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Faria Lima toca fogo com bazuca e Lula só tem faca para se defender, diz economista

Professor José Luis Oreiro defende mudanças institucionais contra os faria-limers

Meramente ilustrativo.Bazuca do Exército dos EUA, sem relação com o presidente do Banco Central, Campos Neto.Créditos: Wikipedia
Escrito en POLÍTICA el

O mercado financeiro conta com uma bazuca para atacar o real, mas o governo Lula só tem uma faca para se defender.

A metáfora é do economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília.

Tem relação com mudanças feitas ao longo de quase duas décadas, que reduziram a capacidade do Banco Central de reagir às flutuações do câmbio.

Sobrou praticamente apenas um instrumento, a venda de reservas -- foram mais de U$ 20 bilhões em uma semana para tentar conter a desvalorização do real.

O presidente Lula está acostumado a sobressaltos: a máxima histórica do dólar foi de R$ 8,38, em 10 de outubro de 2002, logo depois dele vencer o primeiro turno das eleições presidenciais com 46,44% dos votos, contra 23,20% do tucano José Serra, o favorito do mercado.

Na quinta-feira 19 o dólar comercial fechou a R$ 6,30, levando o BC a fazer a maior intervenção de um quarto de século, derrubando a cotação para R$ 6,08 às duas da tarde desta sexta-feira, 20. Custou cerca de 5% das reservas brasileiras.

A herança maldita de Paulo Guedes

O sobressalto de agora tem relação, em parte, com "herança maldita" deixada pelo governo Bolsonaro.

O Novo Marco Legal do Câmbio, adotado por Paulo Guedes em dezembro de 2021, permitiu que qualquer brasileiro faça investimentos em dólar no Exterior usando até mesmo sua poupança.

O professor Oreiro explicou, em entrevista à Fórum:

Permite que residentes no Brasil, seja eu, você, as pessoas que estão nos lendo, elas possam fazer aplicações em renda fixa no Exterior, por intermédio dessas plataformas digitais como a Nomad e outras, em que, por exemplo, você pode pegar o dinheiro que você tem aplicado na poupança, fundos de investimento, fundos de previdência, em vários bancos e transferir para essas plataformas e aplicar no Exterior. Isso significa o seguinte: nós abandonamos um dos princípios basilares da política cambial brasileira desde os anos 30, qual era esse princípio? O princípio de que só pode sair aquilo que entrou.

Este fato se combinou com mudanças anteriores da legislação, como aquela que permitiu aos exportadores manter 100% do recebido em dólares no Exterior.

Em outras palavras, o mercado ficou com a bazuca. O BC "independente" e o governo brasileiro, com a faca.

O professor Oreiro escreveu em seu blog um artigo intitulado O Conselho Monetário Nacional e o Congresso Nacional precisam devolver as armas para o Banco Central atuar contra os especuladores.

Um trecho da entrevista do economista foi exibido no Fórum Café de sexta-feira, 20, e a íntegra ficará disponível no site da Fórum no You Tube.

"Comerciantes do barulho"

Outra mudança, também feita por Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro para presidir o Banco Central, provocou um "terremoto" no mercado, segundo o professor Oreiro:

Até 2014, o sistema financeiro brasileiro eram os bancões. Você tinha os grandes bancos de varejo, Banco do Brasil, Santander, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal, e alguns bancos de investimento, como o BTG Pactual e outros. Mas no governo Bolsonaro, por iniciativa do Roberto Campos Neto, se permitiu que uma série de outras instituições -- fintechs, plataformas digitais, corretoras -- entrassem no mercado de varejo, de captação de recursos. E isso aumentou muito o número de brasileiros que fazem aplicações financeiras mais arriscadas. Hoje, com essas plataformas, qualquer um, com o seu celular, pode transferir dinheiro do Brasil para os Estados Unidos.

A consequência foi o aumento daqueles que são chamados de "noise traders", grosseiramente os "comerciantes do barulho", que se deixam levar pelo efeito manada. 

O professor Oreiro explica:

Isso aumenta a volatilidade do mercado. E você pode ver claramente que há uma diferenciação na postura entre os economistas-chefes dos grandes bancos e os economistas-chefes dessas corretoras [as da Faria Lima]. Quem tá tocando fogo no país não são os bancões. Quem tá tocando fogo no país é esse pessoal, que é, vamos dizer assim, o baixo clero do sistema financeiro, mas que tem volume e pode produzir esse tipo de situação.

Para o professor, não há qualquer base na economia real que justifique a recente disparada do dólar: o Brasil vive inédito crescimento econômico para tempos recentes, baixo desemprego e inflação controlada, embora acima da meta irreal fixada pelo próprio Conselho Monetário Nacional.

Em seu artigo, José Luis Oreiro sugere que o governo Lula faça modificações na legislação para se proteger de ataques futuros. Para ele, é necessário que o Brasil:

Construa um novo arcabouço institucional para a política cambial, que impeça que a Nação Brasileira fique refém dos interesses mesquinhos e anti-patriotas dos faria-limers. Essa é uma luta que a Nação brasileira precisa levar até o fim. Com a graça de Deus haveremos de vencer.

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