GOLPE E ASSASSINATO

OUÇA – Áudios comprovam articulação golpista de militares para matar Lula: "Como foi em 64"

Gravações obtidas pela PF mostram conversas entre membros do governo Bolsonaro sobre o plano para deflagrar um golpe de Estado após as eleições de 2022

Jair Bolsonaro e o general Mario Fernandes, apontado pela PF como um dos articuladores do plano golpista.Jair Bolsonaro, vestindo camiseta azul e colete bege, exibe uma faca em um estojo ao lado do general da reserva Mario Fernandes, que veste uniforme fardado do ExércitoCréditos: Isac Nóbrega/PR/Ricardo Stuckert
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A Polícia Federal (PF) obteve áudios que comprovam a articulação de militares de alta patente e membros do governo Bolsonaro para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). 

São mais de 50 gravações de conversas em aplicativos de mensagens, enviadas em novembro de 2022, ou seja, após a vitória de Lula na eleição de outubro, em que os golpistas discutem a "operação Punhal Verde e Amarelo", que consistiria no assassinato de Lula, Alckmin e Moraes, instalação de um "gabinete de crise" e manutenção de Jair Bolsonaro na presidência da República, em detrimento da derrota eleitoral do ex-presidente. 

Segundo os investigadores, o general da reserva e ex-número 2 da Secretária-Geral da Presidência, Mario Fernandes, foi um dos principais articuladores do plano golpista, que teria sido impresso no Palácio do Planalto, levado ao Palácio da Alvorada e discutido na casa do ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice de Bolsonaro na eleição de 2022, general Walter Souza Braga Netto. A PF afirma, ainda, que os militares envolvidos no plano de golpe estavam em contato direto com "manifestantes" que acampavam em Brasília contra o resultado das urnas e que protagonizaram os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023

“Qualquer solução, caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais”, diz Mario Fernandes a um "kid preto", militar membro das Forças Especiais do Exército, em um dos áudios obtidos pela PF e divulgados pelo programa "Fantástico", da TV Globo, na noite desta domingo (25). “Tá na cara que houve fraude. Tá na cara. Não dá mais pra gente aguardar essa porra", dispara então o general. 

Um militar não identificado no mesmo grupo de aplicativo de mensagens em que os áudios estavam sendo enviados, então, respondeu: 

“Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso”. 

“O presidente tem que fazer uma reunião com o petit comité. Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião. Tem que ser a rataria. Tem que debater o que vai ser feito”, emenda outro. 

Em dado momento, o general Mario Fernandes chega a dizer que pretende dar um golpe de Estado no Brasil como o deflagrado por militares em 1964, que deu início a uma ditadura de mais de 20 anos. 

“Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa. Para que ela se mantenha nas ruas". 

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo Lula, Paulo Pimenta, compartilhou a reportagem do "Fantástico" que mostra os áudios dos militares golpistas. 

Assista e ouça: 

Bolsonaro indiciado 

O ex-presidente Jair Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal pela tentativa de golpe de Estado que encabeçou a partir dos últimos dias de 2022, após ser derrotado nas urnas pelo presidente Lula (PT) e ficar inconformado com sua saída do poder.

Vários outros ex-integrantes de seu governo, aproximadamente 35, também foram indiciados pela PF, e os crimes pelos quais são acusados são inúmeros, com destaque para abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado e organização criminosa.

Com 884 páginas, o inquérito policial foi concluído no início da tarde desta quinta-feira (21) e agora será entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), ainda hoje. Desde já, a Procuradoria Geral da República (PGR) é quem fica incumbida de denunciar ou não os indiciados, para que então os réus, em caso de aceitação da denúncia, sejam julgados pelo STF.

Entre os principais indiciados estão:

  • Jair Bolsonaro, ex-presidente;
  • Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa e candidato a vice na chapa derrotada;
  • Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
  • Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Informações (Abin);
  • Valdemar da Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL)

Foram ainda indiciados outros 32 nomes envolvidos na trama:

  • Ailton Gonçalves Moraes Barros
  • Alexandre Castilho Bitencourt da Silva
  • Almir Garnier Santos
  • Amauri Feres Saad
  • Anderson Gustavo Torres
  • Anderson Lima de Moura
  • Angelo Martins Denicoli
  • Bernardo Romão Correa Netto
  • Carlos Cesar Moretzsohn Rocha
  • Carlos Giovani Delevati Pasini
  • Cleverson Ney Magalhães
  • Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
  • Fabrício Moreira de Bastos
  • Filipe Garcia Martins
  • Fernando Cerimedo
  • Giancarlo Gomes Rodrigues
  • Guilherme Marques de Almeida
  • Hélio Ferreira Lima
  • José Eduardo de Oliveira e Silva
  • Laercio Vergilio
  • Marcelo Bormevet
  • Marcelo Costa Câmara
  • Mario Fernandes
  • Mauro Cesar Barbosa Cid
  • Nilton Diniz Rodrigues
  • Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho
  • Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
  • Rafael Martins de Oliveira
  • Ronald Ferreira de Araujo Junior
  • Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros
  • Tércio Arnaud Tomaz
  • Wladimir Matos Soares

No caso de condenação, por cada um dos seguintes crimes, os indiciados podem ser condenados a:

  • 4 a 12 anos de prisão por Golpe de Estado
  • 4 a 8 anos de prisão por Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
  • 3 a 8 anos de prisão por Integrar organização criminosa