"A SERVIÇO DO BRASIL"

Folha dá destaque a autores que defendem que Bolsonaro não tentou golpe

Jornal paulista vem há algum tempo publicando conteúdos que “passam pano” para ex-presidente golpista, minimizando suas ações criminosas enquanto esteve no Planalto

Jair Bolsonaro grita e insulta jornalistas no Palácio da Alvorada.Créditos: GloboNews/Reprodução
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Não é de hoje que a Folha de S.Paulo vem publicando conteúdos que de alguma maneira embasam ou dão legitimidade discreta para as ações criminosas e tresloucadas de Jair Bolsonaro (PL) durante o período em que ele ocupou o Palácio do Planalto. Presidente abertamente autoritário e o mais declarado antidemocracia após o fim da Ditadura Militar (1964-1985), o líder da extrema direita brasileira tentou se perpetuar no poder subvertendo o processo eleitoral e tramando um levante das Forças Armadas para dar um golpe de Estado, segundo dois dos três comandantes que estavam no cargo durante o final de seu mandato, assim como outros assessores e apoiadores investigados pelo Supremo Tribunal Federal.

Agora, às vésperas de ter que acertar contas com a Justiça, a Folha põe no ar uma matéria divulgando um livro cujos “especialistas” autores garantem que Bolsonaro jamais esteve prestes a dar um golpe, mesmo com milhares de seguidores celerados invadindo e destruindo a sede da Presidência da República, o Congresso Nacional e o STF, enquanto dos EUA o ainda presidente assistia tudo em segurança, com seus correligionários mais próximos envolvidos no motim.

“Por que A Democracia Brasileira Não Morreu?”, publicado pela Companhia das Letras, é de autoria de Marcus André Melo e Carlos Pereira, ambos cientistas políticos, sendo o primeiro um colunista da Folha. Na obra, que é abordada em uma matéria do ‘jornalão’, os autores afirmam que a democracia brasileira jamais esteve em risco com Bolsonaro, mesmo após a convulsão golpista do 8 de janeiro de 2023.

“Se por um lado a fragmentação partidária pode ser considerada um empecilho à governabilidade, por outro ela pode funcionar como um antídoto institucional contra iniciativas iliberais e antidemocráticas de presidentes populistas”, justifica Melo, segunda a Folha, em seu livro, usando como argumento para a “solidez democrática” do país, de forma alguma ameaçada por Bolsonaro, de acordo com ele, o fato de nosso sistema político, o “presidencialismo de coalizão”, ser uma espécie de “antídoto institucional contra iniciativas iliberais e antidemocráticas de presidentes populistas”.

A certa altura da matéria, o autor diz que “Apesar de seu discurso autoritário, o então presidente barganhou com o Congresso em condições desfavoráveis. Conseguiu votos suficientes para barrar eventual processo de impeachment, mas não para tocar sua agenda”. A afirmação é tão absurda que parece até que o esquema de “irrigação” promovido por Bolsonaro na Câmara e no Senado, assim como a frouxidão com o Legislativo, permitindo que toda a súcia de deputados e senadores sem escrúpulos tomasse o Congresso, não aconteceu.

É difícil afirmar com exatidão onde a Folha quer chegar com essa defesa velada de Bolsonaro após todos os arroubos do monstrengo fascista, inclusive direcionados à imprensa, tendo a Folha como um dos alvos principais. Entretanto, o que é possível cravar sem medo de errar é que o diário da Barão de Limeira definitivamente não está fazendo um “bom e isento jornalismo”, como gosta de dizer, uma vez que a história de Jair Bolsonaro no poder fala por si só e não deixa dúvidas.