ELEIÇÕES 2024

Nunes, conhecido como o prefeito que anistia imóveis, é player do mercado imobiliário

O observatório De Olho nos Ruralistas publicou um dossiê sobre a Topsul Empreendimentos, empresa do prefeito que conta com participação de seus aliados na zona sul de São Paulo

Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo.Créditos: Rovena Rosa/Agência Brasil
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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição nas eleições municipais de outubro, é conhecido por sua política de anistia de imóveis. Também é conhecido por sua vida como empresário, em que coleciona empresas de diversas áreas. O que não era notório ao público diz respeito à sua atuação no mercado imobiliário, como o dono da Topsul Empreendimentos.

Um dossiê sobre a empresa do prefeito foi publicado nesta quarta-feira (10) pelo observatório De Olho nos Ruralistas em forma de documentário. Ao longo do filme são expostas as relações de poder que permeiam o entorno de Nunes no que se refere à empreiteira. No centro está a Aesul (Associação Empresarial da Região Sul), que em episódio anterior da série foi chamada de “República de Interlagos” pela reportagem por ser o “braço empresarial de Nunes e seus aliados na região”.

Nunes tornou-se sócio da Topsul Empreendimentos em 2008, quatro anos depois de assumir a presidência da Aesul. Assim como ele, todos os fundadores da empreiteira são oriundos daquela organização. Entre eles estão Fábio Goulart, Dino Brugnera, Tânia Machado e Robson Nunes, irmão do prefeito.

Dino Brugnera, falecido em 2016, virou nome de praça na Cidade Dutra, bairro localizado na região de Interlagos e próximo ao Autódromo e ao condomínio Green Village, onde a chamada “República de Interlagos” se reúne. O projeto para que ele fosse homenageado foi proposto na Câmara Municipal pelo próprio Ricardo Nunes, quando ainda era vereador, e anunciado em 2018 na sede da Aesul, durante evento que inaugurava a “galeria dos presidentes” da organização.

Além de sócio de Nunes, Dino Brugnera era pai de Márcio Brugnera, que foi o chefe de gabinete do atual prefeito em 2013, durante seu primeiro mandato como vereador. Também foi presidente do conselho deliberativo da Aesul durante os anos 90.

Márcio Brugnera, por sua vez, presidiu a Aesul entre 2007 e 2009 e, durante seu tempo com Nunes na Câmara Municipal, o auxiliou com o fracassado projeto de construir um aeroporto em Parelheiros, bairro da zona sul. Também foi secretário de obras de São Paulo durante a gestão de Gilberto Kassab (DEM, à época do mandato). Kassab hoje é secretário de Governo e Relações Institucionais do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Fábio Goulart também saiu da Aesul para a Topsul. Ele é filho do ex-deputado Antonio Goulart e irmão do vereador Rodrigo Goulart, apontado pelo observatório como “influente na Comissão de Política Urbana da Câmara”. A família é dona de uma cachaçaria, filiada à Aesul. A família também é dona da Companygraf, gráfica que prestou serviços para campanhas passadas de Nunes e rendeu uma condenação a Antonio Goulart.

Tânia Santos Machado, outra sócia original da Topsul, saiu da Aesul. Mas é esposa do empresário Valderci Malagosini Machado, ex-subprefeito da Capela do Socorro e Santo Amaro, presidente da Aesul nos anos 2000 e ex-secretário de obras de Embu-Guaçu. A família também atua no mercado imobiliário por meio da Malagosini Empreendimentos. O principal empreendimento está justamente na região da Capela do Socorro, zona sul de SP.

Robson Nunes, irmão do prefeito, ficou por pouco tempo na TopSul Empreendimentos. Depois de um ano que a empresa foi fundada, vendeu sua parte a Ricardo Nunes em 2008. Ele então saiu da sociedade no mesmo ano.

Em 2011 foi a vez de Tânia Machado e Dino Brugnera saírem. No lugar deles, entrou para a sociedade a dona Maria do Céu, mãe de Ricardo Nunes. Ela é ex-presidente da Câmara Municipal de Embu-Guaçu.

A partir de 2017, Ricardo Nunes passou a ser o único sócio da empresa e em 2021, quando fez sua última declaração de bens, a Topsul era avaliada em R$ 133,2 milhões.

O observatório encontrou dois empreendimentos em nome da Topsul. Um deles é um terreno em Parelheiros que continha uma pequena casa caipira e uma enorme área de Mata Atlântica. A mata já foi derrubada, o terreno terraplanado e o local, atualmente avaliado em R$ 5 milhões de reais, deve se transformar num condomínio empresarial.

O processo de liberação para a construção do condomínio foi aberto em 2007 e só foi parcialmente aprovado em 2023 em trajetória que marcou as ligações entre a Aesul, ou “República de Interlagos”, e o poder público municipal.

“Depois de presidir a Aesul e de fazer sociedade com outros líderes da organização, Ricardo Nunes conseguiu torná-la assessora para seus projetos de lei, como ele mesmo explicou em 2020”, diz a reportagem, que em seguida mostra uma fala do atual prefeito em que admite que os projetos de lei que buscavam anistiar imóveis e facilitar empreendimentos foram redigidos a partir da organização, uma interessada direta na lei.

A Prefeitura emitiu nota em que repudia o que considera “ilações irresponsáveis feitas pelo site, que se utiliza de informações falsas para atingir a reputação do prefeito e de sua família”.

Assista o filme a seguir para saber mais detalhes