O golpe militar de 1964 começa mentindo na data — 31 de março —, quando ele foi efetivado no dia 1º de abril, o tradicional Dia da Mentira.
A segunda mentira é de que o golpe atendeu a um clamor popular. É uma mentira que seguem repetindo ano após ano, com a exceção deste, quando não haverá a tradicional nota comemorativa do golpe.
No primeiro ano do governo Bolsonaro, a nota dos militares dizia:
As Forças Armadas, atendendo ao clamor da ampla maioria da população e da imprensa brasileira, assumiram o papel de estabilização daquele processo.
Que tenham colocado a imprensa no meio é bastante significativo. Porque a imprensa brasileira em peso era a favor do golpe. Como continuou e continua a ser ao longo de nossa História, como no impeachment de Dilma e na prisão de Lula para impedi-lo de disputar a presidência em 2018.
Mas, voltando à nota de 2019: houve mesmo um "clamor da ampla maioria da população"?
Uma pesquisa do Ibope realizada com eleitores de oito capitais entre os dias 9 e 26 de março de 64, mostra que 49,8% dos pesquisados admitiam votar em Jango caso ele pudesse se candidatar à reeleição. 41,8% não. Uma diferença de 8 pontos percentuais, muito além da margem de erro, mesmo com toda a campanha contra o governo feita pela imprensa "escrita, falada e televisionada", como se dizia na época.
Uma outra pesquisa do Ibope no mesmo período mostra o apoio ao presidente Jango em números:
Avaliação do governo João Goulart
- Ótimo e bom - 45% (15% e 30%)
- Regular - 24%
- Péssimo - 16%
Desde quando 16% são a "ampla maioria da população"?
O golpe foi made in USA, insuflado pela burguesia, pela imprensa e pela igreja católica reacionária, que se juntaram na famosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade, feita em resposta ao histórico discurso de Jango na Central do Brasil em 13 de março.
Imprensa e as marchadoras foram contra o discurso de Jango. Mas, e o povo?
Outra pesquisa feita pelo Ibope no período revela que 59% dos ouvidos eram a favor das medidas anunciadas por Jango no histórico comício da Central do Brasil, no Rio, no dia 13 de março de 64. As propostas incluíam a desapropriação de terras às margens de rodovias e ferrovias e o encampamento das refinarias estrangeiras.[Folha]
Dizer que o golpe atendeu ao "clamor da ampla maioria da população" é, portanto, outra mentira das Forças Armadas.
O golpe foi contra a reforma agrária, a educação popular, as reformas populares propostas por Goulart; em resumo, o golpe de 1964 foi contra o povo brasileiro.