EM FILA

Pela fila do gabinete do golpe, depois de Braga Netto é vez da prisão do general Heleno

A lógica que parece estar por trás das últimas prisões de generais golpistas e o que pode vir a partir dela

General Heleno.General Heleno com um microfone à sua frenteCréditos: José Cruz/ABr, CC BY 3.0 BR , via Wikimedia Commons
Escrito en POLÍTICA el

Muita gente gostaria que o ministro Alexandre de Moraes furasse a fila e botasse na cadeia de vez o responsável por tudo, o homem que desde o primeiro dia na presidência, e até antes disso, vem pregando um golpe de Estado e uma ditadura que "matasse pelo menos uns trinta mil".

Mas há todo um ritual e a Justiça está tratando de fazer tudo "dentro das quatro linhas" da Constituição, como pregava o inelegível, e nunca cumpriu.

O cerco se fecha contra Bolsonaro. As provas, junto com a cada vez maior adesão popular à sua prisão, abundam e a hora certa vai chegar. Uma coisa de cada vez, sem colocar a carroça na frente dos bois.

Tem fila para a prisão: primeiro o 04, depois o 03, depois o 02, até chegar ao 01.

Ainda mais que a delação premiada tem que vir de baixo para cima. Cid abriu a boca. Já há dois generais presos, ambos da hierarquia do gabinete provisório do golpe, especificada na "Operação Punhal Verde e Amarelo".

O 04 foi a primeiro a ser preso: general Mário Fernandes, o que planejou e imprimiu na impressora do Palácio do Planalto, a operação. Ainda não abriu o bico. Que se saiba. Por enquanto.

O 03 foi agora, sábado pela manhã. Deveria ter sido preso na sexta, dia 13, mas como era também o dia do AI-5, o infame Ato que foi um golpe dentro do golpe, assinado em 13 de dezembro de 1968, acharam melhor adiar um dia para não parecer deboche, ou "esculacho", como pediu o traficante e assassino de Tim Lopes Elias Maluco ao ser preso: "Prende mas não esculacha".

O número 3, general Braga Netto, foi preso no sábado. Está com as mordomias do quartel. Sem esculacho. Mas é de se imaginar o que deva estar sentindo o general sabendo que, em vez de estar no poder, como planejava, está em cana. No quartel, mas preso. Preventiva. Mas preso. Primeiro general quatro estrelas a ser devidamente enquadrado pelo poder civil. E preso.

Depois dele, a seguir o ritual da cadeia desenhada pela "Operação Punhal Verde Amarelo", deve vir o 02, general Heleno, inspirador de tudo, o homem que trouxe a Operação Haiti para o Brasil, querendo cantar no golpe a canção de Caetano Veloso que diz que "o Haiti é aqui" — mas também que "o Haiti não é aqui", ouviu, general Heleno?

Escutados esses presos, os dois já enquadrados e o próximo, os que eles tiverem a falar ou não, mas o que o material apreendido em suas residências e com seus assessores disser, chegará a vez do "Valente Fujão", o homem que implorou pelo golpe mas fugiu para os Estados Unidos.

Já há um joguinho comum em festas que consiste em perguntar como as pessoas pretendem comemorar o dia da prisão de Jair Bolsonaro. Faz sucesso.

Aliás, o que você pretende fazer nesse dia? 

Mas, atenção, nada de furar a fila: a vez de ir para a cadeia é do 02, general Heleno.

 

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