LINHAS CRUZADAS

Nebulosas ligações entre assassino de Marielle e Bolsonaro

Quem ligou pra quem no Vivendas da Barra, e por que porteiro mudou depoimento após visita da PF de Moro a mando de Bolsonaro

Créditos: Reprodução da internet
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São pelo menos duas as nebulosas ligações entre Ronnie Lessa, o assassino agora confesso de Marielle Franco e Anderson Gomes, e Jair Bolsonaro.

Uma é com relação à autorização da entrada do motorista do carro do assassinato, Élcio Queiroz, ao condomínio Vivendas da Barra, onde moram Lessa e Bolsonaro.

Segundo as informações iniciais, Élcio foi autorizado a entrar no condomínio por Jair Bolsonaro. Foi o que informou por escrito nas anotações da portaria o porteiro, que trabalhava há bastante tempo no condomínio. A autorização teria sido dada por Bolsonaro via telefone.

A desculpa de Bolsonaro é de que estava em Brasília, por isso não poderia ter dado a autorização. No entanto, no condomínio há a possibilidade do porteiro se comunicar com o telefone do morador, o que neutraliza a resposta de Bolsonaro.

Foi investigado o celular ou qualquer outro aparelho de posse do à época deputado federal Jair Bolsonaro para averiguar se ele recebeu ou não a ligação do condomínio?

A investigação do caso ficou nublada a partir do momento em que Bolsonaro, como presidente, ordenou ao ex-juiz Sergio Moro, à época seu ministro da Justiça, que investigasse o caso.

O porteiro, que, repito, trabalhava no prédio há bastante tempo, de repente, após visita da PF, voltou atrás e desdisse o que havia afirmado. Nunca foi divulgado o depoimento oficial. Apenas houve a informação de que ele disse que havia se enganado. Nunca mais se tocou no assunto.

A outra ligação nebulosa se refere a várias ligações telefônicas entre o aparelho da casa de Ronnie Lessa e o de Bolsonaro no condomínio.

Por que aquelas ligações, se Bolsonaro afirmou várias vezes que nem conhecia Lessa?

A resposta veio do delegado que "investigava" o caso, Giniton Lages: as ligações não eram entre Lessa e Bolsonaro, mas entre a filha de Lessa, Mohana, e o filho Jair Renan de Bolsonaro, que teriam sido namorados.

Sabe-se agora que o delegado Giniton, que até escreveu livro sobre o assunto, estava envolvido no acobertamento do caso; portanto, sua declaração é no mínimo suspeita.

Curiosamente, nunca se ouviu declaração de Mohana sobre o tal namoro. Mais: durante muito tempo Mohana viveu nos Estados Unidos. Bateram as datas de ligações com o paradeiro dela? Mais: onde se viu dois jovens namorados em pleno século 21 se comunicarem por telefones fixos e não por celulares?

E se as ligações não fossem entre Mohana e Jair Renan, nem entre Lessa e Jair Bolsonaro, mas entre Lessa e Carluxo, o filho de Bolsonaro que disse que estava na Câmara do Rio na hora da entrada de Élcio Queiroz no condomínio, mas depois se desdisse, quando teria atendido para receber uma pizza?

Longe de estar encerrado, o caso dos assassinatos de Marielle e Anderson ainda tem muitas pontas soltas à espera de investigação e esclarecimento.

 

Antonio Mello é autor de "ELA", "Madame Flaubert" e outros, escreve no Blog do Mello e aqui na Fórum. Conheça e veja como comprar livros do Mello