O grande volume de material obtido pela Polícia Federal (PF) em suas diligências fez com que o prazo para encerramento das investigações sobre o caso das joias obtidas ilegalmente por Jair Bolsonaro, a princípio previsto para maio, fosse adiado. A apresentação do relatório final sobre as apurações, que deve culminar no indiciamento do ex-presidente, entretanto, está próxima: o documento deve ser divulgado em junho.
Segundo Bela Begale, colunista do jornal O Globo, o novo prazo dado pela PF para concluir os trabalhos se deu após a ida de investigadores brasileiros aos Estados Unidos.
No país da América do Norte, os policiais contaram com a cooperação do FBI com o objetivo de obter mais detalhes sobre as transações financeiras supostamente feitas nos EUA, no âmbito do esquema, pelo ex-presidente, seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid e seu pai, o general Mauro Lourena Cid.
Os policiais fizeram diligências em cidades como Miami, na Flórida; Wilson Grove, na Pensilvânia; e Nova York. Durante a colaboração internacional, documentos e informações bancárias dos suspeitos foram enviados ao Brasil.
Bolsonaro é investigado por apropriação indevida de joias e outros artigos de luxo dados como presente ao Estado brasileiro por governos de outros países em viagens oficiais. Segundo o que foi divulgado até o momento pela PF, o ex-mandatário e sua esposa, Michelle Bolsonaro, entraram no país da América do Norte em dezembro de 2022 com joias milionárias dadas pelo governo da Arábia Saudita, sendo que algumas delas teriam sido vendidas.
Em depoimento recente à PF, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que trocou mensagens com um potencial comprador das joias e declarou que seguia as orientações de Bolsonaro. Disse, ainda, que chegou a ir pessoalmente a uma loja nos EUA para negociar um relógio de luxo, avaliado em R$ 350 mil na época. A questão é que os presentes recebidos por presidentes em viagens oficiais pertencem ao Estado e não podem ser comercializados.
Cid foi preso em março por desrespeitar termos do acordo de delação premiada e voltou a ser colocado em liberdade no início de maio, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O pai de Mauro Cid, general Lourena Cid, também é alvo das investigações. Ele é apontado como envolvido no esquema das joias.
Operação Lucas:12
A escândalo do esquema de venda de artigos de luxo nos EUA veio à tona a partir da Operação Lucas 12:2, realizada pela Polícia Federal em agosto de 2023, com mandados expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF. Os alvos, todos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, são suspeitos de terem se apossado de bens valiosíssimos do Estado brasileiro, dados por autoridades estrangeiras, que estariam sendo vendidos no exterior para que o dinheiro fosse entregue ao ex-ocupante do Palácio do Planalto.
Os federais o acusam explicitamente nos autos de fazer parte e ser o principal beneficiário de uma organização criminosa que desviava objetos valiosíssimos da Presidência da República, que eram contrabandeados para o exterior, para então serem vendidos e os valores repassados em espécie ao político de extrema direita habituado a um discurso duro anticorrupção e moralista. A ida dele para os EUA, em 30 de dezembro de 2022, ainda no cargo, teria sido para utilizar o avião presidencial no esquema, apontam os documentos do inquérito.