Em meio à guerra de versões envolvendo um confuso e problemático caso de suposta agressão à esposa, há 13 anos, o prefeito de São Paulo e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) já precisou vir a público algumas vezes para dizer que jamais bateu na companheira, Regina Maia Carnovale, que também falou à imprensa “que não lembra de ter registrado uma queixa por agressão contra o marido”, embora o documento seja de conhecimento público. Só que, desta vez, a situação apresentada está invertida.
A Fórum teve acesso a um BO (boletim de ocorrência), registrado em 14 de março de 2011, no 43° Distrito Policial de São Paulo (Cidade Ademar), em que Ricardo Nunes apresenta uma denúncia contra Regina Maia Carnovale, sua esposa, por supostamente tê-lo agredido. O fato, de acordo com o BO, teria ocorrido num imóvel onde o casal vivia, no bairro Capela do Socorro.
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“Informa a vítima que em virtude de encontrar-se em fase de separação da autora, com a qual vivia maritalmente por contrato durante oito anos, tendo uma filha de sete anos, nesta data, em conversa referente a pensão, veio a autora por agredir a vítima. Foi requisitado exame de corpo de delito para a vítima, a qual foi orientada quanto ao prazo decadencial de seis meses para oferecer representação junto ao 102 DP, área dos fatos. Foi requisitado exame de corpo de delito para a vítima”, diz o texto da ocorrência.
Nunes foi acusado primeiro
O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) foi acusado de agredir Regina Carnovale pouco menos de um mês antes de procurar a Polícia Civil, em 18 de fevereiro de 2011, para denunciá-la por agressão. Em julho deste ano, quando o caso veio à tona, Nunes mentiu abertamente ao dizer que o boletim de ocorrência em que Regina relata que foi agredida por ele é “forjado”.
A mentira foi dita quando o prefeito foi indagado pela jornalista Raquel Landim na sabatina no portal Uol. “É uma irresponsabilidade falar de uma coisa dessas... A Regina disse que ela não fez, ela contratou um advogado, o advogado entrou com petição, veio a resposta delegacia que não existe esse boletim de ocorrência”, afirmou.
Nunes, então, foi confrontado pela jornalista Carolina Linhares da Folha. “Esse boletim de ocorrência existe, prefeito, e nós temos ele aqui e posso ler para o senhor ele na íntegra”, disse a comunicadora.
Tentando esconder o nervosismo, Nunes seguiu mentindo. “Ô, Carol... Eu vou te dar o documento onde a delegada diz que não existe esse documento lá”, respondeu o então pré-candidato.
“Isso é algo que machuca... desrespeita minha mulher”, emendou Nunes, se descontrolando e aumentando o tom.
Em seguida, Raquel Landim indaga “se o boletim de ocorrência é forjado?”, ao que Nunes responde: “É óbvio que é forjado”.
“A Regina falou para a Folha de S.Paulo, em nota assinada de próprio punho, em 15 de outubro de 2020: ‘sobre o boletim, eu estava em um momento difícil, muito sensível e acabei vendo coisas que não são reais’. Ela não disse que não fez o boletim. Ela confirma que fez o boletim... Por que o senhor diz isso agora?”, indagou a jornalista Carolina Linhares.
“Eu não estou dizendo. É ela quem está dizendo”, rebateu Nunes.
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