Após o 8/1, o coronel bolsonarista Jorge Eduardo Naime, se firmou na extrema direita, tendo recebido ajuda financeira de patriotas pelos pedidos de Pix feitos por sua esposa nas redes sociais. Como “justificativa”, Mariana Fiuza Taveira Adorno Naime declarou estar enfrentando “dívidas urgentes” e viver uma “situação econômica delicada”, promovendo a imagem do marido como um preso político para arrecadar doações.
Mariana abriu uma conta no X, antigo Twitter, em setembro de 2023, após ter classificado o corte do salário de Naime pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como uma “tortura psicológica”. Os pedidos de contribuição financeira nas redes sociais começaram logo depois que o salário foi suspenso. Enquanto esteve detido, o coronel Naime ainda contou com o respaldo público de vários políticos bolsonaristas.
Te podría interesar
Em julho de 2023, um grupo de 19 senadores e deputados federais formalizou pedidos à CPMI dos Atos Antidemocráticos solicitando a liberação. Na Câmara Legislativa do Distrito Federal, a deputada bolsonarista Bia Kicis (PL-DF) celebrou a soltura do coronel: “oficial honrado”, escreveu. Nikolas Ferreira (PL-MG) chegou a produzir um “documentário” para Naime.
Atualmente, a família do coronel mora em uma residência de alto padrão em um condomínio fechado em Vicente Pires, que está passando por uma reforma com Pix doado pelos “patriotas”, com ênfase nas melhorias ao redor da área da piscina.
Jorge Eduardo Naime, ex-chefe do Departamento de Operações (DOP) da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), não ocupava o cargo em 8 de janeiro de 2023, quando extremistas invadiram os edifícios da Praça dos Três Poderes em uma tentativa de golpe de Estado.
1º militar da PMDF preso no 8/1
Na época, Naime estava de licença-recompensa e é atualmente acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de não ter agido para prevenir os atos antidemocráticos. Ele foi o primeiro oficial de alta patente da PMDF a ser preso em conexão com as investigações sobre os eventos de 8 de janeiro.
“Nossa família está contando com sua ajuda, seja doando ou compartilhando nossos dados. Cada gesto faz a diferença. Venha fazer parte dessa união”, escrevia a esposa do coronel. Veja outras mensagens publicadas por ela:
Durante o período em que era militar da ativa, entre março de 2022 e fevereiro de 2023, Jorge Eduardo Naime Barreto recebeu pelo menos dez depósitos em dinheiro, totalizando R$ 50.900, sem identificação da origem pela instituição financeira. A Procuradoria-Geral da República (PGR) documentou esses depósitos e levantou a possibilidade de Naime utilizar a conta bancária de Mariana Fiuza Taveira Adorno para receber valores indevidos.
O documento ainda indica que Naime mantinha relações econômicas aparentemente ilícitas com um homem chamado Sérgio Assis. Por exemplo, ele teria utilizado recursos públicos da polícia para transportar R$ 1 milhão em favor desse indivíduo. Sérgio era sócio de Mariana na época.
Em outubro de 2023, a campanha de arrecadação contou com um vídeo de uma major da Corregedoria da PMDF, fardada, solicitando Pix para a família de Naime. A Associação dos Oficiais da PMDF (ASOFPMDF), presidida por Naime antes de sua prisão, também estava arrecadando fundos, principalmente de membros da corporação. Enquanto os patriotas faziam contribuições através das redes sociais, Cristiane Caldeira, tesoureira da entidade, e o coronel Leonardo Moraes, presidente da ASOF, afirmaram que o dinheiro arrecadado era “totalmente destinado aos familiares” e para “manutenção das famílias”.
O coronel, que é réu, responde ao processo em liberdade provisória, sob medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de sair do DF ou usar redes sociais. Ele prestou depoimento virtualmente em maio deste ano. Além de Naime, outros seis PMs estão sendo investigados no mesmo inquérito. O processo está em fase de diligências para a coleta de provas, e, em seguida, começará a fase de alegações finais antes da sentença.
O que diz esposa de coronel
Mariana diz ter “compromisso com a verdade” e que “recebeu doações e apoio enquanto o salário esteve bloqueado e enquanto o provedor de sua família esteve preso”. “Quando da ida à reserva, ele [o marido] recebeu valores/acerto da polícia e tem utilizado em casa. Essa associação que se faz é tendenciosa”, disse em nota ao Metrópoles.
*Com informações de Metrópoles
Outro lado
Mariana Fiuza Taveira Adorno Naime publicou em suas redes sociais nesta segunda-feira (22) um posicionamento em relação à matéria e afirmou que a reforma foi apenas no telhado. "As pessoas são muito maldosas e têm tentado a todo custo manchar e destruir nossa reputação! O momento em que pedi apoio financeiro foi quando o Naime, ainda preso, teve suspenso seu salário, única fonte de renda que tínhamos para pagar despesas de casa como um todo, tratamento de saúde dos nossos filhos, medicações, alimentação, advogados, empréstimos e por aí vai. Sobre a 'reforma', foi apenas a troca do telhado da nossa área do fundo, somente APÓS a soltura do Naime e com o DINHEIRO do acerto da aposentadoria que a PMDF devia a ele, pelo trabalho prestado de 31 anos e por inúmeras férias que nunca tinham sido tiradas.", disse.
Relembre o Pix para Bolsonaro
A vaquinha criada por aliados do ex-presidente atingiu R$ 18 milhões de reais e contou até com doação de presos pelos atos terroristas do 8 de janeiro. O levantamento foi realizado por técnicos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos de 8 de janeiro no ano passado por intermédio de informações da quebra de sigilo bancário do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
De acordo com uma reportagem do site Metrópoles, a soma de todos os valores recebidos pelo ex-presidente passava de R$ 18 milhões e mostrou que Bolsonaro recebeu doações de recursos, via Pix, de 18.082 servidores federais já no governo do presidente Lula (PT). Além disso, a CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) identificou transferências realizadas via PIX por subordinados e por uma empresa de segurança ao coronel Naime.
Sob alegação de que Bolsonaro era vítima de um “assédio judicial” e que precisava conseguir recursos para pagar multas, os depósitos foram feitos por “patriotas”, sob argumentos muito semelhantes ao do coronel.