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Bolsonaro a caminho da Papuda após as eleições?

Parecer de Gonet pode cumprir às avessas a previsão que Bolsonaro fez ao filho, Eduardo, em 2017. Basta saber se o "03" visitará o pai na prisão, caso o destino iminente se concretize

Jair Bolsonaro e os apoiadores extremistas no 8 de Janeiro.Créditos: Sobreposição de fotos / Tânia Rego e Joedson Alves Agência Brasil
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Em fevereiro de 2017, uma conversa flagrada pelo fotógrafo Lula Marques e publicada por esta Fórum parecia prever o que pode ser o destino iminente de Jair Bolsonaro (PL), que, inelegível até 2030, tem dado chiliques com o engalfinhamento de aliados que buscam ocupar o posto de anti-Lula em 2026.

Candidato à presidência da Câmara naquele ano, Bolsonaro fez um alerta ao filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que serve para ele próprio nos dias de hoje.

Ausente na votação, o "03" estaria "surfando e fumando maconha no Havaí" – segundo o ex-deputado e ex-líder de Bolsonaro na Câmara, Delegado Waldir – e se esqueceu de comparecer à sessão em que o pai obteve apenas 4 votos em sua pretensão de comandar a Casa legislativa. 

“Papel de filho da puta que você está fazendo comigo", disparou Bolsonaro. “Irresponsável. Mais ainda, compre merdas por aí. Não vou te visitar na Papuda. Se a imprensa te descobrir aí, e o que está fazendo, vão comer seu fígado e o meu. Retorne imediatamente”, emendou o então deputado marginal, que seria eleito presidente pouco mais de um ano depois – e processaria esta Fórum e Lula Marques em janeiro de 2019, ao pisar no Palácio do Planalto.

Mensagens de Bolsonaro e o filho "Dudão" em 2017 (Lula Marques / Arquivo)

No entanto, também na ultradireita negacionista, a Terra, mesmo "plana", capota. E hoje seria a vez de perguntar a Eduardo Bolsonaro se ele visitará o pai na "Papuda" – uma metáfora para a prisão, pois o ex-presidente não deve ir para o mesmo presídio para onde foram levados os apoiadores extremistas que promoveram o terror em Brasília no 8 de janeiro de 2023.

Após adiar a decisão de denunciar o ex-presidente nos inquéritos do furto e contrabando de joias e da fraude nos cartões de vacinas para depois do segundo turno das eleições municipais – que termina no próximo domingo (27) –, o procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, sinalizou que deve complicar ainda mais a situação do ex-presidente.

Em manifestação sigilosa à Polícia Federal (PF), revelada por Aguirre Talento no portal UOL, Gonet sinaliza com todas as letras que a organização criminosa formada por Jair Bolsonaro para tentar um golpe de Estado em 2022 foi "essencial" para o desencadeamento dos atos de terror promovidos na Praça dos Três Poderes, em Brasília, por apoiadores extremistas do ex-presidente em 8 de janeiro de 2023.

"Os elementos de convicção até então colhidos indicam que a atuação da organização criminosa investigada foi essencial para a eclosão dos atos depredatórios ocorridos em 8.1.2023", diz Gonet.

No documento, o PGR ainda deu aval ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que se cobre de Bolsonaro e da cúpula golpista os prejuízos, de cerca de R$ 26 milhões, causados pela destruição dos extremistas.

O parecer é parte da investigação da Polícia Federal, que deve ser remetida à mesma PGR até dezembro. Caberá, então, a Gonet oferecer – ou não – nova denúncia contra os membros da organização criminosa. Ao que sinaliza, Bolsonaro e seus asseclas serão denunciados.

A manifestação jurídica ocorreu após advogados de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, pedir a devolução de R$ 53 mil e três relógios de luxo apreendidos pela PF durante mandado de busca e apreensão na casa dele.

Gonet afirmou que "não parece recomendável, também, a restituição dos bens" já que "o requerente é investigado por crimes que resultaram em expressivos prejuízos à Fazenda Pública".

"O Decreto-Lei n. 3.240/41 autoriza a constrição de patrimônio lícito, justamente a fim de garantir o ressarcimento do dano, como efeito da condenação (art. 91, inciso I, CP). Há tratamento mais rigoroso para os autores de crimes que importam dano à Fazenda Pública, como forma de tutelar, de modo mais efetivo, o patrimônio público e, assim, o interesse da coletividade atingida por tais práticas delituosas", afirmou o PGR.

Implosão do bolsonarismo

A decisão, que já era de conhecimento de advogados do presidente do PL, pode ter sido o estopim para o "arranca-rabo" entre o "boy" Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro que eclodiu durante a semana.

O ex-presidente teve um ataque de fúria após Costa Neto piscar para a família Marinho e dizer que o governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) é o "número 1" da fila para ser candidato à Presidência, caso Bolsonaro siga inelegível.

"O candidato nosso é o Bolsonaro, seria o melhor para nós. Mas [diante da inelegibilidade], o número 1 da fila é o Tarcísio", disse Costa Neto em entrevista à GloboNews no último dia 11.

Em nova entrevista ao jornal O Globo, Costa Neto foi menos direto, mas voltou a afagar Tarcísio, que é cortejado para entrar no PL com tapete vermelho.

"Nunca perguntei se o Tarcísio vinha para o PL. Um dia, em um jantar, Tarcísio vira para mim e fala: ‘Valdemar, eu vou entrar no PL‘. Eu disse: ‘eu sei, está cheio de notícia disso. Vou fazer a maior festa que um político já recebeu em São Paulo‘. Ele pediu para esperar passar algumas coisas, privatização da Sabesp. Acho que ele não deixou o Republicanos porque ia prejudicar o partido no estado de São Paulo", disse o presidente do PL, que ressaltou que acredita que "ele vem". 

A sinalização de Costa Neto à Globo, que afaga Tarcísio para ser a "terceira via" contra Lula em 2026, provocou um chilique em Bolsonaro, que em entrevista a um canal bolsonarista mandou recado para o presidente do PL.

"Eu sei que não sou nada no partido, agradeço muito ao Valdemar, mas o candidato para 2026 é Jair Messias Bolsonaro. Estou inelegível por quê? Porque me reuni com embaixadores? Porque subi no carro de som do pastor Malafaia? Abuso de poder político? Que voto eu ganhei por ter me reunido com embaixadores? Que abuso de poder econômico por estar no carro do Malafaia? É uma perseguição", surtou.

Em seguida, Bolsonaro afirmou que "joga a toalha", ou seja, desiste da política caso sua inelegibilidade seja mantida pela Justiça Eleitoral.

"Se isso for avante, essa inelegibilidade continuar valendo, eu jogo a toalha, não acredito mais no Brasil, no meu país que eu tanto adoro e amo, dou a minha vida por ele, mas realmente é inacreditável. Se isso continuar valendo, eu só tenho um caminho: cuidar da minha vida", emendou.

Bolsonaro, no entanto, não definiu qual seria esse caminho e onde cuidará da sua vida. Se depender de Paulo Gonet e das investigações da Polícia Federal, o rumo mais certo pode ser a prisão. Restará, então, saber se os filhos visitarão o ex-presidente na Papuda.