Ainda sob êxtase da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro (PL) disse que o Republicano "gosta de mim" e confirmou que pretende usar a pressão do "homem mais forte do mundo" para tentar reverter a inelegibilidade.
Em entrevista à Folha - onde tem se tornado habitué - nesta quinta-feira (7), Bolsonaro bajulou Trump como sempre e acenou ao Centrão como nunca, sinalizando que pretende colocar Michel Temer (MDB) como candidato a vice em 2026, caso consiga de volta a elegibilidade.
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"Acredito que o Trump gostaria que eu fosse elegível. Ele que vai ter que dizer isso aí, mesmo que tivesse conversado com ele, não falaria. Tenho certeza de que ele gostaria que eu viesse candidato. Está na mídia, não sei se é verdade ou não, eu não falo sobre esse assunto, é o [Michel] Temer [MDB] de vice", disse.
A "mídia" citada por Bolsonaro é o Blog do jornalista paranaense Esmael de Moraes, que afirma que Bolsonaro quer Temer como vice por causa das "boas relações com ministros do STF, como Alexandre de Moraes, Barroso e Gilmar Mendes" e para cooptar novamente o Centrão, tirando definitivamente o MDB da base de sustentação de Lula no Congresso.
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Para justificar, Bolsonaro confirmou o que foi ventilado no Blog, afirmando que Temer é "garantista" - linha jurídica que se contrapõe ao "punitivismo", do "bandido bom é bandido morto" - e concluiu que foi o golpe contra Dilma Rousseff (PT) quem o catapultou ao Planalto.
"Ele é garantista, é um ex-presidente. O impeachment [de Dilma Rousseff em 2016] abriu uma brecha para eu me candidatar. Não existe impeachment sem vice", disse.
Em um outro aceno à velha política fisiológica e à mídia liberal - que flerta com Tarcísio Gomes de Freitas para a Terceira Via em 2026 -, o ex-presidente afirma ainda que caso volte ao Planalto não colocará militares em seu ministério.
"Eu jamais iria passar faixa para uma pessoa como o Lula. Mas o que faria diferente? Os ministros do Palácio [Casa Civil e articulação política, entre outros] teriam que ser políticos, não os que eu coloquei [militares]. Na relação com a imprensa, eu fui muito impetuoso muitas vezes", emendou, fazendo mea culpa dos ataques diários a jornalistas.
Posse de Trump
O primeiro teste da amizade com o "homem mais poderoso do mundo" será feito em breve, quando Bolsonaro pretende pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a devolução do passaporte para comparecer à posse na Casa Branca, em 20 de janeiro de 2025.
Indagado sobre uma possível negativa de Alexandre de Moraes, o ex-presidente demonstrou toda sua subserviência a Trump.
"Se o Trump me convidar, vou peticionar ao TSE, ao STF. Agora, com todo o respeito, o homem mais forte do mundo... você acha que ele vai convidar o Lula? Talvez protocolarmente. Quem vai convidar do Brasil? Talvez só eu. Ele vai falar não para o cara mais poderoso do mundo? Eu sou ex. O cara vai arranjar uma encrenca por causa do ex? Acha que vou para os Estados Unidos e vou ficar lá?", indagou.
"Há dois anos querendo me incriminar como golpista, vai à merda, porra. O cara está há dois anos com a mulher, tô desconfiando que está me traindo e tô há dois anos dormindo com ela. E tô investigando, me traiu, não me traiu... resolve essa parada logo, tenha altivez", emendou, aumentando o tom novamente contra o ministro.
Bajulação
Na análise da vitória republicana nos EUA, Bolsonaro se esbaldou na bajulação a Donald Trump, ressaltando ao fazer uma comparação com ele próprio que o presidente eleito dos EUA é "bilionário".
"Quase tudo o que acontece lá acontece aqui. Lá teve o Capitólio, que teve mortes. Tentaram de todas as maneiras colocar na conta dele. Lógico, ele é uma pessoa de uma diferença enorme em relação a mim, foi presidente de um país muito rico, fantástico, tem boas amizades com todo mundo, o cara é bilionário", disse.
Em seguida, Bolsonaro faz outra comparação subserviente ao republicano ao afirmar que Trump gosta dele por ter sido o último presidente a reconhecer a vitória de Joe Biden em 2020.
"Eu estou para ele como o Paraguai está para o Brasil", afirmou.
Bolsonaro ainda disse que os laços com Trump se deram porque "ele tinha uma preocupação de que o Brasil não virasse uma Venezuela" e que "falava com ele que um comércio norte-sul seria muito bom" - algo que sempre foi feito no modelo de exploração estadunidense sobre a América Latina.
"E ele tinha interesse de fazer o Brasil como irradiador de democracia na América do Sul. A intenção maior dele era essa aí", emendou.
Indagado se a eleição de Trump "fortalece o desejo" de voltar à Presidência, Bolsonaro cometeu um sincericídio, confirmando que foi alçado ao Planalto para dar continuidade ao golpe perpetrado por Temer - a quem deseja como vice em 2026.
"Ser presidente é uma merda. Eu não sei como é que cheguei à Presidência. Aconteceu. Dei o melhor de mim. Estava preparado? Não estava. Apesar de 28 anos de Parlamento, quando você vê aquela cadeira lá, cai para trás. Agora a minha pretensão [é a] de voltar", disse.