O pastor fundamentalista Renato Vargens, conhecido por sempre defender pontos de vistas ultra conservadores utilizando-se de uma leitura literal e deturpada dos textos bíblicos, passou vergonha nas suas redes sociais ao tentar defender a escala 6x1 valendo-se de uma interpretação vergonhosa do texto do Antigo Testamento, que está em Êxodo 34.21: "Seis dias trabalharás, mas no sétimo descansarás", sem levar em conta contextos e princípios bíblicos elementares para qualquer estudante médio de teologia.
A resposta foi imediata nas redes e centenas de pessoas comentaram o post ou fizeram reações expondo a fragilidade do argumento de vargens. O teólogo, mestre em filosofia e doutor em economia política mundial, Bruno Reikdal, foi um dos que respondeu a Vargens na rede X: “O versículo todo: "Trabalhe 6 dias, mas descanse no 7º; TANTO NA ÉPOCA DE ARAR COMO NA DA COLHEITA. Celebre a FESTA DAS SEMANAS na ocasião dos primeiros frutos da colheita do trigo, e a FESTA DO ENCERRAMENTO DA COLHEITA, no fim do ano" (Exôdo 34:21) - to te esperando na roça.”
Te podría interesar
Para o pastor Zé Barbosa Junior, colunista da Fórum, Renato comete um combo de erros de interpretação ao querer forçar o texto a dizer o que ele não diz para os dias atuais: “Utilizar uma leitura anacrônica do texto bíblico é ir contra o princípio básico do próprio texto. O que está em jogo ali não é a quantidade de dias, mas a necessidade de descanso, já que na mitologia bíblica da criação, até o próprio Deus descansou depois da criação. Sem contar o contexto tribal e agrícola do texto. Mas se Vargens quer ser literal em todo a ‘lei mosaica”, deveria defender, por exemplo, o fim dos latifúndios, que é o princípio por trás da ‘lei do jubileu’, onde a terra, de 50 em 50 anos, deve ser devolvida aos pequenos proprietários”, diz Barbosa.
Outros comentários nas postagens do pastor Renato também questionam a sua não literalidade para outros textos bíblicos. “Fechou! Então crente que é fiel ao Antigo Testamento continua trabalhando na escala 6 x 1. E também para de comer porco, usar tecidos de fios diferentes, é tudo aquilo que tá no livro. O resto vai para a escala 4 x 3” diz um dos que responderam. Outro usuário das redes retrucou: “É muito engraçado como pastor vagabundo utiliza o antigo testamento quando convém a eles, o antigo testamento tbm defendia apedrejamento, proibia comer carne de porco, arredondar o cabelo etc.. vc ainda segue essas práticas ou só segue o q convém pra vc?”
Te podría interesar
Nas redes, pastores também se colocaram contra a escala 6x1
Na verdade, Renato não representa a maioria dos pastores nessa discussão da escala 6x1. Muitos outros pastores também utilizaram suas redes para corroborar a PEC proposta pela Deputada Erika Hilton e sair em defesa dos trabalhadores explorados pela desumanidade da atual escala de muitos.
O pastor Wellington Santos, da Igreja Batista do Pinheiro em Maceió usou seu instagram para publicar: “Como Cristão, Pastor Batista e cidadão que ouve e sente as dores do nosso povo que não tem tido tempo para cuidar das suas famílias, apelo ao seu bem senso e peço que sigamos pressionando os parlamentares do Congresso Federal dos nossos Estados a assinarem a PEC, debaterem e aprovarem um novo regime de carga horária de trabalho que possibilite nosso povo viver para além do trabalho. O povo pobre do nosso país também merece tempo de qualidade com suas famílias.”
Walter Pinheiro, um dos pastores da Igreja Betesda em São Paulo, também usou suas redes para responder Vargens e defender outros princípios bíblicos: “O pastor Renato Vargens só se esqueceu de mencionar que a mesma Bíblia, também fala sobre a reforma agrária (Levítico 25:8-17), taxação de grandes fortunas (1 Timóteo 6:17-19) e de um salário digno para todos os trabalhadores (Mateus 20:1-16). Descanso digno é princípio bíblico!”
O pastor da Comuna do Reino, em Belo Horizonte, Fillipe Gibran, também publicou: “A Câmara dos Deputados resiste em votar o fim da escala de trabalho 6x1, um regime pesado de trabalho, que mantém as pessoas afastadas de suas famílias e causam desgastes físicos e mentais na população. O resultado? Uma vida em que é difícil ter tempo de qualidade, descansar ou aproveitar o que foi conquistado com tanto trabalho duro e suor.”
Na Câmara, Pastores e padre endossam PEC contra jornada 6x1
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa eliminar a jornada de trabalho 6×1 e instituir um modelo de descanso semanal de pelo menos dois dias está ganhando apoio significativo no Congresso Nacional. Entre os quase 200 deputados que já subscreveram a proposta, destacam-se líderes religiosos como o pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), o pastor Sargento Isidório (AVANTE-BA) e o padre João (PT-MG). A adesão desses parlamentares sinaliza um compromisso conjunto em melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores brasileiros.
Proposta pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), a PEC propõe a redução da jornada semanal de 44 para 36 horas, mantendo o limite diário de oito horas de trabalho. A medida tem como objetivo viabilizar escalas mais flexíveis, como o modelo 4×3, onde o trabalhador teria quatro dias consecutivos de trabalho seguidos por três dias de descanso. Essa mudança busca promover o bem-estar, o convívio familiar e a saúde mental dos trabalhadores, alinhando o Brasil às tendências internacionais.
No entanto, alguns parlamentares evangélicos conservadores decidiram não apoiar a proposta. Entre eles estão Marco Feliciano (PL-SP), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Pastor Eurico (PL-PE), Cezinha de Madureira (PSD-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG). Esses deputados, conhecidos por suas posições conservadoras, não surpreendem (porque sempre votam contra o povo), mas decepcionam alguns de seus eleitores, que esperavam pelo menos um pouco de humanidade no voto pelo fim da escala desumana de 6x1.
A PEC ultrapassou, nesta manhã de quarta-feira(13), o número suficiente de assinaturas para avançar no Congresso, que era de 171 assinaturas. O apoio de líderes religiosos como Vieira, Isidório e padre João fortalece a crescente mobilização por uma mudança significativa nas leis trabalhistas brasileiras.