A ex-mulher do presidente da Câmara Arthur Lira, Jullyene Lins, publicou um comentário na rede X, antigo Twitter, fazendo uma ligação entre a tentativa de golpe militar ontem na Bolívia e os golpistas brasileiros.
Jullyene, que acusa o ex-marido de agressões, ameaça de morte, falsificação de documentos, sonegação de impostos e estupro, vê a impunidade do que que ela chama de "autocratas que flertam com ditadores golpistas no nosso Congresso Nacional", numa possível indireta ao presidente da Câmara Arthur Lira, como um alerta para o perigo que ainda corre nossa democracia.
Jullyene Lins faz questão de estar presente nas redes até como uma forma de protesto à censura que sofrem matérias com denúncias feitas por ela contra Arthur Lira, especialmente a da Agência Pública com a acusação de estupro, que é de 21 de junho do ano passado e se encontra sob censura desde setembro.
A matéria da Pública censurada
O que a censura não está permitindo que as pessoas saibam sobre o caso
À repórter Alice Maciel, a ex-mulher de Lira Jullyene Lins fez uma revelação que não denunciou na época, segundo disse, por vergonha, medo do que as pessoas iriam falar, receio em relação aos filhos. Mas que não aguentava mais e achava que precisava falar, 17 anos depois, inclusive porque os filhos já estão crescidos.
“Arthur Lira me estuprou”, disse.
A reportagem censurada de Pública traz documentos que comprovam o depoimento de Jullyene à repórter: Boletim de Ocorrência com a denúncia das agressões; laudo de exame de corpo de delito; depoimento da delegada reforçando as acusações de violência; cópia do depoimento oficial da babá, que socorreu Jullyene e foi com ela à delegacia; depoimentos da mãe e do irmão de Jullyene na delegacia confirmando os fatos. Tudo isso referente apenas às agressões, não ao estupro, somente revelado no ano passado.
Mais adiante, os três disseram à Justiça que teriam "assinado sem ler" seus depoimentos e voltaram atrás. Jullyene, que também voltou atrás em seu depoimento, diz que todos agiram assim — inclusive ela —ameaçados por Arthur Lira.
Lira para a ex-mulher: "Onde não há corpo não há crime".
Há também a cópia de um documento de medida protetiva que impedia Lira de se aproximar de Jullyene. Inclusive há uma ordem de prisão contra ele por desobedecer a proibição.
Tudo isso subiu para o Supremo quando Lira se transformou em deputado federal.
Nove anos depois das agressões, em 2015, após as testemunhas e mesmo Jullyene voltarem atrás nas denúncias, Lira foi inocentado no STF. De todas as acusações. Menos a de estupro, que não estava em julgamento.
Graças a essa decisão, matérias estão sendo censuradas, sem levar em conta que:
- Jullyene Lins alega agora que voltou atrás graças às ameaças que teria sofrido de Lira
- Jullyene adicionou denúncia nova e mais grave, a de estupro
Tentativa de golpe na Bolívia e no Brasil
Em sua publicação de ontem no X, Jullyene postou quatro fotos:
- do presidenta da Bolívia, Luis Arce, vitorioso após controlar a tentativa de golpe
- do governo boliviano na sacada do Palácio com a legenda "O povo da Bolívia derrotou o golpe!"
- do deputado Arthur Lira com a legenda: "Lira, Tarcísio e Bolsonaro jantam juntos em Brasília e discutem sobre 2026"
- de Lira cobrindo a boca conversando com Bolsonaro com a legenda "Lira pauta urgência de projeto que anula delações e favoreceria Bolsonaro"
No texto da publicação, Jullyene Lins comemora a vitória sobre o golpe e faz a ligação do que aconteceu na Bolívia com a situação no Brasil:
A DEMOCRACIA VENCEU MAIS UMA VEZ!
A militarização das escolas, principalmente em megalópoles sob o comando de autocratas que flertam com ditadores golpistas no nosso Congresso Nacional, ainda é um grande risco para a nossa frágil democracia! Vamos nos lembrar que ainda não estamos livres de um golpe, enquanto não tivermos uma justiça forte e imparcial, que não se mostre submissa a corruptos ou corruptores. A falta de postura republicana de autoridades no nosso país ainda nos faz reféns dessa grave situação que se avizinha e que muito se assemelha ao que passamos recentemente por lunáticos fundamentalistas (golpistas) que foram as ruas, única e exclusivamente como bois de piranha, apenas para serem presos, enquanto os idealistas do verdadeiro golpe, esbaldam-se em luxo e poder na capital distrital!