O vereador Carlos Bolsonaro esteve ontem na Câmara dos Vereadores do Rio, o que por si só já seria notícia, já que as presenças dele chegaram a ser colocadas sob sigilo, na época da presidência de seu pai, em que ele declarava presença virtual, mas com microfone e câmera desligados.
Ontem, Carluxo, como é conhecido, chegou a discursar, quando homenageou o amigo e colega no inquérito sobre a "Abin Paralela", deputado federal Alexandre Ramagem, PL, pré-candidato do Partido à prefeitura do Rio, de quem Carlos é coordenador da campanha.
O motivo não foi a candidatura, embora a claque fosse grande nesse sentido, mas a concessão da maior honraria do legislativo carioca, a Medalha Pedro Ernesto, a Ramagem, a pedido do vereador Rogério Amorim, irmão de Rodrigo Amorim, que se tornou conhecido por quebrar a placa de Marielle Franco.
Em seu discurso, Carluxo elogiou o homenageado, mas dedicou boa parte de seu tempo criticando o processo da "Abin Paralela" e o mandado do ministro Alexandre de Moraes — sem citá-lo — para que fossem feitas busca e apreensão em sua casa e escritório, o que chamou de "covardia extrema".
"Eu jamais pensei que fosse passar por um momento que eu passei. Uma covardia extrema. Jamais pensei no Ramagem como presidente da Abin e então deputado federal fosse passar pelo que passou. Imagino o que passa na cabeça da Rebeca, sua esposa, e da sua família. Um trauma desnecessário, covarde" — discursou.
O plano da "Abin paralela", de que trata a investigação de que Carlos Bolsonaro e Ramagem são alvo, foi trazido a público pelo falecido Gustavo Bebianno, em março de 2020, no programa Roda Viva, da TV Cultura.
Na entrevista, Bebianno disse que o vereador Carlos Bolsonaro tinha a intenção de usar a estrutura federal para espionar adversários políticos. Segundo Bebianno, os ex-ministros Augusto Heleno (GSI) e Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo) tinham ciência do plano e o próprio Jair Bolsonaro teria participado de reuniões para a criação do grupo paralelo de arapongagem, e ele, Bebianno, o teria alertado do risco, que poderia levá-lo a um processo de impeachment.
O inquérito da Polícia Federal sobre a "Abin Paralela", que Carluxo chama de "uma covardia", aponta que Alexandre Ramagem imprimiu relatório com informações sigilosas sobre inquéritos eleitorais no Rio.
Mostra também print de mensagens de WhatsApp entre uma assessora de Carlos Bolsonaro, Luciana Almeida, e Alexandre Ramagem, com pedido de informações sobre "PR e 3 filhos".
As investigações da Polícia Federal sobre a "Abin Paralela" ainda estão em curso.