Poucas horas após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, levantar o sigilo do inquérito que investiga o desvio de joias do acervo da Presidência da República para serem vendidas no exterior, cujo acusado de chefiar o esquema é Jair Bolsonaro (PL), seu filho Eduardo (PL-SP), que é deputado federal, deu uma confusa entrevista à CNN Brasil, de dentro de um carro.
O rebento 03 do ex-presidente começou sendo questionado sobre os atos atribuídos a seu pai no caso, que pela denúncia da Polícia Federal figura como o ‘comandante’ do esquema de furto e venda ilegal de mais de R$ 6,8 milhões em itens luxuosos pertencentes à União. As joias, relógios e obras de arte foram dadas por diversas nações estrangeiras, sobretudo do Oriente Médio, sendo a Arábia Saudita a mais ‘afamada’ na história pelo fato de ter ofertado um estojo valiosíssimo de joias da Chopard.
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Foi justamente se apegando a isso, ao protagonismo da Arábia Saudita no episódio, que Eduardo fez um apelo desesperado e patético ao príncipe herdeiro da nação islâmica, Mohammad bin Salman. É até difícil de acreditar que tal súplica seja real, visto que, além de não fazer sentido, não mudaria em nada as acusações que pesam contra Jair Bolsonaro.
“Eu aproveito aqui a audiência da CNN e a projeção internacional de você para fazer um apelo ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman: por favor, Mohammad bin Salman, peça de volta esses presentes. Não qualquer tipo de possibilidade de você ter justiça, na avaliação, nessa investigação que estão fazendo, com a clara intenção de perseguir Jair Bolsonaro... Isso já está fazendo ruído diplomático entre os nossos países. Inclusive me comprometo, aqui em primeira mão, na CNN, em oficiar, mandar um ofício à embaixada da Arábia Saudita, independentemente da vontade de Jair Bolsonaro ou não, mas pelo bem das nossas relações diplomáticas, para que a Arábia Saudita peça de volta esses presentes”, disse aflito o deputado filho do ex-presidente.
Ao ser questionado por um dos entrevistadores sobre um trecho revelado nas investigações, no qual seu pai teria respondido com o jargão militar “Selva!” como sinal de positivo a um link de internet que mostraria um relógio de luxo sendo leiloado, Eduardo deu uma resposta lacônica e mencionou um exemplo sem sentido, recusando-se a acreditar no fato que é público e notório, comprovado por prints divulgados pela Polícia Federal, extraídos do celular do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens do antigo mandatário.
“Me desculpe, eu não tive acesso. Você teria a mensagem para ler, para ter esse positivo do presidente, por acaso, por favor? Olha, se eu pergunto à minha esposa ‘vamos sair pra comer uma comida no restaurante’ e ela fala ‘sim, vamos’, ou ‘não, não vamos’... Tá meio estranha essa conversa aí, mas enfim”, retrucou diante da pergunta.
Por fim, o deputado colocou o presidente Lula (PT) no meio de suas respostas, como é habitual entre bolsonaristas questionados sobre algo desconfortável, mencionando um relógio dado em 2005 ao petista por Jacques Chirac, então chefe de Estado da França, no primeiro mandato do atual estadista.
“A Polícia Federal vai investigar, agora, mais uma vez, eu pergunto: onde é que está a ilicitude disso? Por que que o Bolsonaro recebe um relógio e é crime, e por que que o Lula tem um Piaget de R$ 80 mil no braço, dado pelo ex-presidente da França Jacques Chirac, e isso aí não é crime?”, resmungou.
A resposta para a questão de Eduardo Bolsonaro é simples. O próprio TCU decidiu, em 2016, que Lula não precisava devolver o item, uma vez que à época do presente, mais de uma década antes, não existia uma lei que determinasse tal procedimento, como é o caso do período em que Bolsonaro é acusado de desviar as joias. Lula se dispôs a devolver o objeto, mas um parecer técnico do órgão determinou que não seria necessário porque nenhuma lei tem efeito retroativo e o presidente não havia feito nada de ilegal em 2005.