OPERAÇÃO FIM DA LINHA

As relações entre o presidente da Câmara de SP e "Pandora", dono de empresa de ônibus preso por suposta ligação com o PCC

Empreiteira de Milton Leite celebrou contrato para reformar uma garagem de uma das cooperativas que deu origem à empresa de ônibus investigada por suposto esquema com PCC

O vereador Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo.Créditos: Luiz França/Divulgação
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O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite (União Brasil), tem uma longa história de proximidade com Luiz Carlos Pacheco, conhecido como Pandora, que foi preso nesta terça-feira no âmbito da Operação Fim da Linha, do Ministério Público (MP-SP) que investiga a relação de empresas de ônibus contratadas pela prefeitura da capital paulista e o crime organizado. 

A relação de Leite e Pandora começa ainda nos anos 90, quando o vereador se aproxima da Cooper Pam, cooperativa de lotações que operava na zona Sul da cidade. Em 2006, Pandora chegou a ser preso sob a acusação de ter financiado uma tentativa de resgate frustrada na Cadeia Pública de Santo André. Há quase 20 anos, as suspeitas já recaiam sobre sua relação com o crime organizado. 

Na época, o Ministério Público Estadual também investigou o contrato entre a empreiteira de Milton Leite e a Cooper Pam. Leite admitiu que sua empresa investiu R$ 4,5 milhões na construção de uma nova garagem da cooperativa, na região de Santo Amaro. 

Em 2009, Pandora foi um dos principais apoiadores da "Copa Vereador Milton Leite", um campeonato de várzea na periferia. “A Copa foi uma homenagem prestada por amigos, que até estão pagando pelo prêmios”, disse Leite, em entrevista ao Estadão, na época. Ele explicou que a Cooper Pam era uma das financiadoras do torneio. 

Em 2020, a Transwolff, empresa de ônibus criada a partir da cooperativa, também foi uma das apoiadoras, junto com outras empresas de ônibus, da campanha milionária de Milton Leite para a Câmara Municipal. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Leite declarou a mais cara campanha para vereador de todo o país. 

Outro lado

Fórum entrou em contato com Milton Leite, via assessoria de imprensa, para obter um posicionamento do vereador sobre a prisão de Luiz Carlos Pacheco e suas relações com o dono da empresa de ônibus investigada pelo MP. O espaço está aberto para eventual manifestação. 

Operação Fim da Linha 

Quatro mandados de prisão preventiva e 52 de busca e apreensão contra dirigentes das empresas de ônibus da capital Transwolff e Upbus foram efetuadas na manhã desta terça-feira (9).

Entre os alvos da operação, 41 são da cidade de São Paulo e os demais são de Barueri, Cotia, Guarujá, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Itaquaquecetuba, Itu, Mauá, Santana de Parnaíba, São Bernardo do Campo e São José dos Campos. Também foi autorizado judicialmente o arresto, sequestro e bloqueio de bens dos alvos de mais de R$ 600 milhões.

A ação, batizada de Operação Fim de Linha, foi deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a Polícia Militar e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

As duas organizações são acusadas de lavarem recursos ilícitos do Primeiro Comando da Capital (PCC), provenientes de tráfico de drogas, roubos e outros delitos, por meio de duas empresas de ônibus que atuam no transporte urbano de passageiros na cidade de São Paulo.

Quatro alvos foram presos até o final da manhã desta terça-feira: Luiz Carlos Pacheco, conhecido como "Pandora", dono da Transwolff, preso dentro de casa; Robson Flares Lopes Pontes, dirigente da Transwolff, preso na garagem da empresa; Joelson Santos da Silva, sócio e representante legal de um escritório contabilidade; e Elio Rodrigues dos Santos, preso em flagrante por porte ilegal de arma em um dos endereços onde foram feitas buscas.

A SPTrans, estatal de transporte coletivo da capital, deverá assumir imediatamente a operação das linhas administradas pelas empresas Transwolff, que atua na Zona Sul, e da Upbus, que administra linhas na Zona Leste, por determinação da Justiça de São Paulo.

*Julio Barros é jornalista