Os extremistas Gustavo Gayer (PL-GO) e Júlia Zanatta (PL-SC) enviaram um Requerimento de Informação (RIC) ao Ministério da Fazenda na tentativa desesperada de incluir o ministro Fernando Haddad em uma tese estapafúrdia para defender o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) nas investigações sobre a chamada Abin Paralela, esquema de arapongagem ilegal montado por Jair Bolsonaro (PL) para criar dossiês para atacar desafetos e auxiliar os filhos em processos.
ENTENDA: Ouça grampo em que Bolsonaro interfere em investigação contra Flávio
Nos documentos, que lista uma série de perguntas, os parlamentares bolsonaristas defendem a tese estapafúrdia de que Flávio foi "vítima" de servidores da Receita Federal que produziram o Relatório de Informações Financeiras (RIF) por meio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que revelou o esquema de corrupção das chamadas "rachadinhas" no gabinete dele, quando era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
"Requeiro que sejam solicitadas informações ao Sr. Ministro da Fazenda, em relação a suspeita que um grupo de servidores da Receita Federal do Brasil - RFB, realizaram acesso de forma irregular a dados sigilosos de alvos determinados, com fins políticos, visando prejudicar certos parlamentares", diz Gayer.
Na Representação, o deputado goiano pergunta, por exemplo, se o Ministério da Fazenda adotou "medidas" contra os servidores da Receita por fazerem seu trabalho e apontarem as inconsistências financeiras do filho "01" de Jair Bolsonaro.
"Qual a atual situação desses servidores? Eles continuam afastados de suas funções? Foram punidos? Se sim, qual a
punição imposta?", indaga Gayer sobre os servidores, que já produziram mais de mil comunicações de indícios de crimes pelo Coaf, entre eles o de Flávio.
Em linha com o colega, Júlia Zanatta diz que "Flávio Bolsonaro foi alvo desta operação ilegal e clandestina", sem entrar no mérito da questão.
"Quais servidores foram identificados como responsáveis pelos acessos indevidos aos dados fiscais de Flávio Bolsonaro entre 2016 e 2020?", indaga a deputada em uma das 13 perguntas em que propõe uma "caça às bruxas" dos servidores.
Áudio divulgado
Os requerimentos foram protocolados após a divulgação do áudio da reunião realizada em 25 de agosto de 2020, no Palácio do Planalto, em que Bolsonaro, Alexandre Ramagem, o general Augusto Heleno, e as advogadas Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, que defendem o senador, tramam um sistema de espionagem ilegal contra os servidores para a produção de dossiês para serem usados no processo.
Num trecho crítico da conversa, aos 48 minutos, após tratarem longamente de um caminho para descobrirem quem são os auditores da Receita Federal chegaram a relatórios contra o senador Flávio Bolsonaro, e como o fizeram, o então presidente da República diz diretamente no diálogo para procurar o chefe do Dataprev, Gustavo Canuto, que foi ministro do Desenvolvimento Regional no governo Bolsonaro. A sugestão é para uma finalidade obviamente ilegal.
Já o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), alerta que a ação não pode “vazar”, naturalmente por se tratar de uma atitude criminosa. Bolsonaro então responde que Heleno pode confiar em chefe do Dataprev: "Meu ministro".
Naquele momento a reunião já estava se encaminhando para o final e, aos 51 minutos de gravação Bolsonaro anuncia que precisa sair porque “mais de cinquenta empresários” o aguardavam. Os presentes então começam a definir tarefas, quando o ex-presidente dispara: “O que acontece, o que acontece? Ninguém gosta de tráfico de influência".
A ironia da afirmação é que ela foi feita, exatamente, no momento em que Bolsonaro praticava tráfico de influência.
O que diz Flávio?
Em vídeo nas redes sociais, Flávio tenta desqualificar o teor das gravações, ironiza a conversa de seu pai com Ramagem e diz que não há nada demais. "O gabinete do ódio da esquerda mais uma vez inventando mentiras a meu respeito, descontextualizando as falas que estão naquele áudio da gravação da reunião entre o Bolsonaro e as minhas advogadas em que elas simplesmente mostram ali todas as covardias, os crimes que estavam sendo cometidos contra mim. Estavam informando ao presidente, que não fez absolutamente nada."
"E o que o presidente fala é muito claro. Quando você ouve o áudio que estão aí tirando do contexto. 'Parece que a culpa de tudo o que está acontecendo é do Flávio'. Na verdade ele está querendo fazer uma crítica. Porque há mais de 20 deputados que estavam sendo investigados em determinada operação e somente meu caso andava, somente o meu caso aparecia na imprensa como se tudo fosse culpa minha", ironiza Flávio Bolsonaro.
Apesar da tentativa, o senador Flávio Bolsonaro não conseguiu responder ou explicar o óbvio: por que suas advogadas tiveram uma reunião com seu pai, Ramagem e Augusto Heleno? Qual era o interesse deles no seu caso?