CAVALO DE PAU

Com medo de ser preso, Marçal recua sobre laudo falso contra Boulos após derrota

Coach de extrema direita fez expressão de abatido ao reconhecer derrota no 1º turno da eleição à prefeitura de São Paulo

Pablo Marçal após ser derrotado no 1º turno da eleição à prefeitura de São Paulo.Créditos: Rubens Cavallari/Folhapress
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Ao comentar sobre sua derrota no primeiro turno da eleição à prefeitura de São Paulo, na noite deste domingo (6), Pablo Marçal (PRTB) recuou com relação ao laudo falsificado que publicou na última sexta-feira (4) para associar Guilherme Boulos (PSOL) ao uso de cocaína. 

A mudança de postura revela um temor do coach de extrema direita de ser preso, já que a fake news contra Boulos o tornou alvo do Supremo Tribunal Federal (STF), da Justiça comum e da Justiça Eleitoral. 

Em conversa com jornalistas na porta de sua luxuosa mansão no bairro Jardim Europa, na capital paulista, Pablo Marçal fez expressão de abatido e reconheceu que o laudo que publicou é falso.

Ele afirmou, porém, que não teria divulgado o documento se soubesse que não era autêntico. Apesar da declaração, indícios apontam que teria sido o próprio Marçal quem produziu o laudo falso, ou ao menos participou de sua elaboração, já que ele é amigo do dono da clínica utilizada no papel timbrado do atestado fajuto. 

"Eu jamais postaria sabendo que é um laudo falso", disse Marçal para, logo na sequência, disparar novos ataques a Guilherme Boulos. 

"Boulos para mim é um marginal, é uma pessoa que não merece essa atenção toda que vocês dão. Eu acho que foi uma escolha errada do Lula, ele vai perder essa eleição com o Boulos. Ele é um cara de extrema esquerda, um cara que é a pauta radical da esquerda. De maneira nenhuma eu mandaria uma mensagem para ele e nem ligaria", disse. 

Crimes

Pablo Marçal enfrenta pelo menos 17 processos judiciais ou investigações policiais de seu suposto envolvimento em crimes que podem levar à sua inelegibilidade e até mesmo prisão.

Marçal foi preso em 2005, quando tinha 18 anos, na investigação que apurou ações de criminosos condenados por desviar dinheiro de contas de bancos, como Caixa e Banco do Brasil. Em 2010, foi condenado a quatro anos e cinco meses de reclusão por furto qualificado por desviar dinheiro de contas bancárias por meio de golpes digitais.

A organização criminosa foi condenada em maio de 2010. A defesa entrou com recurso, analisado em segunda instância em 2018, levando o caso a prescrever sem cumprimento da pena.

O mais recente crime atribuído a Marçal e cujo processo judicial pode resultar na sua inelegibilidade é a publicação de um laudo médico falso associando Guilherme Boulos ao uso de drogas.

A postagem resultou na retirada de seu perfil do Instagram pela Justiça Eleitoral de São Paulo. O caso pode se transformar em uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), na qual ele poderá ser responsabilizado por uso indevido dos meios de comunicação social durante o processo eleitoral. Se condenado, Marçal poderá ficar inelegível por oito anos, sendo impedido de concorrer nas próximas eleições, em 2026.

Além disso, a perícia da Polícia Civil de São Paulo confirmou neste sábado (5) que o laudo médico divulgado por Marçal contra Boulos é falso. Através de exames grafotécnicos, a perícia constatou uma série de evidências que comprovam que o documento foi falsificado.

O coach de extrema direita é alvo ainda de processos na esfera criminal movidos pelos familiares de um médico que morreu, cuja assinatura foi utilizada de forma indevida no laudo falso, e está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ter utilizado o X, rede social cujo acesso está proibido no Brasil, para divulgar o documento fajuto. 

Marçal reconhece derrota 

"Não vai ter segundo turno", disse Pablo Marçal em várias ocasiões ao longo da campanha à eleição pela prefeitura de São Paulo. Para ele, de fato, não teve. O coach de extrema direita, apesar da convicção de vitória, foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) e terminou o primeiro turno em terceiro lugar, com 1.719.274 votos (28,14% dos votos válidos). 

Autor de provocações baixas, criador de fake news absurdas e responsável por uma das campanhas mais insólitas da história recente brasileira, Marçal falou à imprensa logo após o cômputo total dos votos por parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na noite deste domingo (6), em sua mansão no luxuoso bairro Jardim Europa, zona oeste de capital paulista. 

Visivelmente abatido, Pablo Marçal rechaçou teorias de fraude nas urnas que já vêm sendo ventiladas por alguns de seus apoiadores – um discurso recorrente entre bolsonaristas e que, inclusive, culminou em uma tentativa de golpe de Estado em janeiro de 2023 – e reconheceu sua derrota. Ele usou o fato de ter se lançado candidato tardiamente para justificar seu fracasso e ainda se lançou candidato em 2026, sem definir, contudo, se será para o governo de São Paulo ou para a presidência da República. 

"São Paulo perdeu a única oportunidade de me ver prefeito dessa cidade, meu coração estava 100% entregue a isso, mas confesso que a vontade do povo nas urnas prevalece. Eu sei de algumas pessoas que estão querendo construir algumas teorias, mas eu respeito a vontade do povo. A gente chegou de última hora. Que deus abençoe nossa cidade de São Paulo, o Brasil e o povo brasileiro. E para finalizar: eu combati o bom combate, percorri a carreira, guardei a fé, e 2026 tá logo ali", declarou Marçal. 

Questionado sobre o segundo turno, Pablo Marçal sinalizou que apoiará Ricardo Nunes, desde que o prefeito e candidato à reeleição incorpore suas "propostas". 

"Tomara que o Ricardo leve em consideração algumas das nossas propostas, porque o eleitorado dele é exatamente do tamanho do meu eleitorado, espero que ele leve em consideração", disse. 

Ainda que tenha sido derrotado na disputa, Pablo Marçal deverá enfrentar, agora, processos por conta da divulgação de um laudo falsificado em que tentou associar Guilherme Boulos ao uso de cocaína. O coach de extrema direita já é alvo do Supremo Tribunal Federal (STF), Justiça comum e Justiça Eleitoral, correndo o risco, inclusive, de ser declarado inelegível por 8 anos.