É difícil traçar a linha tênue que separa incompetência de má-fé e manipulação na pesquisa da USP realizada na Avenida Paulista no último domingo.
O jornalista Alceu Castilho, em seu perfil no Facebook, destacou uma questão do formulário que parece ter sido escrita por um bolsonarista ou pelo próprio Bolsonaro:
"Os excessos e perseguições da Justiça caracterizam a situação atual como uma ditadura?"
Como assim? Há excessos e perseguições nas ações da Justiça contra o grupo que planejou, organizou, propagandeou, insuflou e deu início a uma tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro? Não é exatamente isso o que afirma diariamente Bolsonaro? Não foi para isso que ele convocou a manifestação?
Mas não é apenas essa questão levantada pelo jornalista. Há outras. Uma pergunta no questionário da pesquisa de USP dá como certa uma ilegalidade, mas que também é defendida por Bolsonaro e pelos militares:
"Presidente Bolsonaro deveria ter invocado o artigo 142 para solicitar a arbitragem das Forças Armadas?"
Desde quando o artigo 142 dá poder de arbitragem às Forças Armadas?
Entre as perguntas feitas sob a rubrica geral de "O que Bolsonaro deveria ter feito no final de 2022" todas fortalecem a visão dos bolsonaristas. A opção "Respeitado o resultado das eleições" não é colocada, como se fosse inadmissível.
Por que uma pergunta sobre apoio a Ricardo Nunes nas eleições deste ano? Será que o dinheiro da prefeitura também entrou na pesquisa, como aconteceu nas propagandas travestidas de reportagens feitas pela Folha?
Por que não colocaram nomes de outros candidatos postos na disputa, inclusive o líder segundo todas elas, Guilherme Boulos?
Em nome da verdade a USP deveria chamar os pesquisadores que usaram o chapéu da Universidade e dar uma explicação geral à população sobre essa vergonhosa pesquisa com viés de confirmação.