O ex-presidente Jair Bolsonaro ficou calado durante todo o depoimento que foi intimado a prestar à Polícia Federal (PF), em Brasília, nesta quinta-feira (22). Uma única pergunta, entretanto, foi respondida pelo ex-mandatário.
Logo no início da oitiva, o delegado da PF que inquiriu Bolsonaro teria perguntado se o ex-presidente é "cis", em referência ao termo "cisgênero". As informações são de Igor Gadelha, colunista do site Metrópoles.
Em resposta, então, o ex-mandatário teria dito que não sabe o que é cisgênero. Trata-se do termo utilizado para se referir às pessoas que se identificam com o sexo biológico que nasceram - enquanto "transgênero" se refere àquelas que se identificam com um gênero diferente do atribuído no nascimento.
A pergunta feita pelo delegado é padrão. A PF adotou o procedimento, que consiste em apresentar os termos "cisgênero, transgênero" e oferecer o campo "orientação sexual" àqueles que precisam fornecer dados pessoais em depoimentos, em janeiro, seguindo diretrizes adotadas pelo governo Lula para políticas LGBTQIA+.
Silêncio
O ex-presidente Jair Bolsonaro compareceu à sede da Polícia Federal (PF) em Brasília, nesta quinta-feira (22), para prestar depoimento no âmbito do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga uma tentativa de golpe de Estado no Brasil. Segundo a PF, Bolsonaro integraria uma organização criminosa que tentou - sem sucesso - reverter o resultado da eleição de 2022 que alçou o presidente Lula ao Palácio do Planalto.
Conforme já havia anunciado, o ex-mandatário, que tentou por duas vezes cancelar o depoimento, se acovardou e ficou calado diante dos investigadores. A estratégia também seria utilizada por outros investigados no inquérito, incluindo militares, que prestaram depoimento no mesmo dia.
O anúncio de que Jair Bolsonaro manteve o silêncio durante o interrogatório foi feito ao final da oitiva pelo advogado do ex-presidente, Paulo Bueno. Segundo o defensor, o fato do ex-mandatário inelegível ter ficado calado "não é simplesmente o exercício do direito constitucional do silêncio, mas uma estratégia baseada no fato de que a defesa não teve acesso a todos os elementos aos quais estão sendo imputados ao ex-presidente as práticas de delitos".
Ao negar um dos pedidos dos advogados de Bolsonaro para cancelar ou adiar o depoimento, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, os desmentiu, afirmando que eles já tiveram acesso a todo o conteúdo das investigações.
"Informe-se a Polícia Federal que inexiste qualquer óbice para a manutenção da data agendada para o interrogatório uma vez que aos advogados do investigado foi deferido integral acesso aos autos", escreveu o ministro em despacho.