabalhava para Alexandre de Moraes em processos que envolviam, e envolvem ainda, a família Bolsonaro e bolsonaristas, entre eles a própria deputada Zambeli.
Para tentarem fazer uma ligação com os vazamentos da operação Lava Jato, conhecidos como Vaza Jato, divulgados a partir de Glenn Greenwald, o escolheram como destinatário do conteúdo das conversas gravadas que pegaram do celular apreendido de Tagliaferro naquela ocasião.
O objetivo: causar o mesmo efeito da Vaza Jato sobre a Lava Jato, a anulação de toda a operação e a liberdade para os bolsonaristas envolvidos nos casos relatados pelo ministro Alexandre de Moraes. E ainda, de quebra, o impeachment do ministro, inimigo número 1 de Bolsonaro e bolsonaristas. "Xandão, o terror de Bolsonaro", parodiando a infame frase de Bolsonaro no impeachment de Dilma Rousseff com o nome de um assassino torturador.
A notícia caiu como uma bomba e os bolsonaristas correram em peso às redes e ao Congresso, em discursos pedindo a cabeça de Alexandre de Moraes.
Mas a rápida resposta dos ministros do STF em peso e da quase totalidade de juristas, que mostraram que não havia nada de mais na denúncia, um verdadeiro pastel de vento, fez com o que parecia o início de uma crise desmaiasse durante a tarde.
À noite, o Jornal Nacional, que havia repercutido a matéria no dia anterior, voltou a ela, com as declarações dos ministros do Supremo de que não havia nada de ilegal, mas com uma sonora de Flávio Bolsonaro, o senador das rachadinhas e da mansão milionária em Brasília, com ataques ao ministro, para tentar manter o assunto em pauta.
Embora no meio jurídico a denúncia tenha caído no vazio e no político tenha perdido força com o tempo, a mídia em peso voltou à carga nesta manhã em editoriais, tentado fazer o oposto do que se pede de um jornalista — relatar os fatos —, mas criá-los.
O Globo.
Estadão, o mais virulento:
Uma total inversão de valores chamar de tragédia a investigação de criminosos bolsonaristas, suas fake news, seu gabinete de ódio e seu golpismo.
O UOL, do mesmo dono da Folha, forçou a mão ao ridículo ao tentar ligar a reportagem ao caso Watergate e ao mesmo tempo linkar com a Lava Jato (Vaza Jato) usando o procurador de deus Dallagnol e o ex-juiz Moro.
A Folha, que lançou a matéria, continua na mesma linha:
Não satisfeita em ainda soprar vento para tentar inflar um balão murcho, a Folha no meio da matéria ainda oferece links para outras sete no mesmo tom. Olho nos títulos.
Para fechar o círculo, a Folha procurou alguém que teoricamente não teria nada a ver com o assunto, porque não é jurista, nem congressista, nem investigado nos inquéritos de Alexandre de Moraes: o candidato da mídia e do mercado, governador de São Paulo, comandante da polícia paulista, que provavelmente vazou os dados do telefone de Tagliaferro para a Folha, Tarcísio de Freitas.
Círculo fechado.