Em depoimento à Polícia Federal, o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, confirmou que a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres, logo após o 8 de janeiro de 2023, foi exatamente a mesma que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou aos chefes militares numa reunião em que propôs um golpe de Estado. O documento serviria de bússola para operacionalizar a ruptura institucional então pretendida pelo extremista que ocupou o Palácio do Planalto.
A tal reunião a que Freire Gomes se refere ocorreu em 14 dezembro de 2022, quando a derrota de Bolsonaro já estava sacramentada e a hora de deixar o cargo se aproximava. O encontro foi convocado pelo então ministro da Defesa, o também general Paulo Sérgio Nogueira. Estavam presentes também o tenente-brigadeiro Carlos Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica, e o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha. As informações sobre o teor do depoimento do general à PF são do jornal Folha de S. Paulo.
Conhecido desde o começo de 2023, quando foi apreendido na casa de Torres, que estava em viagem aos EUA no momento do ataque às sedes dos Três Poderes da República, em Brasília, embora fosse o secretário de Segurança Pública naquele momento, a minuto foi pela primeira vez colocada na cena do crime engendrado por Jair Bolsonaro. O que se sabia até então era que o texto, naturalmente, era parte da empreitada golpistas, mas Freire Gomes fez saber que o papel foi apresentado para os chefes militares para que fosse apreciado e eles embarcassem no levante criminoso.
Freira Gomes confirmou ainda a presença de Anderson Torres na reunião e revelou que ele funcionava como uma espécie de “especialista em dar suporte jurídico” para as ações que seriam adotadas no decorrer e após o planejado golpe, que acabou não ocorrendo. O general contou ainda que as teses usadas pelos que aderiram ao golpe eram baseadas numa interpretação esdrúxula do artigo 142 da Constituição Federal que foi disseminado pelo jurista Ives Gandra, que numa leitura torpe colocou as Forças Armadas como Poder Moderador no país.
Outra informação comprometedora dada por Freira Gomes foi a de que ele mantinha contato permanente com o tenente-coronel Mauro Cesar Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, e era ele quem deixava o comandante do Exército informado sobre as novidades quando o assunto era a tentativa de golpe.