Com interesses na PEC 03/2022, que privatiza áreas sob controle da Marinha e abre espaço para o controle privado das praias, a Globo abriu espaço para o relator no Senado, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), defender a proposta em entrevista no jornal O Globo, porta-voz político da família Marinho.
LEIA TAMBÉM:
Privatização das praias: Flavio Bolsonaro se contradiz na Globo; Marinha já se pronunciou
Privatização das praias: veja como votou seu deputado no projeto
Te podría interesar
Um dos donos da Globo, João Roberto Marinho, é sócio de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central durante segundo governo FHC, Fazenda Ponta dos Castelhanos, um mega resort de luxo com 1651 hectares localizada na Ilha de Boipeba, no sul da Bahia. A área da propriedade corresponde a 20% do território de toda a ilha e está em boa parte dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA).
Na edição desta quarta-feira (5), O Globo destaca na entrevista de Flávio que o "filho do ex-presidente afirma que objetivo da proposta é acabar com os impostos de foro e laudêmio, garante não atender a interesses privados e enfatiza que acesso ao mar jamais será bloqueado".
Te podría interesar
As perguntas feitas levantam a bola para o filho "01" de Bolsonaro impor sua narrativa de que o projeto não resultará na privatização de praias, embora, na entrevista, Flávio admita que atua para tornar realidade o projeto do pai de "transformar Angra em uma 'Cancún brasileira'”.
"Sim, há uma lógica de estimular o turismo e investimentos", diz quando indagado sobre o projeto sobre o pai. "Quem quiser comprar um imóvel dessas áreas, tratará diretamente com o proprietário, sem precisar da União", emenda.
Na mesma resposta, Flávio ainda ressalta que a "legislação ambiental, um monte de coisa" traz insegurança jurídica aos "investidores" e em seguida mostra as pretensões de se "passar a boiada" com a aprovação da PEC.
"Infelizmente, para fazer empreendimento em Angra, Salvador, qualquer lugar de Alagoas [NR.: onde Neymar tem investimentos], seguirá existindo toda uma burocracia ambiental", diz.
Ao explicar o "infelizmente", o filho de Jair diz que "falo 'infelizmente' porque minha posição é de que isso deveria ser muito mais desburocratizado", em consonância com a destruição da legislação ambiental promovida pelo pai. "Quem tenta fazer um deque para encostar uma lancha de 20 pés em um condomínio em Angra, passa por um parto para conseguir uma autorização", exemplifica em seguida.
Interesses
Logo na primeira pergunta, Flávio é indagado sobre "quais interesses o senhor está atendendo ao tratar de um tema como esse". Na resposta, o senador sai em defesa do jogador Neymar, que tem empreendimentos no litoral de Alagoas e Pernambuco.
"Não tenho interesse pessoal nisso, não sou proprietário de área beneficiada, não estou levando dinheiro do Neymar nem do empreendimento que ele fará. Isso é narrativa. Quero desconstruir a fake news de privatização das praias", se defende.
Flávio, então, coloca em marcha a narrativa de que quer acabar com as taxações sobre "o foro, o laudêmio e a taxa de ocupação, a fim de dar segurança jurídica para que as pessoas possam ser de fato as proprietárias".
"Eles acham que o Estado tem que tomar conta de tudo", diz em crítica alinhada com a Globo contra o governo Lula.
O senador, então, enfatiza que fará mudanças no texto "que torna obrigatório a um proprietário privado garantir o acesso a uma coisa pública como a praia".
Flávio ainda afirma que vai insistir para que Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado que já disse que não pretende dar seguimento à PEC, coloque o tema em pauta.
"Pacheco não tem posição firmada, mas vou convencê-lo. Estou adorando a discussão. Quero vencer o ministro Alexandre Padilha. Tenho feito isso com frequência, aliás", se gaba ao final.