ELEIÇÕES 2024

Datafolha: Boulos tem desempenho baixo na base lulista, mostra estudo

Deputado do PSOL conta com o apoio de Lula e tem Marta Suplicy como sua candidata a vice à prefeitura de São Paulo, mas ainda não conquista maior parte do eleitorado que historicamente vota no PT

Guilherme Boulos e Lula.Créditos: Ricardo Stuckert
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Uma análise feita pelo Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo (Noppe-FPA) dos números revelados pela pesquisa Datafolha sobre a disputa pela prefeitura de São Paulo (SP), divulgada nesta segunda-feira (11), mostra que o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que lidera a corrida eleitoral, tem baixo desempenho na base lulista da capital paulista. 

Boulos conta com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e terá como sua candidata a vice a ex-prefeita Marta Suplicy, que recentemente retornou ao PT. Apesar disso, o parlamentar ainda não conquista a maior parte do eleitorado que historicamente vota em candidaturas petistas. 

Segundo a pesquisa Datafolha, Boulos tem 30% das intenções de votos dos paulistanos, contra 29% do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Como a margem de erro do levantamento é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, os dois candidatos estão em situação de empate técnico. 

Ao analisar os números, entretanto, a Fundação Perseu Abramo constatou que, em segmentos onde historicamente Lula tem mais votos, Boulos apresenta desempenho abaixo ao de Ricardo Nunes, que vem, até o momento, contando com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Nota assinada Matheus Tancredo Toledo, analista do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo, destaca melhor desempenho de Nunes entre aqueles com renda familiar mensal menor que dois salários mínimos, mulheres e católicos. 

"A análise por segmentos, no entanto, revela que o patamar que Boulos parte nesta corrida eleitoral não está constituído por um forte desempenho nas franjas do eleitorado que são tipicamente lulistas. Nestes, como a base da pirâmide social (os que possuem renda familiar mensal menor do que dois salários mínimos), Boulos tem 24% contra 30% do atual prefeito. O candidato de Lula também não possui vantagem entre as mulheres (28% contra 27% de Nunes), tem desvantagem entre os católicos (29% a 34%) e empata na população preta da capital (28% para cada)". 

A FPA chama ainda atenção para um dado curioso: Boulos apresenta maior vantagem em dois dos segmentos mais distantes do lulismo: entre os que possuem renda familiar mensal de cinco a dez salários mínimos (43% a 31%) e de mais de dez salários mínimos (41% a 17%).

Para a fundação, Boulos ainda tem potencial de crescimento entre eleitores petistas e lulistas e o apoio de Lula ao deputado deve fazer diferença no pleito. A análise destaca, contudo, que "a proximidade das intenções de voto entre Boulos e o atual prefeito é um dado relevante, junto à presença de índices de intenção de voto não desprezíveis em outras candidaturas do campo de direita". 

"Para ampliar seu desempenho será necessário, portanto, converter eleitores lulistas que hoje estão dispersos", sentencia a FPA. 

Leia abaixo a íntegra da análise 

"Notas sobre pesquisa Datafolha para eleição de São Paulo

A mais recente pesquisa do Datafolha sobre a disputa pela prefeitura da cidade de São Paulo indica um empate entre Guilherme Boulos (Psol), com 30% das intenções de voto e o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), com 29%. Em seguida, Tabata Amaral (PSB) alcança 8%, Marina Helena (Novo), 7%, Kim Kataguiri (UB), 4% e Altino (PSTU), 2%. Os dados indicam a possibilidade de uma disputa acirrada na capital – como era de se esperar.

A análise por segmentos, no entanto, revela que o patamar que Boulos parte nesta corrida eleitoral não está constituído por um forte desempenho nas franjas do eleitorado que são tipicamente lulistas. Nestes, como a base da pirâmide social (os que possuem renda familiar mensal menor do que dois salários mínimos), Boulos tem 24% contra 30% do atual prefeito. O candidato de Lula também não possui vantagem entre as mulheres (28% contra 27% de Nunes), tem desvantagem entre os católicos (29% a 34%) e empata na população preta da capital (28% para cada). Neste momento, Boulos possui, inclusive, maior vantagem em dois dos segmentos mais distantes do lulismo, como os que possuem renda familiar mensal de cinco a dez salários mínimos (43% a 31%) e de mais de dez salários mínimos (41% a 17%).

Assim, por um lado, a pesquisa revela onde está o potencial de crescimento de Boulos: na base eleitoral do lulismo e do PT. Além dos segmentos já citados, entre os 28% de eleitores e eleitoras da capital paulista que dizem ter o PT como seu partido preferido, somente 48% tem intenção de votar em Boulos no momento – outros 19% optam por Nunes, 6% em Tabata e 10% em Marina Helena (o índice gera estranheza e a pergunta: parte dos eleitores paulistanos podem ter confundido a candidata do Novo com a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, eleita deputada federal por São Paulo em 2022?).

Por outro lado, os dados também revelam desafios: a proximidade das intenções de voto entre Boulos e o atual prefeito é um dado relevante, junto à presença de índices de intenção de voto não desprezíveis em outras candidaturas do campo de direita (Kataguiri e Marina). Em cenário sem Tabata, por exemplo, suas intenções de voto distribuem-se de forma praticamente igual entre os dois líderes da pesquisa: Boulos cresce 3 pontos percentuais (p.p.) e Nunes 4 p.p. – o que indicaria pouco espaço para avanço do candidato de Lula e do Psol dentro das opções colocadas. Para ampliar seu desempenho será necessário, portanto, converter eleitores lulistas que hoje estão dispersos.

Conta ao seu favor, para isso, o apoio de Lula e do PT, e uma parte do histórico eleitoral recente da cidade: em 2020 Bruno Covas venceu Boulos em boa parte das zonas eleitorais da capital, inclusive as das periferias (excetuando parte considerável do extremo-sul e uma parte menor do extremo-leste), mas sua candidatura mantinha grande distância do então presidente do país (Bolsonaro), sob um mote relativamente moderado e de centro. Agora, seu então vice e agora prefeito, Nunes, angariou o apoio de Jair Bolsonaro e sinaliza para a base radical do ex-presidente: compareceu ao último ato na Avenida Paulista e indica que terá como vice um extremista de direita. No entanto, compõe este cenário o fato de que a candidatura presidencial de Bolsonaro foi derrotada por Lula na capital paulista nas eleições presidenciais de 2022, com derrota, inclusive, de seu candidato ao governo do estado para o candidato do PT, Fernando Haddad. Assim, vincular Nunes a Jair (aliança que o próprio candidato exalta e pretende transformar em ativo eleitoral), e Boulos a Luiz Inácio, para angariar o grande contingente petista e lulista da capital, parece ser promissor do ponto de vista da disputa que se avizinha.

Matheus Tancredo Toledo é analista do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe-FPA) e doutorando em ciência política pela USP".