Elon Musk, bilionário dono da rede X, parece disposto a patrocinar um golpe de Estado no Brasil.
Após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite deste domingo (7), o empresário conservador liberou uma live do blogueiro Allan dos Santos no perfil Terça Livre, que foi bloqueado pela Justiça brasileira, para parte dos usuários via aplicativo no celular.
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Musk também reiterou a apoiador de Jair Bolsonaro (PL) que vai liderar um levante fascista no país, assim como fez na Bolívia em 2019, quando patrocinou um golpe contra Evo Morales em grande parte pelos interesses nas reservas de lítio do país andino.
"Esta é uma batalha pelo futuro da civilização. Se a liberdade de expressão for perdida, a tirania é tudo o que temos pela frente", escreveu em inglês um perfil apócrifo bolsonarista com imagem do Cristo Redentor. "Sim", respondeu Musk às 23h57.
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A decisão de Moraes, de abrir nova investigação e incluir o bilionário no inquérito das fake news, ocorreu por volta das 21h.
Confrontando a Justiça brasileira, Musk ainda liberou, por volta das 22h, uma live de Allan dos Santos no perfil Terça Livre, bloqueado após propagar discurso de ódio e fake news na horda bolsonarista, foi aberta e pode ser acessada por parte dos usuários via aplicativo.
Em cerca de uma hora, a live com ataques a Moraes teria sido vista por cerca de 10 mil usuários, entre eles a deputada Júlia Zanatta (PL-SC), que comemorou o feito na rede.
O acesso foi liberado para parte dos usuários do aplicativo na configuração brasileira, o que é crime de desrespeito à ordem judicial.
Antes disso, Musk fez uma publicação ensinando usuários bolsonaristas da Rede X a burlarem os bloqueios dos perfis, que acontecem somente na versão brasileira da rede, via Virtual Private Network, a VPN - um tipo de conexão que permite ao usuário se identificar como se estivesse em outro país.
"Para garantir que você ainda possa acessar a plataforma ?? , baixe um aplicativo de rede privada virtual (VPN)", escreveu o bilionário.
Ataques
Na noite deste domingo, Moraes decidiu incluir Musk no inquérito das fake news após uma série de ataques orquestrados pelo bilionário contra ele, o STF, o Governo Lula e a própria democracia brasileira.
“As atividades desenvolvidas na internet são regulamentadas no Brasil, em especial pela Lei 12.965/14 (Marco Civil da Internet) (…) O ordenamento jurídico brasileiro prevê, portanto, a necessidade de que as empresas que administram serviços de internet no Brasil atendam todas as ordens e decisões judiciais, inclusive as que determinam o fornecimento de dados pessoais ou outras informações que possam contribuir para a identificação do usuário ou do terminal, ou ainda, que determinem a cessação da prática de atividades ilícitas, com bloqueio de perfis”, diz trecho da decisão de Moraes.
Ao final da decisão, Moraes determina a inclusão de Elon Musk no inquérito das fake news, acusado de “dolosa instrumentalização criminosa.” Ele também proibiu a empresa de reativar perfis tirados do ar por decisão judicial e determina a abertura de investigação contra o magnata por suspeita de obstrução de justiça.
“A provedora de rede social X deve se abster de desobedecer qualquer ordem judicial já emanada, e inclusive realizar qualquer reativação de perfil cujo bloqueio foi determinado por essa Suprema Corte”, finaliza a decisão.
O “Twitter Files Brazil”
Os ataques começaram na última quarta-feira (3) com a divulgação do, assim chamado, Twitter Files Brazil, pelo jornalista americano Michael Shellenberger. O dossiê do profissional ganhou muito destaque em meios de extrema direita por expor supostas conversas entre o Judiciário brasileiro e a cúpula do escritório do Twitter no Brasil. Para o jornalista, os insistentes pedidos de retirada de portagens, perfis e entrega de dados de usuários que difundem fake news – a maioria de extrema direita – seriam “ameaças à liberdade de expressão e à democracia”.
Nos dias subsequentes o próprio Elon Musk passou a fazer ataques a Moraes e ao Governo Lula. Em relação ao ministro do Supremo, sugeriu que renunciasse ou sofresse um processo de impeachment.
O Brasil reagiu aos ataques da extrema direita global. A Advocacia-Geral da União respondeu a Musk com um pedido de que voltasse à pauta a regulação das redes sociais. No Congresso, o deputado federal Orlando Silva (PcdoB-SP), que é relator do PL das Fake News, pediu que o texto volta a ser discutido.
Ricardo Cappelli, o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), chegou a pedir o banimento do Twitter no Brasil. E o PT, partido do presidente Lula, publicou uma nota firme em que definiu a conduta do bilionário como um “atentado à soberania".
Anatel deixa operadoras de sobreaviso
Também neste domingo (7) a imprensa nacional noticiou que Moraes teria notificado a presidência da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) pedindo os procedimentos necessários para tirar o X do ar. De acordo com matéria do Uol, o contato teria sido feito via Superior Tribunal Eleitoral (TSE).
Carlos Baigorri, presidente da Anatel, então teria acionado as operadoras de telefonia e internet para que ficassem de prontidão para tirar a plataforma do ar caso chegasse uma ordem do Supremo.
Pouco antes, Elon Musk fez postagens contra Moraes, intimando-o a pedir renúncia e os meios de comunicação nacional apontavam que o escritório do X no Brasil aguardavam ordens do bilionário para recolocar no ar os perfis retirados pelo STF.
Bolsonaro admite que Musk serve aos seus interesses
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), investigado por tentar dar um golpe de Estado, gravou um vídeo nas redes sociais ao lado do seu filho Eduardo para comentar o caso. Durante a gravação, ele admite que Elon Musk está agindo para favorecer os seus interesses e solta mais uma bravata: “amanhã teremos mais informações”.
“Sobre a questão do Twitter, que é o assunto do momento, eu não quero me precipitar e falar algumas coisas porque até amanhã mais informações teremos. Também vamos ver o que podemos fazer via Partido Liberal (PL) para que a nossa liberdade de expressão seja garantida. E nós temos agora um apoio de fora do Brasil muito forte”, disse Bolsonaro.