A queda do sigilo dos depoimentos à Polícia Federal (PF) no âmbito da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado supostamente liderada por Jair Bolsonaro pode ser o elemento que faltava para que seja aberto um processo de cassação contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Ao liberar o acesso ao conteúdo dos depoimentos, nesta sexta-feira (15), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), trouxe à tona uma revelação feita pelo ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro do ar Carlos Almeida Baptista Júnior: a de que Zambelli o teria pressionado para contribuir com o plano golpista de Jair Bolsonaro.
A própria deputada admitiu o relato ao tentar ironizá-lo em publicação feita no X, o antigo Twitter: "Eu não sabia que Generais de alta patente aceitavam pressão de uma deputada de baixo clero. Nossas Forças Armadas já tiveram comandantes melhores. Triste", escreveu Zambelli.
O envolvimento de Carla Zambelli que com tentativa de golpe de Estado torna sua situação política ainda mais complicada. Logo após a notícia vir à tona, a bancada do PSOL na Câmara adicionou o depoimento de Baptista Júnior a uma representação pela cassação da parlamentar que já havia sido protocolada na Casa.
“É fundamental que a representação chegue ao Conselho de Ética: e a cassação da Deputada Carla Zambelli, mais do que uma possibilidade, agora se torna um imperativo”, diz um trecho o documento anexado à representação.
Em agosto de 2023, o PSOL protocolou na Câmara um pedido de cassação de Zambelli que já apontava movimentações golpistas da deputada. À época, o hacker Walter Delgatti Neto, ao ser confrontado na CPMI dos Atos Golpistas, disse que Zambelli e seus auxiliares financiaram suas despesas enquanto tramavam uma invasão às urnas eleitorais e a produção de um “código-fonte fake” que pudesse ser transformado em propaganda da campanha de Jair Bolsonaro contra o sistema eleitoral brasileiro.
“O depoimento do hacker Delgatti à CPMI que investigou os atos golpistas do 8 de janeiro nos trouxe elementos contundentes da participação da deputada Zambelli em mais uma tentativa de agitação golpista. A deputada que correu atrás de um homem estando armada em São Paulo, agora é apontada por um membro do alto escalão das Forças Armadas como não só uma agitadora do golpe, mas uma das principais articuladoras junto a instituições de Estado. Esperamos a apuração e a cassação da parlamentar, pois a sua função não condiz com aspirações que atentem contra o Estado Democrático de Direito”, afirma o líder da bancada do PSOL em exercício, deputado Pastor Henrique Vieira.
Reação bizarra
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) teve uma reação bizarra à divulgação do depoimento do ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), o brigadeiro do ar Carlos Almeida Baptista Júnior, à Polícia Federal (PF). Nesta sexta-feira (15), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou o acesso ao conteúdo de 27 depoimentos feitos no âmbito do inquérito que apura tentativa de golpe de Estado no Brasil supostamente liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em seu depoimento, Baptista Júnior, que não teria topado aderir ao plano golpista do ex-mandatário, revelou ter sido pressionado por Carla Zambelli a contribuir com o golpe de Estado almejado pelos radicais bolsonaristas. O militar narrou à PF que foi procurado pela parlamentar no dia 8 de dezembro de 2022 durante formatura de aspirantes da FAB em Pirassununga, no interior de São Paulo.
Dias antes, ele esteve em uma reunião com Bolsonaro juntamente com outros comandantes das Forças Armadas, quando rechaçou que participaria de quaisquer atos contra a democracia.
"Brigadeiro, o senhor não pode deixar o presidente Bolsonaro na mão", disse Carla Zambelli, tentando atrair a atenção do militar.
Baptista Júnior, no entanto, diz que não pensou duas vezes e detonou a tentativa de coação da extremista.
"Deputada, entendi o que a senhora está falando e não admito que a senhora proponha qualquer ilegalidade", fulminou o brigadeiro, reportando a tentativa de achaque ao ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que também tentaria cooptar o apoio do colega dias depois.
Ao repercutir a divulgação do depoimento de Baptista Júnior, a deputada Carla Zambelli fez uma publicação desconexa na rede X (antigo Twitter), e chega a admitir que é uma parlamentar do "baixo clero".
"Eu não sabia que Generais de alta patente aceitavam pressão de uma deputada de baixo clero. Nossas Forças Armadas já tiveram comandantes melhores. Triste", escreveu.
A verdade, entretanto, é que o comandante da FAB não aceitou a pressão de Zambelli. Pelo contrário, conforme mostra trecho de seu depoimento.
Confira: