O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, alvo da Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal (PF) contra a trama golpista de 8 de janeiro, que também mirou o ex-presidente Jair Bolsonaro, entregou aos policiais seu celular sem a senha alegando sigilo sacerdotal.
De acordo com o religioso, ele guarda 'confidências' de fiéis em seu aparelho. “Eu entreguei meus equipamentos sem a senha. Por que fiz isso? Eu recebo pedidos de conselho, orientações, as pessoas se confidenciam, abrem a alma e contam seus dramas mais profundos para mim (…) Muitos sacerdotes me consultam sobre questões morais confidenciais e eu não posso expor os meus fiéis”, disse em uma live. “Estou resguardado pela lei brasileira e por acordos internacionais”, acrescentou.
José Eduardo ainda afirmou que atende muitas personalidades importantes no Brasil inteiro, como prefeitos, vereadores, deputados, juízes, desembargadores, senadores. "Eu atendo todas as pessoas que pedem meu auxílio espiritual porque essa é minha missão”, declarou.
O padre foi alvo da PF por ter participado da uma reunião do dia 19 de novembro de 2022 onde Bolsonaro e seus aliados discutiam a minuta do golpe para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A polícia constatou que ele faria parte do “núcleo jurídico” da organização criminosa que pretendia realizar o golpe e era responsável por publicar conteúdos descredibilizando o processo eleitoral.
Segundo o documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela polícia, o padre “possui um site com seu nome no qual foi possível verificar diversos vínculos com pessoas e empresas já investigados em inquéritos correlacionados a produção e divulgação de notícias falsas”.
Quem é o padre golpista
O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Paróquia São Domingos em Osasco, foi alvo da operação Tempus Veritatis, como suspeito de integrar o grupo jurídico envolvido na elaboração de decretos para um suposto golpe de Estado após as eleições de 2022, conforme decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Nascido em Piracicaba, no interior de São Paulo, o padre possui doutorado em teologia moral pela Universidade da Santa Cruz, de Roma, e ganhou notoriedade em 2017 por suas declarações fundamentalistas sobre a ideologia de gênero, tornando-se uma figura proeminente nas redes sociais.
Em suas redes sociais, escreveu que tinha "saudades dos tempos em que o banheiro servia só para necessidades fisiológicas e não para exibicionismos de autoafirmação sexual".
O padre já havia sido homenageado pelo então vereador e hoje prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) em uma sessão solene na Câmara Municipal, além da condecorado com a "Salva de Prata", a maior honraria concedida pela Casa a um indivíduo.
Na ocasião, em 2016, ele colaborou com Nunes pela retirada do termo "gênero" do Plano Nacional de Educação (PNE), sob a alegação de que o debate sobre o gênero nas escolas municipais seria parte de uma doutrina com o objetivo de acabar com a "família tradicional".
Oliveira e Silva foi homenageado pelo "excelente trabalho que desenvolveu junto ao Plano Nacional e Municipal da Educação, valorizando a família contra a ideologia de gênero", enquanto manifestantes do movimento LGBTQIA+ eram reprimidos pela Polícia Militar na sessão.
Em dezembro do ano passado, em uma entrevista ao portal Aleteia, ele criticou publicamente o anúncio do Vaticano permitindo a bênção de relacionamentos entre casais do mesmo sexo: "Rezamos pela conversão dos pecadores e podemos dar-lhes a bênção como um estímulo a que se aproximem mais do Senhor", declarou.
"A Igreja sempre ensinou que aqueles que estão em pecado mortal não estão em estado de graça habitual, mas podem receber aquilo que chamamos de graça atual, ou seja, um impulso sobrenatural que dispõe o homem ao arrependimento, à conversão e à recuperação da graça santificante", disse o padre.
O posicionamento do padre gerou controvérsias e atraiu atenção adicional após a Polícia Federal realizar buscas em sua residência, relacionadas a suspeitas de envolvimento em um suposto esquema golpista.
Em nota, a Diocese de Osasco afirmou que aguardará informações oficiais das autoridades competentes e se compromete a cooperar plenamente com as investigações em andamento.