Novas conversas da Operação Spoofing obtidas através de ataque hacker mostram membros da força-tarefa da Operação Lava Jato manifestando a intenção de “destruir” a J&F. Os diálogos se deram, de acordo com informações da coluna Grande Angular do portal Metrópoles, durante as negociações de um acordo de leniência.
A intenção dos procuradores, segundo os diálogos gravados em maio de 2017, seria "compensar" a suposta percepção de "impunidade" gerada pela delação dos donos da empresa, Wesley e Joesley Batista.
As conversas ocorreram no grupo do Telegram “Filhos de Januário” logo depois da delação de um dos proprietários da empresa virem a público, no dia que ficou conhecido como Joesley Day.
Os procuradores criticavam os termos da delação proposto pela Procuradoria-Geral da República e planejavam medidas mais duras para “compensar”. É importante ressaltar que o assunto não era de competência da força-tarefa.
O acordo de leniência que era criticado pelos procuradores do Paraná previa multa de R$ 10,3 bilhões à J&F. As tratativas, que foram fechadas no dia 5 de junho de 2017, eram de responsabilidade da força-tarefa da Operação Greenfield, de membros do Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal, e incluíam, também, crimes investigados nas operações Sépsis, Cui Bono e Carne Fraca.
A despeito disto, em uma das mensagens, do dia 20 de maio, um dos procuradores da Lava Jato afirma: “agora é ir contra a empresa e destruí-la”. Não consta a autoria da frase nos documentos da Operação Spoofing. A mensagem, no entanto, é atribuída ao ex-procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima. Ele compartilhou com os colegas do grupo um post que faria no Facebook e, ao fim do texto, tinha a assinatura com o nome completo de Carlos Fernando. Outras mensagens, também sem autor, foram respondidas por outros integrantes citando “CF”, as iniciais de Carlos Fernando.
Dallagnol
Antes das mensagens atribuídas a Carlos Fernando, o ex-procurador Deltan Dallagnol falou no grupo, em 19 de maio de 2017: “Seria bom ajudarmos a neutralizar isso”. “Muitos voluntários colocando duas coisas: a) Vários falando que Temer tem que falar pela economia assim como Cunha ‘tinha que ficar’ pelo impeachment, na visão deles. b) Absurdo os batistas [Joesley e Wesley] nos EUA rindo da nossa cara. Seria bom esclarecermos algo nesse sentido. Seria bom ajudarmos a neutralizar isso”, escreveu Deltan, às 20h12.
No dia seguinte, às 14h59, Deltan voltou à carga: “Tô falando com a PGR. A nota que largaram hoje foi péssima. Precisam gravar um pronunciamento. Vídeo. [Rodrigo] Janot”. O procurador Athayde Ribeiro Costa comentou, às 15h: “Estamos perdendo a guerra da comunicação”.
O outro lado
A coluna Grande Angular procurou os procuradores citados no texto. Carlos Fernando dos Santos Lima, que está aposentado e agora é advogado afirmou não reconhecer nenhuma mensagem. “A Lava jato não participou dessa operação de maneira alguma”, reiterou.
Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, ex-coordenador da Força-Tarefa Greenfield, afirmou que a preocupação dos procuradores responsáveis pelo acordo de leniência da J&F “era, mais que a punição dos crimes, a recuperação dos valores para lidar com o problema dos fundos de pensão que teria impacto social”. “Os contribuintes iriam pagar contribuições extraordinárias por conta do rombo causado pela J&F”, disse.
“Consideramos a capacidade de pagamento da holding. Se fosse para ‘destruir a empresa’, iríamos prejudicar a principal estratégia do acordo homologado pela 5ª Câmara de Coordenação e Revisão, que era recuperar os valores dos fundos de pensão”, alertou.
Anselmo disse ainda que não havia nenhum trabalho em conjunto com os procuradores do MPF em Curitiba.
Com informações da coluna Grande Angular, do Metrópoles