Um vídeo inédito pode colaborar com as investigações contra o deputado federal Carlos Alberto da Cunha (PP-SP), conhecido como Delegado da Cunha, que é réu em acusação de violência doméstica. Na gravação, ele confirma a versão da ex-companheira Betina Grusiecki.
No vídeo, gravado por Betina, é possível escutar os xingamentos e ameaças do deputado. "Pode parar porque se não eu vou te matar aqui", diz Da Cunha, e repete seguidas vezes que iria matá-la.
Te podría interesar
Em 15 de outubro, Betina registrou boletim de ocorrência contra Da Cunha, que teria cometido os crimes de violência doméstica, lesão corporal, injúria e ameaça. A denúncia foi feita por ela no 3º Distrito Policial, de Santos (SP), e o caso foi investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher do Município (DDM).
Segundo seu relato, eles estavam em união estável há mais de três anos. Na noite do dia anterior, o deputado chegou em casa alcoolizado e iniciou uma discussão, na qual a insultou de "putinha" e disse que ela "não servia para nada".
Te podría interesar
Depois das ameaças de morte, o áudio da gravação confirma a versão de Betina, de que ele teria empurrado a cabeça da namorada contra a parede, ao mesmo tempo em que apertava seu pescoço. "Ele me empurra com força no banheiro, segurando meu pescoço, até o momento que ele me sufoca", conta ela.
Desta forma, Betina desmaiou e retomou a consciência, enquanto Da Cunha continuou batendo sua cabeça na parede e dizendo "Desmaia aí". Na gravação, é possível escutar a respiração ofegante da então namorada, que tentava manter sua consciência em meio às agressões.
LEIA TAMBÉM: Bolsonarista, Delegado da Cunha é indiciado por peculato
O Ministério Público está de acordo com a gravação. "O denunciado também apertou o pescoço da vítima (esganadura), fazendo com que ela perdesse a consciência. Quando ela voltou a si, o denunciado bateu mais uma vez a cabeça dela contra a parede", indica o relatório produzido a partir das investigações e depoimentos.
Ao longo das agressões, ele também teria quebrado seu óculos, jogado cloro em suas roupas e ameaçado matá-la com tiros. Então, ela grita pedindo para que ele a soltasse, e para que os filhos do ex-namorado chamassem a polícia.
Os rostos de Betina e do deputado aparecem de relance na gravação. Ciente disso, o deputado tentou um acordo com a ex-namorada: "Eu sei que estou errado. Pago a indenização dela. [...] Mas acho que não tem necessidade de a gente ir até o final [com a denúncia]", solicitou.
"Eu só não queria mais exposição pública. Queria que você conversasse com ela para não lançar esse vídeo porque esse vídeo acaba com a minha vida."
Sem foro privilegiado
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) decidiu que o deputado federal não terá direito a foro privilegiado no processo em que foi acusado de espancar sua namorada, em outubro do ano passado.
O entendimento da Justiça seguiu a tese do Supremo Tribunal Federal (STF), de que a prerrogativa de foro privilegiado ocorre somente quando há relação entre o crime cometido e o exercício do cargo, no caso, de deputado federal.
Como regra, os processos originam-se em primeira instância e podem ser levados, por meio de recursos, à segunda instância. De acordo com a decisão, o caso de violência contra mulher será julgado em primeira instância
O outro lado
Em depoimento à polícia de Santos, Da Cunha afirmou ter agido em legítima defesa, tendo em vista que a namorada é "lutadora profissional de muay thai e fisiculturista" e teria agido com comportamento provocativo e agressivo.
“Subitamente, Betina começou a empurrá-lo com força para sair e, com o fim de se proteger, esticou o braço na altura do pescoço de Betina, sem apertá-lo”, diz o texto do depoimento à Polícia. “Esta começou a simular que estava desmaiando, e se projetou ao solo”, segue o relato.
O deputado ainda afirmou que o secador atirado pela mulher provocou um corte no supercílio esquerdo e o deixou atordoado.
O advogado Eugenio Malavasi, que representa Da Cunha, comentou sobre o vídeo: "Eu vou pedir a submissão desse vídeo a perícia. Porque esse vídeo não foi periciado [...] Não estou falando que é inverídico, mas não passou pelo crivo do Instituto de Criminalística, não foi submetido À perícia oficial".
"Dentro de um contexto. Se ele disse isso, foi dentro de um contexto de cólera, dentro de um contexto de briga. Nós somos homens. Quando digo homens, seres humanos. Seres humanos têm discussões de casais. Um fato isolado na vida do deputado não pode estar embrionariamente ligado com exercício do mandato de deputado federal, do deputado delegado da Cunha"