TENSÃO ENTRE PODERES

André Mendonça pede vista após STF formar maioria para ampliar foro privilegiado

"Terrivelmente evangélico", ministro nomeado por Bolsonaro paralisou julgamento após Luís Roberto Barroso votar pela medida, que na prática impede a manobra de políticos investigados de abandonar o mandato para levar processo à 1ª instância.

André Mendonça observa Luiz Fux e Luís Roberto Barroso no STF.Créditos: Gustavo Moreno/SCO/STF
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A guerra de aliados de Jair Bolsonaro (PL) e de políticos do Centrão cooptados pelo discurso da ultradireita contra o Supremo Tribunal Federal (STF) ganhou mais uma frente de batalha na madrugada desta sexta-feira (12) com a análise do processo que deve ampliar os poderes da corte sobre investigações de parlamentares.

Presidente do STF, Luís Roberto Barroso acompanhou o relator, Gilmar Mendes, e votou a favor da ampliação do foro privilegiado. O entendimento é que, em casos de crimes cometidos por autoridades no cargo, o foro especial seria mantido, mesmo após a saída da função.

Com o voto de Barroso, o Supremo formou maioria, de seis votos, para ampliar o foro. Além de Barroso e Gilmar, votaram pela ampliação do foro Cristiano Zanin, Dias Toffoli, Flávio Dino e Alexandre de Moraes. 

Em seu parecer, o decano do STF argumenta que "a prerrogativa de foro para julgamento de crimes praticados no
cargo e em razão das funções subsiste mesmo após o afastamento do cargo, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados depois de cessado seu exercício".

Na prática, a medida impede que deputados, senadores e outras autoridades com foro deixem o cargo para levar os processos à primeira instância - uma manobra recorrente, principalmente por parlamentares emparedados pela Justiça.

Em seu voto, Barroso deixou claro a manobra, defendendo "a necessidade de solucionar o problema das oscilações de competência, que continuam produzindo os efeitos indesejados de morosidade e disfuncionalidade do sistema de justiça criminal". 

"Entendo adequado definir a estabilização do foro por prerrogativa de função, mesmo após a cessação das funções", emendou.

Minutos após o voto de Barroso, durante a madrugada, o "terrivelmente evangélico" André Mendonça, alçado à corte por Bolsonaro, pediu vista e paralisou o julgamento. o julgamento acontece em plenário virtual.

Ao formar maioria, o Supremo muda a jurisprudência de 2018, que faz com que a ação permaneça no Supremo, quando a autoridade deixar o cargo, apenas se estiver nas alegações finais.

A ampliação dos poderes do Supremo sobre processos envolvendo autoridades com foro privilegiado acontece em um momento de extrema tensão com o bolsonarismo e o Centrão no Congresso Nacional.

Enquanto bolsonaristas costuram uma articulação internacional para propagar a narrativa da "ditadura do judiciário", que seria comandada por Alexandre de Moraes, o Centrão, capitaneado por Arthur Lira (PP-AL), está enfurecido com as ações da Justiça contra parlamentares, que culminou na prisão de Chiquinho Brasão (Sem partido / ex-União-RJ), acusado de ser o mandante do assassinato de Marielle Franco.