Há três dias, o vice-presidente nacional do PT, deputado federal do Rio de Janeiro Washington Quaquá, numa entrevista à jornalista Hildegard Angel disse que um dia após assassinar Marielle Franco e Anderson Gomes, o ex-PM Ronnie Lessa ligou para Bolsonaro e se encontrou com um de seus filhos.
Mas parece que a notícia não chegou a Lisboa, onde ainda podem estar 160 autoridades brasileiras dos Três Poderes, que se encontravam na capital portuguesa desde a quarta-feira passada, em vez de estarem trabalhando no Brasil, já que as férias só começam agora em julho.
Só pode ser Lisboa a desculpa, com as fartas comemorações no Encontro promovido pelo Instituto do ministro Gilmar Mendes (por que o Encontro não é nas férias, ministro?), onde ocorreram festas em apartamentos de milionários, inclusive uma em comemoração ao aniversário do presidente da Câmara Arthur Lira, que aqui no Brasil continua a ser cobrado por Justiça pela sua ex-mulher e mãe de dois de seus filhos, Jullyene Lins.
Não há notícia de que a Polícia Federal tenha resolvido investigar o ocorrido e, principalmente, explicar ao público por que motivo não estão no inquérito final do caso a ligação de Ronnie Lessa a Jair Bolsonaro e o encontro com um de seus filhos — provavelmente Carlos, que estava no Rio e no Vivendas da Barra, de onde Ronnie Lessa partiu para os crimes.
A revelação de Quaquá
Na entrevista A Hildegard Angel, Quaquá revelou a ligação e o encontro de Ronnie Lessa com a família Bolsonaro, um dia após os Assassinatos.
Quaquá — O Brazão não é culpado pela morte da Marielle.
Hilde — Muita gente acha isso.
Quaquá — Não é culpado. Estão fazendo com o Brazão uma maldade. O Ronnie Lessa, que é o assassino, o vagabundo assassino, de um dos crimes mais brutais que esse país já viu, nunca se reuniu com o Brazão e não conhece o Brazão. Existe na Polícia Civil do Rio de Janeiro uma longa lista de grampos de telefone do Brazão que prova que eles nunca se falaram mesmo. Dizem que perdeu os registros. Não é verdade. Estão nas investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Então, eu não posso ser a favor do... tudo que fizeram com o PT, que esse sistema judicial brasileiro fez com o PT, eu não posso ser a favor de que faça com a pessoa que, de fato, é meu amigo, votou e fez campanha para o Lula em várias eleições. Só uma que ele não fez, foi a penúltima do Bolsonaro. Mas nem que não fosse, que fosse o próprio Bolsonaro. Eu acho que nós temos que ter.. O Estado precisa ter a capacidade de investigar e achar os assassinos da Marielle. Eu... Ela foi assassinada pelo que tem de mais sujo no Rio de Janeiro. Por esses matadores de aluguel que eram ligados à milícia no Rio de Janeiro. E, por incrível que pareça, um dia depois do assassinato de Marielle, o assassino Ronnie Lessa, que entregou o Brazão, ligou para a casa do Bolsonaro e se encontrou com o filho de Bolsonaro.
Hilde — Isso está nos autos?...
Quaquá — Absolutamente. Agora, foi... apartado da investigação da Polícia Federal. Então, é muito esquisito. É muito esquisita essa investigação. Eu não estou dizendo que são os Bolsonaro que mandaram matar. Mas por que não investigaram isso? Por que não foi investigado?
A Polícia Federal precisa esclarecer o assunto. Primeiramente dizendo se é verdadeira ou não a informação fornecida por Quaquá. A partir daí, sendo verdadeira, é bom que a PF esclareça por que não foi anexada ao inquérito final.
Além do mais, a PF poderia esclarecer outros pontos ainda hoje obscuros no caso.
O Porteiro
No dia do crime, o motorista que levou Ronnie Lessa, Élcio Queiroz, foi buscá-lo no Vivendas da Barra, onde Ronnie morava e onde tem residência também o ex-presidente Bolsonaro.
Para entrar no condomínio havia o registro de que Élcio pediu autorização para ir ao apartamento de Bolsonaro. Sua entrada teria sido autorizada pelo próprio Jair Bolsonaro por telefone, segundo anotou no registro da portaria um porteiro que trabalhava há anos no condomínio.
Quando o fato veio a público, Bolsonaro já era presidente e determinou a seu ministro da Justiça da época, o ex-juiz Sergio Moro, que ouvisse o porteiro.
A PF ouviu o porteiro, que desdisse o que dissera, saiu de férias e sumiu do caso. Nunca mais se ouviu falar nele. Por quê?
Nas recentes investigações, agora sob o governo Lula, a PF voltou a ouvir o porteiro?
O registro da portaria
Mas não foi só Sergio Moro que foi até o Vivendas. Carlos Bolsonaro, conhecido como Carluxo, filho do ex-presidente, ao saber da história de que o porteiro citou seu pai como o homem que autorizou o motorista do crime a entrar no condomínio, resolveu agir por conta própria.
Em vez de aguardar a polícia e a perícia nos registros de ligações do condomínio do dia do crime, Carluxo resolveu ele mesmo acessar o registro e divulgar o resultado para a imprensa.
Não seria o caso de obstrução de Justiça? Foi feita uma averiguação para ver se os dados não foram alterados?
Os telefonemas entre as casas de Bolsonaro e Ronnie Lessa
Durante a investigação foram descobertas ligações telefônicas entre as casas de Bolsonaro e Ronnie Lessa. Mas Jair afirmou na época que nem se lembrava "desse cara" (assim se referiu a Lessa). Então, quem teria feito as ligações?
A saída veio de uma declaração de Jair Renan, o filho 04 de Jair, que disse que "pegou" quase todas as mulheres do condomínio, inclusive a filha de Ronnie. As ligações seriam dele para ela. Namoradinhos. Parece que a polícia se contentou com isso.
O caso é que a filha de Lessa, Mohana Lessa, morou nos Estados Unidos por três períodos, de onde contrabandeava armas e peças de armas para seu pai, segundo outra investigação.
Foi feito o cruzamento das ligações para saber se Mohana estava nos EUA ou no Vivendas da Barra quando as ligações da casa de Bolsonaro para a de Lessa foram feitas?
Ela deu depoimento à PF confirmando o namoro e as ligações?
PGR e PF
O que a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal têm a dizer sobre a revelação feita por um deputado federal, vice-presidente do PT, partido do presidente da República?