O presidente Lula e seu ministro da Fazenda Fernando Haddad parecem estar usando a famosa estratégia do mundo dos negócios do "bad cop, good cop" (policial mau, policial bom), explicada assim em Harvard:
Numa negociação de policial bom e policial mau, dois indivíduos ou partes, trabalhando em equipe, estendem uma série de recompensas e punições com o objetivo de obter vantagem sobre sua contraparte.
Uma técnica de sala de interrogatório bem conhecida na aplicação da lei, a estratégia de negociação do policial bom, policial mau no mundo dos negócios envolve um “policial” agindo de “maneira ameaçadora, hostil e abusiva”, enquanto o outro adota uma abordagem “não ameaçadora”, amigável e solidário”, escreve Curtis H. Martin na Nonproliferation Review. O negociador “simpático” pretende ganhar a confiança do alvo e obter uma concessão, para que o alvo não fique preso à oferta desagradável do negociador duro.
Lula joga duro, faz o papel do bad cop, o policial durão e malvado, bate sem parar no presidente do Banco Central, o bolsonarista Roberto Campos Neto, e chegou a dizer sobre o mercado financeiro:
"A Faria Lima tem alguém que quer mais bem ao Brasil do que eu? Que tem interesse de melhorar a vida do povo, mais do que eu? Vamos ser francos? Vocês acham que quando eles estão discutindo o aumento na taxa de juros, eles estão pensando no cara que está dormindo debaixo de uma ponte? No cara que está morrendo de fome? Não pensam, pensam no lucro. E o país tem que ter alguém que pense no povo."
"O mercado sempre precifica desgraça, está sempre trabalhando para não dar certo, está sempre torcendo para as coisas serem piores do que são, na verdade. E a economia vai crescer, vai crescer mais do que todos os especialistas falaram até agora que vai crescer."
Já Haddad faz o good cop e acalma o Mercado:
"Nós vamos manter um ritmo mais intenso de trabalho nesse mês, porque o mês de julho começa a ser montada a peça orçamentária, e em agosto, como vocês sabem, a peça é encaminhada para o Congresso Nacional. Estamos botando bastante força nisso, fazendo uma revisão ampla, geral e irrestrita do que pode ser feito para acomodar as várias pretensões legítimas do Congresso, do Executivo, mas sobretudo para garantir que nós tenhamos tranquilidade o ano que vem".
"Eu tenho dito isso, queremos também rever o gasto primário, estamos dispostos a cortar privilégios. Já voltaram à tona vários temas que estão sendo discutidos de novo, o que é bom, como supersalários, como correção de benefícios que estão sendo praticados ao arrepio da lei, melhoria dos cadastros, isso voltou para mesa, e nós achamos que é ótimo isso acontecer porque vai facilitando o trabalho de entregar as contas", afirmou.
E assim, um mordendo e o outro assoprando, Lula e Haddad vão fazendo o tempo passar, os números do país melhorarem — como vem acontecendo —, aglutinando forças até a troca do comando do Banco Central e do presidente da Câmara, na expectativa de tempos melhores.